sexta-feira, 4 de abril de 2014

Óleo de mamona e suas aplicações

Óleo de mamona e suas aplicações

  • A mamoneira, conhecida cientificamente como Ricinus communis, L, é uma xerófila de origem afro-asiática da família das euforbiáceas. classe dicotiledônea, ordem gerianáceas; 
É bastante tolerante a escassez de água e, porém, exigente em calor e luminosidade. Está disseminada em quase todo o Nordeste, cujas condições climáticas são propícias ao seu desenvolvimento e crescimento, nos locais já zoneados pela Embrapa e referendado pelo mapa (EMBRAPA, 2006). 
  • Seu sistema de produção pode ser praticado por pequenos produtores, é intensivo em mão - de obra (gera empregos) e podem ser consórcio e /ou rotação de outras culturas, além de utilizar pouco agrotóxico e adaptar-se perfeitamente as regiões semi-áridas do Nordeste e possível extrair de suas sementes um óleo de características ímpares (FREITAS e FREDO, 2005). 
Os teores de óleo das sementes variam de 35 a 55%, cujo padrão comercial é de 45% (VIEIRA et al., 1998). Conhecido como óleo de rícino e, internacionalmente, como castor oil tem, como maiores produtores mundiais, a Índia e a China, embora o Brasil continue sendo um dos maiores exportadores (SAVY FILHO, 1999). 
  • Hoje, o Brasil se situa em 5º lugar em produção e o segundo exportador mundial, oferecendo como vantagem, um óleo de alta qualidade, tornando o país mais competitivo (CONAB, 2004). 
No mercado internacional, é o segundo óleo vegetal mais bem cotado visto ser superior ao diesel mineral, o seu elevado valor estratégico é reconhecido pelo fato de não haver bons substitutos em muitas de suas aplicações e devido, também, a sua versatilidade industrial; diferencia-se, desta forma, dos demais óleos vegetais em virtude da grande quantidade de hidróxidos que contém especialmente o ácido ricinoléico, com presença, em média, de 90% na sua composição, com três grupos altamente reativos que, juntos, permitem qualidades específicas à produção de uma infinidade de produtos industriais. 
  • Este grupo também confere, a este composto, estabilidade e alta viscosidade, possibilitando ser considerado um dos óleos mais viscosos, quando comparado a outros óleos vegetais (BELTRÃO, 2004).Em variações bruscas de temperatura, não sofre alterações nas suas características, razão do seu imprescindível emprego na aviação (CARVALHO, 1991). 
Solidifica-se em baixas temperaturas, conforme BONJEAN (1991), o óleo de mamona possui baixo ponto de solidificação (-12ºC para -18ºC), estabilidade oxidativa e ainda confere uma propriedade exclusiva de solubilidade em álcool, WEISS (1983), evidenciando, assim, sua importância devido à larga aplicação industrial e energética. Além da inclusão social, no campo energético almeja-se reduzir as importações brasileiras de diesel (FREITAS e FREDO, 2005). 
  • Apesar da importância do óleo da mamona como produto estratégico, há carência de informações teóricas sobre o seu óleo, matéria-prima para vários produtos da indústria química, e na utilização do biodiesel que poderá contribuir para a redução de emissão de poluentes na atmosfera. Tendo em vista a diversidade de aplicação do óleo de mamona, estudos sobre a influência da temperatura na sua estabilidade são de importância fundamental para se prever e definir as propriedades desejadas para produtos derivados. 
A mamoneira: 
(Ricinus communis L):
  • A mamoneira pertence à classe Dicotiledoneae, série Geraniales, família Euforbiácea e espécie (Ricinus communis L) (WEISS, 1983). 
Trata-se de uma xerófila de origem afro-asiática, bastante tolerante à escassez de água porém não suporta excesso de umidade; sendo exigente em calor e luminosidade. Esta cultura industrial é explorada em função do óleo contido em suas sementes, mamona, ou rícino; é o arbusto de cujo fruto se extrai um óleo de excelentes propriedades. 
