segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Análise de Risco do Tratamento para Reúso de Água

Análise de Risco do Tratamento para Reúso de Água 

  • A implantação de qualquer sistema de reúso de água pressupõe a garantia da segurança da saúde dos usuários. Por este motivo, deve-se sempre avaliar os riscos associados. 
Borges (2003) apresenta os tipos de riscos associados à saúde dos usuários, quais sejam:
  • Tecnológicos: caracteriza situações acidentais e efeitos imediatos à saúde humana;
  • Ambientais: são causados por ações relacionadas diretamente com a poluição
  • ambiental e a exposição a produtos químicos tóxicos os quais levam a efeitos crônicos;
  • Naturais: causados por fenômenos naturais, cujo efeito pode ser imediato ou de longo prazo.
Os riscos relacionados aos sistemas de reúso estão associados a presença de compostos a base de matéria orgânica, nitrogênio, enxofre, metais pesados e principalmente aqueles causados por microrganismos patogênicos (GONÇALVES, R. F. et al., 2006).
  • Por este motivo, os modelos de avaliação de riscos para reúso de água para fins não potáveis são baseados nos parâmetros microbiológicos. Com isto, estes parâmetros são os mais restritivos de todas as legislações pesquisadas. 
O Anexo E apresentam parâmetros de concentração dos microrganismos patogênicos, bem como, o tempo de sobrevivência. Bazzarella (2005) apresenta duas formas de avaliação dos riscos relacionados à saúde, quais são:
  • Avaliação quantitativa de risco (AQR): é utilizada quando a contagem de patógenos, a exposição da população e os dados de dose infecciosa são conhecidos. Esta avaliação permite o cálculo teórico de riscos extremamente baixos que a comunidade está exposta com a prática do reúso.
  • Riscos imputáveis (RI): consideram cadeias epidemiológicas, fatores físicos e sociais que afetam a probabilidade de desenvolvimento de doenças como resultado à exposição à água de reúso.
A transmissão de doenças associadas com a contaminação de sistemas de reúso de água devem ser investigadas mesmo quando estes sistemas incluem a desinfecção como tratamento final.
  • Os estudos de exposição da população relacionados a reúso de água não potável devem ser limitados em função de aspectos como: mobilidade e tamanho da população e dificuldade em determinar o nível de exposição de cada usuário (ASANO, 1998). 
O referido autor recomenda estudos por um período de 15 anos entre a primeira exposição e doenças relacionadas com câncer, após a implantação de sistemas de reúso para fins não potáveis.
  • A avaliação de riscos microbiológicos relacionados com a baixa exposição com patógenos devem levar em consideração modelos analíticos para estimar a intensidade de exposição humana e a probabilidade de resposta com a exposição. 
Asano (1998) apresenta quatro passos para avaliação do risco microbiológico, que são: identificação do risco, identificação da resposta à dose, avaliação da exposição e caracterização do risco.A análise do risco exige severas suposições como: dose mínima de infecção dos patógenos selecionados, quantidade de água de reúso ou ingestão de patógenos

Experiências Existentes:
  • Algumas experiências de aplicações de reúso agrícola e em irrigação de jardins estão disponíveis em muitas partes do mundo, com um número crescente de projetos direcionados ao reúso para propósitos recreativos e residenciais.
Experiências no Japão:
  • Segundo Asano et al. (1996), as práticas de reúso e recuperação de água no Japão tiveram início em 1951, com um trabalho experimental para abastecimento industrial. 
O uso do efluente tratado foi a opção escolhida porque a qualidade da água do rio estava deteriorada, tornado-se inviável para uso. O uso de água subterrânea também não era economicamente viável, devido ao bombeamento excessivo pelas indústrias, causando intrusão de água salgada e rebaixamento do lençol freático.
  • No Japão, a maior parte da água residuária recuperada em edificações é utilizada para descarga em bacias sanitárias, sendo o restante aplicado em sistemas de aquecimento, lagos e fontes artificiais, limpeza de piso e abastecimento de hidrantes (SOARES et al., 1997).
Segundo Sewage Works Engineering (2001), existem cerca de 800 Estações de Tratamento de Esgoto (ETE) no Japão, que descarregam aproximadamente 10 bilhões de m³ de efluentes por ano, sendo que 85 delas utilizam o esgoto para os fins de reúso já mencionados anteriormente. 
  • Em 1990, o comitê de tratamento avançado de esgoto propôs um novo padrão de qualidade de água de reúso para usos recreacionais.
Asano et al. (1996) citam dois exemplos de reúso e recuperação de esgoto em Tóquio e Fukuoka, as quais são comentados a seguir. 
  • Devido à alta concentração populacional e atividades empresariais no limitado espaço de Tóquio, procurou-se inicialmente uma solução para transportar água de bacias distantes, o que se verificou não ser viável economicamente. 