  • Desde a antiguidade é conhecido por suas propriedades medicinais e como azeite para iluminação atualmente, essa cultura vem despertando interesse comercial, em virtude da elevação do preço do óleo e do desenvolvimento das indústrias de beneficiamento COELHO (1979). 
Existem várias cultivares de mamoneira disponíveis para o plantio em nosso pais, variando em porte, deiscência dos frutos, tipo dos cachos e outras características. Conforme a EMBRAPA, 2004, pesquisa com cultivares começou no Estado de São Paulo em 1937, com trabalhos desenvolvidos pelo IAC. 
  • Com as seleções realizadas, o IAC lançou a cultivar IAC 38, de porte anão, ciclo de 200 dias, em média, nas condições do Estado de São Paulo, com capacidade para produzir até mais de 2,0 t/ha de bagas (sistema de sequeiro), com 41% de óleo nas sementes e de frutos deiscentes. 
O que era, sem dúvida, grande inconveniente para os produtores, pois tinham que processar até quatro colheitas por ano. Esta cultivar foi muito plantada em São Paulo e em Minas Gerais, e então recomendada em 1957. Em 1963, foi lançada pelo IAC a cultivar Campinas, fruto do cruzamento entre a IAC 38 e a Cimarron, sendo precoce, ciclo de 140 a 150 dias nas condições de São Paulo, frutos indeiscentes, produtividade semelhante a da IAC 38 e teor de óleo de 46%. Em 1981, foi lançada a cultivar Guarani, resultado do cruzamento entre os genótipos 
  • Campinas e Preta, após vários ciclos de seleção individual. Trata-se de uma cultivar com porte médio, teor de óleo de 48%, ciclo de 180 dias nas condições de São Paulo, frutos indeiscentes, porém menos que os da cultivar Campinas, apesar de sua produtividade ser superior, em média de 35%, com relação às cultivares IAC 38 e Campinas. 
Em 1988, também no Estado de São Paulo, foi lançada a cultivar IAC 80, recomendada para todas as áreas zoneadas para o cultivo desta oleaginosa no Estado, sendo um material bastante produtivo, com 47% de óleo nas sementes e frutos semi-indeiscentes, com sementes rajadas e pequenas. Depois, foi a vez da cultivar IAC 226, de porte alto, ciclo de 200 dias nas condições de São Paulo, frutos indeiscentes e 48% de óleo nas sementes.
  • No Nordeste, 1974, a EBDA lançou no mercado várias cultivares, em que as principais são: Sipeal 1, Sipeal 9, Sipeal 28 e 12, a de maior destaque foi a Sipeal 28, de porte médio, frutos deiscentes, teor de óleo nas sementes de 47,3% e produtividade média em condições de sequeiro de 1300 kg/ha de bagas. Em 1998 e 1999, 
Para as condições edafoclimáticas do semi-árido nordestino a EMBRAPA lançou as cultivares BRS-149 Nordestina e BRS-188 Paraguaçu. Trata-se de cultivares adaptadas para a cultura familiar no Nordeste, pois apresentam frutos semideiscentes, que não liberam totalmente as sementes após maduros, facilitando a colheita manual. 
  • A cultivar BRS-149 Nordestina, originou-se da linhagem CNPA M. 90-210 que, por sua vez, descende da variedade Baianita, cujas plantas têm altura média de 1,90m, caule de coloração verde, com cera, racemo cônico, frutos semi-deiscentes e sementes de coloração preta. 
O período entre a emergência da plântula e a floração do primeiro racemo, é de 50 dias em média; o peso de 100 sementes é de 68g, o teor de óleo na semente é de 48,90% e a produtividade média, em semente, sem adubação, é de 1.500 kg.ha-1 nas condições semi- áridas do Nordeste, em anos normais, em relação à precipitação pluvial. O ciclo, a partir da emergência das plântulas à última colheita, é de 250 dias em média (EMBRAPA, 1998). 
  • Obteve-se a cultivar BRS -188 Paraguaçu através da seleção massal realizada na variedade local, Sangue de Boi, que originou a linhagem CNPA M. SM, com altura média de 1,60m, caule de coloração roxa, com cera, racemo oval, frutos semi-deiscentes e sementes de coloração preta. 
A floração do primeiro racemo ocorre aos 54 dias, em média, o peso médio de 100 sementes é de 71g, o teor médio de óleo é de 47,7% e a produtividade média, sem adubação, é de 1500 kg.ha-1 , nas condições semi-áridas do Nordeste, em ano de precipitação pluvial normal (EMBRAPA, 1999).

Óleo de mamona:
  • O óleo de mamona é um óleo vegetal, conhecido como óleo de rícino e, internacionalmente, como castor oil; diferencia-se dos demais óleos vegetais pela grande quantidade de hidróxidos que contém, especialmente o do ácido ricinoléico. 
Conforme SAVY FILHO et al., (1999), a presença desse triglicerídeo na sua composição, é de 90%, em média, contendo três grupos altamente reativos, que permitem obter-se grandes números de reações químicas decorrentes da presença do grupo carboxila no carbono 1, uma dupla ligação no carbono 9 e a hidroxila no carbono 12 que, juntas, permitem qualidades específicas à produção de uma infinidade de produtos industriais. 
  • Embora impróprio para consumo humano, sua importância se concentra na ampla aplicação industrial como matéria-prima usada para a fabricação de uma gama de produtos (CHIERICE e CLARO NETO, 2001). 
O grupo hidroxila confere, a esse composto, estabilidade e alta viscosidade, que é permitida em largas faixas de temperatura, explicada pela formação de pontes de hidrogênio intermoleculares (MULLER, 1978); além de solidificarem em baixas temperaturas, possuem também estabilidade oxidativa. O grupo hidroxila também lhe confere propriedade exclusiva de solubilidade em álcool (WEISS, 1983: MOSHKIN, 1986). 
  • Conforme BELTRÃO (2003) é o único glicerídeo feito pela natureza, solúvel em álcool; trata-se, portanto, de um dos mais densos e mais viscosos de todos os óleos vegetais e animais, tendo viscosidade dez vezes maior que o óleo de girassol e outros óleos vegetais.
Os teores de óleo das sementes de mamona variam de 35 a 55%, cujo padrão comercial é de 45% (VIEIRA et al., 1998). Segundo GASPAR e SILVA (1956) o óleo de mamona é classificado, comercialmente, como: óleo industrial número 1 (Padrão), límpido e brilhante com no máximo 1% de acidez; 0,5% de impurezas e umidade, óleo industrial número 3 (Comercial) cuja acidez e impurezas não devem ser maiores que 3 e 1% respectivamente; já o óleo medicinal deve ser totalmente isento de impurezas (FREIRE, 2001). 
  • No processo de extração, o óleo pode ser obtido através de diferentes métodos, extração por solvente ou, ainda, pela prensagem, a frio ou a quente. A extração por prensagem a frio é utilizada para a elaboração do óleo industrial (MACEDO, 2004).
Importância Econômica:
  • A importância do óleo de mamona é evidenciada através da larga aplicação industrial, cujos derivados são sintetizados pela atuação de reações na molécula do grupo hidroxila. O óleo de mamona possui utilização direta na confecção de cosméticos e produtos de toalete (SAVY FILHO, 1999). 
Ressalta-se seu uso também na biomedicina, na elaboração de próteses, com destaque em cirurgias ósseas de mama e de próstata (BDMG, 2000). 
  • Em termos quantitativos, tem-se o maior uso na fabricação de tintas, vernizes, cosméticos e sabões, destacando-se como lubrificantes, devido ao seu poder de permitir a queima sem deixar resíduos nem perder viscosidade, superando os derivados de petróleo, ideal, portanto, para motores de alta rotação (COELHO, 1979). 