  • Para solucionar o problema, foram implantados programas de conservação de água, cuja implementação foi facilitada por um aumento na estrutura tarifária nas cobranças de água e esgoto, aumentando a tarifa de água significativamente com o aumento do consumo.
  • Para promover a recuperação e reúso de esgoto, foi exigido que os edifícios novos possuíssem sistemas duplos de abastecimento de água. 
A média do consumo de água, para alguns edifícios comerciais em Tóquio, era de 10 L/m² por dia, sendo o maior uso nas descargas de bacias sanitárias, ou seja, cerca de 40% do consumo total dos grandes edifícios.
  • Em Tóquio, a água de reúso é utilizada na lavagem de trens, em indústrias, na descarga de bacias sanitárias, em estações de incineração de lixos, entre outros 
Já na cidade de Fukuoka, a Assembléia Municipal apresentou o plano de conservação de água, em fevereiro de 1979, procurando garantir um abastecimento estável de água para o futuro, o qual consistiu em:
  • Promover a conservação de água em aparelhos sanitários, tais como as bacias sanitárias (redução do volume de 13-15L para 8-10 L/descarga); válvulas e reguladores;
  • Prevenir e/ou reduzir perdas e vazamentos nas tubulações de distribuição;
  • Aplicar o reúso para descarga de bacias sanitárias e rega de jardins e
  • Conscientizar e educar o público para a conservação de água.
Destas ações, o reúso de água vem se tornando uma importante opção para a cidade, fornecendo uma nova fonte de abastecimento de água.
  • Em Junho de 1980, doze edifícios públicos foram abastecidos com água recuperada, com um volume de 400 m³/dia para descargas de bacias sanitárias. Seguindo o sucesso do projeto inicial, a linha de abastecimento foi estendida para incluir vários edifícios grandes, públicos e privados. 
O volume aumentou para 4.500 m³/dia em agosto de 1995, sendo que a meta era atingir 8.000 m³/dia. O sucesso da implementação do reúso nas cidades japonesa teve a alta qualidade da água recuperada como fator chave na aceitação pública.

Experiências nos Estados unidos:
  • Para a Environmental Protection Agency (EPA), dos Estados Unidos, os fatores chave no estabelecimento de água recuperada e critérios de reúso incluem proteção à saúde, políticas públicas, experiências passadas com reúso e economias. 
Enquanto não se tinham registros de surtos de doenças resultantes do uso de esgoto recuperado nos Estados Unidos, verificavam-se conseqüências desfavoráveis na saúde das pessoas, associadas com o reúso natural ou esgotos tratados inadequadamente em outros países. 
  • Os padrões e diretrizes existentes são dirigidos principalmente à proteção da saúde pública e, baseados, geralmente, no controle de organismos patogênicos. Padrões e diretrizes para reúso potável indireto também se referem aos constituintes químicos (CROOK, et al., 1994). 
Segundo os referidos autores, existem questões específicas relatadas nos regulamentos e diretrizes de reúso e esgoto recuperado, tais como:
  • Inclusão de processo de tratamentos exigidos nas normas;
  • Necessidade de monitorar vírus e parasitas;
  • Determinação do organismo indicador;
  • Seleção de parâmetros de qualidade da água recuperada para serem monitorados;
  • Limites dos parâmetros e freqüência de amostragem;
  • Investigação do valor epidemiológico;
  • Avaliação dos modelos de riscos de uso para determinar os riscos de saúde e como uma ferramenta determina os requisitos apropriados de qualidade da água para reúso não potável; e
  • Aceitação dos riscos de saúde e reúso potável.
Os parâmetros físicos (pH, cor, temperatura e matéria particulada) e os constituintes químicos (cloro, sódio e metais pesados) são limites recomendados. Os riscos de saúde associados com os agentes microbiológicos são mais difíceis de avaliar. Isto é refletido largamente nas diferentes exigências da água recuperada e diretrizes entre os estados.
  • Nenhum estado tem regulamentações que protegem todo os usos potenciais de água recuperada, mas os estados tem amplas e severas regulamentações ou diretrizes que determinam os requisitos para uma larga faixa dos usos finais do reúso. 
Alguns estados têm regulamentações ou diretrizes que focalizam tratamento do efluente através do solo, enfatizando tratamento adicional ou disposição do efluente, podendo ser usado em irrigação agrícola, campos de golfe ou áreas de acesso público. 
  • A ausência de critérios estaduais para aplicações de reúsos específicos não necessariamente proíbem estas aplicações, pois muitos estados avaliam os tipos específicos de uso isoladamente.