Ele tem 30% a mais de lubricidade que os outros óleos, podendo reduzir a emissão de diversos gases causadores do efeito estufa, a exemplo do gás carbônico e enxofre, conclui-se, este, tratar-se de um óleo especial e com mercado garantido no mundo moderno (BELTRÃO, 2003); 
como aditivo colocado nos tanques de aviões e foguetes, permite impedir que o querosene se congele em vôos de 5000 metros sempre que a temperatura desça a 50º abaixo de zero (CARVALHO, 1991). 
Segundo FORNAZIERI JUNIOR, 1986, sua superioridade é conseqüência da alta resistência ao escoamento e de sua forte viscosidade, que se conjugam na formação da película envolvente e isoladora do contato direto da superfície do equipamento em que é usado.
Reconhecido como o petróleo verde, o óleo de mamona pode ser utilizado como fonte energética renovável, em substituição ao óleo diesel e, com base em pesquisas de desenvolvimento de novas tecnologias, o óleo é considerado, também, matéria-prima do futuro, já que a mamona é uma planta adaptada ao solo brasileiro podendo ser cultivada em qualquer parte do País (CHIERICE e CLARO NETO, 2001); 
porém, sua utilização mais atual é na obtenção do biodiesel, visto ser o único óleo solúvel em álcool e não necessitar de calor e do conseqüente gasto de energia, que requerem outros óleos vegetais em sua transformação para o combustível.

A mamona

Situação mundial:
Produção e consumo:
  • A Índia e a China são os maiores produtores mundiais de óleo de mamona, embora o Brasil continue sendo um dos maiores exportadores (SAVY FILHO, 1999). 
Nos anos 80 e 90, a produção interna de óleo, sofreu decréscimo, mostrando a decadência da cultura da mamona neste período, que provocou a redução da renda bruta dos produtores rurais. 
  • A partir de lançamentos de programas governamentais que visam incentivar e aperfeiçoar a produção do biodiesel no País nos últimos anos, a produção de mamona apresenta sinais de recuperação constatando-se, através da safra 2004, uma extraordinária recuperação da produção nacional em relação aos últimos 10 anos, o Brasil se situa no 5º lugar em produção oferecendo, como vantagem, um óleo de alta qualidade, tornando o País mais competitivo (CONAB, 2004), importando o diesel mineral na forma de petróleo e já pronto, cerca de 30% do diesel que consome hoje são equivalentes a mais de 10 bilhões de litros por ano e isto custa muito caro com evasão de divisas. 
Poder-se-ia produzir esses 25% como óleo da mamona no semi-árido brasileiro, nos nove estados do nordeste e no norte de Minas Gerais, gerando ocupação para mais de 2,5 milhões de pessoas (BELTRÃO, 2003); 
portanto, a cultura interna da mamoneira, poderá ser revitalizada pelo uso do óleo extraído de suas sementes como matéria - prima principal, no programa brasileiro de Biodiesel que se pode tornar, de forma gradativa e satisfatória, um substituto do óleo derivado de petróleo. 
Ressalta-se que o Biodiesel oriundo do óleo extraído das sementes da mamona possui maior ação lubrificante e promove maior vida útil dos motores em geral, quando comparado àqueles oriundos de outros óleos de origem vegetal.
  • O Brasil é o segundo exportador mundial de óleo de mamona, porém seu consumo interno é relativamente pequeno, ou seja, entre 10 e 15 mil toneladas/ano, gerando um excedente exportável de 45 a 50 mil toneladas por ano, volume aproximado em nível de exportação de 1990, que foi de 43 mil toneladas, atendendo a qualidade exigida pelo mercado internacional, que é de, no mínimo, óleo tipo industrial 1 (CONAB, 2004).
Biodiesel:
  • É um combustível renovável biodegradável e ambientalmente correto, sucedâneo ao óleo diesel mineral, constituído de uma mistura de ésteres metílicos ou etílicos de ácidos graxos, obtidos da reação de transesterificação de qualquer triglicerídeo comum álcool de cadeia curta, metanol ou etanol, respectivamente. A reação de transesterificação é a etapa da conversão, propriamente do óleo ou gordura, em ésteres metílicos ou etílicos de ácidos graxos, que constitui o biodiesel (PARENTE, 2003).
Do ponto de vista ambiental e fundamental para a redução das emissões de poluentes, contribuindo para diminuir a incidência de doenças respiratórias provocadas pelos combustíveis fósseis, como também o acumulo de gases responsáveis pelo efeito estufa na atmosfera (ALVES e CARVALHO, 2004).
  • De acordo com o National Biodiesel Board - NBB, órgão responsável pela implementação do Biodiesel nos Estados Unidos, o Brasil tem condições de liderar a produção de Biodiesel, promovendo a substituição de pelo menos 60% da demanda atual de óleo diesel mineral (CARBONO BRASIL, 2005).
Produção e perspectivas do biodiesel de mamona:
  • No que se refere ao seu potencial para a produção de biodiesel, a mamona é considerada como excelente devido ao seu alto teor de óleo, de 48% a 50% (CARNEIRO, 2003).
O óleo de mamona quando se trata da produção de biodiesel apresenta a vantagem de ser o único óleo solúvel em álcool e não necessitar de calor e do conseqüente gasto de energia que requerem outros óleos vegetais em sua transformação para o combustível.
  • Além disso, as plantações de oleaginosas, como é ocaso da mamona, servem de cobertura do solo, protegendo contra a erosão (ALVES e CARVALHO, 2004).
Importância da qualidade do óleo de mamona:
  • Estudos mostram que a lubricidade do biodiesel de mamona é a maior, entre os produzidos a partir de outras matérias primas (PARENTE, 2003). 
Também funciona como uma espécie de “Vela Química” tendo mais oxigênio, cerca de 4%a mais do que os demais óleos, que apresentam, quando transesterificados, média de 11,5% de oxigênio (BELTRÃO, 2003).

Características físico - químicas:
Teor de água:
  • É a quantidade de água não combinada na amostra, pois a existência de uma porcentagem mínima de água, caracteriza-o como um produto de melhor qualidade com maior durabilidade (VIEIRA,1994). Está relacionada com coma estabilidade, qualidade e composição (CECHI, 2003).
Conforme SANTOS et al, 2001, o óleo de mamona pode ser classificado como óleo do industrial do tipo 1 quando apresentar 0,5% de umidade.

Índice de acidez:
  • É definido como o número de (mg) de hidróxido de potássio necessário para neutralizar os ácidos livres presentes em um grama de óleo ou gordura. RIBEIRO e SERAVALLI (2004), revelam que o estado de conservação do óleo está intimamente relacionado com a natureza e qualidade da matéria-prima, com a qualidade e o grau de pureza do óleo, com o processamento e, principalmente, com as condições de conservação, pois a decomposição dos glicerídeos é acelerada por aquecimento e pela luz, enquanto a rancidez é quase sempre acompanhada da formação de ácido graxo livre.
Segundo ANGELUCCI et al. (1987), o alto teor de acidez de um óleo bruto aumenta a perda da neutralização, sendo também indicador de sementes de baixas qualidades, de manuseio e armazenamento impróprios ou de um processamento insatisfatório.
  • Conforme SANTOS et al. (2001), os óleos com acidez inferior a 1% são classificado como do tipo 1 e quando o óleo apresentar no máximo 2,5% de acidez livre é considerado do tipo 3. Poderá ser expressa também em (ml) de solução normal por cento (V/p) ou em g de ácido oléico por cento (p/p).
A acidez livre de uma gordura decorre da hidrólise parcial dos glicerídeos, razão pela qual não é uma constante ou característica mas, sim, uma variável intimamente relacionada com a natureza e a qualidade da matéria-prima, com a qualidade e o grau de pureza da gordura, com o processamento e com as condições de conservação da gordura (MORETTO e FETT, 1998).

Índice de iodo:
  • É o número de gramas de iodo absorvido por 100g de gordura ou óleo; proporcionam medida do grau de insaturação das gorduras extraídas com éter ou, ainda, medida do grau de insaturação dos ácidos graxos presentes na gordura; assim, uma molécula de triglicerídeos representa a verdadeira insaturação das gorduras ou dos ácidos graxos, quanto às duplas ligações não são conjugadas nem se situam em posições adjacentes à carboxila, pois nesses casos a adição de halogênio é incompleta, ou seja, não é quantitativa. 
Sob determinadas condições, o iodo pode ser quantitativamente introduzido nas duplas ligações dos ácidos graxos insaturados e triglicerídeos, razão por que, quanto maior a insaturação de um ácido graxo, maior será a sua capacidade de absorção de iodo e, conseqüentemente, maior também será o índice (MORETTO e FETT, 1998). 
  • Segundo CECCHI (2003), esta determinação é importante para a classificação de óleos e gorduras e para o controle de alguns processamentos. Para cada óleo existe um intervalo característico do valor do índice de iodo; cujo valor também está relacionado com o método empregado em sua determinação, geralmente pelo método de Hubl, Wijs, que é utilizado em laboratórios oficiais de vários países enquanto o método de Hanus é em laboratórios de indústrias e nas análises para fins comerciais (INSTITUTO ADOLFO LUTZ, 1985).
Índice de saponificação:
  • Conforme RIBEIRO e SERAVALLI (2004), a reação de saponificação pode estabelecer o grau de deteriorização e a estabilidade, verificar se as propriedades dos óleos estão de acordo com as especificações e identificar possíveis fraudes e adulterações.
O índice de saponificação é definido como o número de (mg) de hidróxido de potássio (KOH), necessários para saponificar os ácidos graxos, resultantes da hidrólise de um grama da amostra; é inversamente proporcional ao peso molecular médio dos ácidos graxos dos triglicerídeos presentes é importante para demonstrar a presença de óleos e gorduras de alta proporção de ácidos graxos, de baixo peso molecular, em misturas com outros óleos e gorduras. 
  • Quanto menor o peso molecular do ácido graxo, tanto maior será o índice de saponificação, grosseiramente; para as gorduras vegetais, quanto mais altos os índices de saponificação mais se prestam para fins alimentares (MORETTO e FETT, 1998).
Segundo COSTA e RAMOS (2004), ao estudar o óleo de mamona encontraram uma variação do índice saponificação de 176 – 184 mg KOH/g Segundo o padrão britânico (FREIRE, 2001) o óleo de primeira qualidade deve apresentar um índice de saponificação entre 177 a 187 mg KOH/g. 
  • Conforme CHIERICE (2001), no óleo de mamona se tem uma média de 180mg KOH/g. Visto que muitos óleos possuem esses índices bem semelhantes (188-196); Esta determinação é útil para a verificação do peso molecular médio da gordura e da adulteração por outros óleos com índice de saponificação bem diferentes. Segundo CECCHI (2003), o índice de saponificação não serve para identificar o óleo. 2.7.5 - Índice de peróxidos
Determina, em moles por 1000g de amostra, todas as substâncias que oxidam o iodeto de potássio; devido à sua ação fortemente oxidante, os peróxidos orgânicos formados no início da rancificação, atuam sobre o iodo de potássio, liberando o iodo que será titulado com tiossulfato de sódio em presença de amido, como indicador (MORETTO e FETT, 1998).
  • Conforme CECCHI (2003), este é um dos métodos mais utilizados para medir o estado de oxidação de óleos e gorduras.Segundo MALACRIDA (2003) nos óleos não deve ultrapassar o valor de 10 meq/1000 de amostra. Estes valores indicam uma baixa possibilidade de deterioração oxidativa.
Índice de refração:
  • A determinação desse índice tem grande utilidade no controle dos processos de hidrogenação, não só para os óleos mas, também para as gorduras, cuja temperatura indicada é de 40º C. 
Os óleos e as gorduras possuem poderes de refringência diferentes e, de acordo com sua natureza desviam, com maior ou menor intensidade, os raios luminosos que os atravessam; assim, o índice de refração de uma gordura aumenta com o comprimento da cadeia hidrocarbonada e com o grau de insaturação dos ácidos graxos constituintes dos triglicerídeos (MORETTO e FETT, 1998).
  • O índice de refração de óleos e gorduras é muito usado como critério de qualidade e identidade pois, quando referente a um óleo, este índice aumenta com o índice de iodo e pode ser usado no controle de processos de hidrogenação de óleos insaturados (CECCHI, 2003).
COSTA e RAMOS (2004), ao estudar o índice de refração a 25ºC do óleo de mamona encontraram uma variação do índice, em média de 1,4470 – 1,4780, PONS (2005), encontrou o valor de 1,479.

Aplicações:
  • Conhecem-se aplicações medicinais da mamona desde o antigo Egito. A aplicação mais conhecida é como anti-adstringente. Uma dose típica contém entre 10 e 30 mL de azeite de rícino. Deste, as enzimas do intestino liberam o ácido ricinoleico (um ácido carboxílico com 18 átomos de carbono), que é o princípio ativo. A reação se produz após duas ou quatro horas da administração da dose.
O efeito se baseia, em parte, na acumulação de água no intestino e, por outra, na irritação das mucosas que aceleram o esvaziamento do sistema intestinal.Como efeito secundário, inibe-se a assimilação de sódio e água, além das vitaminas lipofílicas do intestino. Em doses elevadas podem ser causadas náuseas, vômitos, cólicas e diarreia aguda.Também se tem descrito a aplicação do azeite de rícino em misturas para induzir o parto.
  • Finalmente, o azeite de rícino é um produto que forma parte da fabricação de plásticos, lacas, pinturas, lubrificantes e cosméticos (é usado inclusive em cosmética para alongar os cílios).
Antigamente se utilizava também como combustível. Atualmente se desenvolve sua aplicação em escala econômica na elaboração de biodiesel (biocombustível).

Ácidos graxos do óleo de rícino:
Composição média do óleo de rícino / cadeias de ácidos graxos
Nome do ácido Faixa de composição média
  • Ácido ricinoleico 85 a 95%
  • Ácido oleico 6 a 2%
  • Ácido linoleico 5 a 1%
  • Ácido linolênico 1 a 0.5%
  • Ácido esteárico 1 a 0.5%
  • Ácido palmítico 1 a 0.5%
  • Ácido dihidroxiesteárico 0.5 a 0.3%
  • Outros 0.5 a 0.2%
Aplicações industriais:
  • Aplicações industriais de derivados do óleo de mamona:
  • Ligação Éster Metilricinoleato Nylon-11  (Fios, Tubos, Indústria Automobilística, Aeronáutica.)
  • Dupla Ligação Óleo Hidrogenado Ceras, lubrificantes, Cosméticos, Plásticos
  • Óleo Oxidado Plastificante, Protetores, Tintas, Adesivos
  • Grupo Hidroxila Óleo Desidratado Secativo
  • Óleo Sulfonado Indústria Têxtil
  • Ácido Sebácico Lubrificantes, Nylon 6-10
  • Óleo Etoxilado Cosméticos, Detergentes, Lubrificantes de Superfície, 
  • Óleo de Corte, Fluido Hidráulico, Ind. Têxtil
  • Poliuretanos Telecomunicações, Materiais Elétricos, Produtos Biomédicos, Filtros Industriais
  • Transesterificação Biodiesel
O ácido ricinoleico:
  • O ácido ricinoleico (ácido 12 - hidroxi-9-cis-octadecenóico) é um ácido graxo ômega 9 que ocorre naturalmente no óleo da mamona. Quimicamente, ele difere do ácido oleico por ter uma hidroxila no décimo segundo carbono (a partir da carboxila). O ácido ricinoleico é fabricado industrialmente por saponificação ou destilação fracionada de óleo de mamona hidrolizado.
Poliuretano de óleo de mamona:
  • Os traumatismos de tendões são problemas ortopédicos relativamente freqüentes, especialmente em animais de corrida como cavalos e cães da raça Greyhound. 
Outras lesões tendinosas importantes envolvem a secção parcial ou total por objetos cortantes ou lacerações associadas a acidentes automobilísticos. A secção do tendão calcâneo comum ou dos flexores digitais leva a alteração postural grave que poderá ser de difícil correção, não sendo incomum nas espécies canina (Vaughan, 1980; Bonneau et al., 1983), eqüina (Goodship, 1993) e humana (Nystrom & Holmlund, 1983). 
  • A substituição do tendão torna-se necessária especialmente quando há perda de parte do tecido e, nesses casos, o enxerto ou a prótese fornecem suporte e orientação para a migração de células e formação de fibras (Valdés-Vásquez et al., 1996). 
Ocasionalmente tendões devem ser alongados ou encurtados devido a defeito de conformação, desenvolvimento inadequado ou por complicações de tratamentos de feridas que envolvem essas estruturas (Clark, 1993). 
  • Os vários métodos de tratamento de lesões tendinosas refletem a necessidade de uma técnica que permita o retorno morfológico e funcional do tendão (Goodship et al., 1985). 
Na tentativa de contornar problemas diversos como antigenicidade, estocagem e disponibilidade de implantes, têm-se desenvolvido os chamados biomateriais para substituição de tecidos. Nas duas últimas décadas a pesquisa de biopolímeros tem se intensificado, sendo grande a contribuição nas áreas de implantes cardiovalvulares, odontológicos, ópticos e neurocirúrgicos (Ohara et al., 1995).
  • O desenvolvimento dos polímeros como biomateriais tem contribuído para o sucesso de implantes nos tecidos moles, pois além da biocompatibilidade podem ser confeccionados sob medida, adaptando-se às propriedades dos tecidos. 
Adicionalmente, os polímeros podem ter forma física variada, como líquida para preencher espaço, fibra para materiais de sutura, filme (cateter inflável) e sólida para aplicações cosmética e mecânica (Park & Lakes, 1992). 
  • A descoberta de novos polímeros e copolímeros tem contribuído significativamente para a evolução do campo dos biomateriais. Em 1984, o grupo de química analítica e tecnologia de polímeros do Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo desenvolveu um novo poliol derivado do óleo da mamona (Ignácio, 1995). 
A mamona (Ricinus communis) da classe dicotiledônea, origem Geraniácea, família Euforbaceaes, é uma planta característica de clima tropical, possui grande potencial oleoquímico, podendo garantir o fornecimento de polióis e pré-polímeros a partir de ácidos graxos (Ohara et al., 1995). Essas características levaram os pesquisadores a investigarem a viabilidade do emprego desses polímeros na área biológica.
  • Estudos da biocompatibilidade de polímeros de poliuretano derivados do óleo da mamona revelam um produto biocompatível, atóxico e com baixíssima hidrofilia, que permite inclusive a regeneração e incorporação de tecidos orgânicos. 
Esse poliuretano possui fórmula molecular que além de biocompatibilidade apresenta aspectos favoráveis quanto à processabilidade, flexibilidade de formulação, versatilidade de temperatura de curva e controle de pico exotérmico na transição líquido-gel, possui excelentes propriedades estruturais, não emite vapores tóxicos, tem bom poder de adesão, não libera radicais tóxicos quando implantado e é de baixo custo (Ignácio, 1995). 
  • As vantagens apresentadas pelos polímeros de poliuretano possibilitam ampla variedade de aplicações médicas, destacando-se principalmente suas texturas variáveis, desde as mais flexíveis, como a dos elastômeros, até as mais rígidas, como a dos cimentos ósseos (Viana, 1997). 
Este trabalho teve por objetivo avaliar o emprego da prótese de poliuretano, derivado do óleo de mamona, como substituto de tendão, na correção de secção parcial do tendão calcâneo comum de coelho.

Óleo de mamona e suas aplicações