Segundo a Environmental Protection Agency (2004), vinte e cinco estados americanos possuíam alguma forma de regulamentação de reúso, dezesseis possuíam apenas diretrizes e nove não possuíam nada nesse sentido.As regulamentações existentes dividem o reúso em:
  • Urbano irrestrito – irrigação de áreas cujo acesso público não é restritivo, como parques, playgrounds, escolas, jardins, residências, área externa de edifícios comerciais, descarga de bacias sanitárias, sistema de ar condicionado, combate à incêndio, lavagem de veículos, construção, fontes ornamentais e estética ambiental;
  • Urbano restrito – irrigação de áreas cujo acesso público pode ser controlado, como campo de golfes, cemitérios e rodovias médias. Em alguns estados, a irrigação de campos de golfe é colocado na categoria de reúso irrestrito. 3. agrícola em alimentos comestíveis – irrigação de alimentos comestíveis que são destinados para consumo humano diretamente como árvores frutíferas e cereais;
  • Agrícola de alimentos não comestíveis – irrigação de forragens, pastos, fibras, sementes, viveiros e gramas;
  • Recreacional irrestrito – onde as atividades recreacionais tem contato com a água;
  • Recreacional restrito – onde as atividade recreacionais não tem contato com a água como pesca, velejamento;
  • Ambiental – usado para criar wetlands artificial, realçar wetlands naturais e manter as vazões dos rios;
  • Industrial – usado em instalações industriais, principalmente em torres de resfriamento, caldeiras e processos;
  • Recarga água subterrânea – usado para recarga de aqüíferos;
  • Reúso potável indireto – descarga intencional de efluente tratado em águas superficiais ou subterrâneas, os quais serão usados como fontes de água potável.
A seguir são apresentados os estados americanos que possuem regulamentações ou diretrizes relativas ao reúso de água, segundo Environmental Protection Agency (2004).
  • Regulamentações: Alaska, Arizona, Califórnia, Colorado, Delaware, Flórida, Idaho, Ilhinois, Indiana, Iowa, Michigan, Missouri, Montana, Nebraska, Nevada, Carolina do Norte, Oklahoma, Oregon, Carolina do Sul, Tenessee, Texas, Utah, Vermont, Oeste da Virgínia, Wisconsin e Wyoming; 
  • Diretrizes: Alabama, Arkansas, Georgia, Hawaii, Kansas, Maryland, Massachusetts, New Jersey, Novo México, Nova York, Dakota do Norte, Ohio, Pensilvânia, Dakota do Sul e Washington. 
  • Os seguintes estados americanos não possuíam uma regulamentação específica, mas sim algum caso isolado: Connecticut, Kentucky, Louisiana, Maine, Minnesota, Mississípi, New Hampshire, Rhode Island e Virginia
Alguns estados americanos fazem mais exigências para tratamentos e qualidades da água, conforme o tipo de reúso, bem como, os tratamentos para reúso urbano restrito e irrestrito, reúso recreacional restrito e irrestrito e reúso potável indireto. 
  • O reúso urbano irrestrito envolve usos de águas onde a exposição do público é provável, por isso, necessita-se de alto grau de tratamento.Em geral, todos os estados que utilizam este tipo de reúso exigem tratamento secundário e prévia desinfecção. Porém, a maioria dos estados exige tratamentos adicionais como oxidação, coagulação e filtração.
Nenhum estado apresenta limites seguro de patógenos, entretanto o estado da Florida exige monitoramento de Giárdia e Crysptosporidium com amostragem freqüente baseados na capacidade de tratamento da planta. O reúso urbano restrito envolve o uso de efluentes tratados onde a exposição do público é controlada.
  • A maioria dos estados exigem tratamento secundário ou biológico seguida de prévia desinfecção. O estado da Flórida exige tratamento adicional com filtração e coagulação. Já o Texas não especifica o tipo de tratamento, limitando apenas os parâmetros.
Assim como no reúso urbano irrestrito, os estados não apresentam limites seguro de patógenos, sendo somente o estado da Florida a exigir monitoramento de Giárdia e Crysptosporidium.
  • O reúso recreacional irrestrito envolve o uso de efluentes tratados, pois são águas onde a exposição do público é provável, por isso, necessita-se de alto grau de tratamento. Somente quatro dos sete estados citados apresentam regulamentação ou diretriz pertinentes ao reúso recreacional irrestrito.
Nenhum dos estados apresenta limites seguro de patógenos para este tipo de reúso. O reúso recreacional restrito envolve o uso de efluentes tratados onde a exposição do público é controlada.
  • Somente um dos estados citados não apresenta regulamentação pertinente. A maioria dos estados exige apenas tratamento secundário com desinfecção. E o Texas é o único estado que não especifica tratamento.
O reúso potável indireto envolve o uso de efluente tratado para recarga de águas superficiais, os quais serão utilizados para abastecimento público ou recarga de aqüífero. Para este tipo de reúso, os estados da Flórida e Washington também monitoram os seguintes parâmetros: 
  • Nitrogênio Total: ambos os estados limitam este parâmetro em 10 mg/L; 
  • Carbono orgânico Total: o estado da Flórida limita ao máximo de 5 mg/L e Washington limita em 1 mg/L. 
Os requisitos de qualidade e tratamento da água recebem uma maior atenção nas regulamentações estaduais. Os estados que têm regulamentações ou diretrizes de reúso de água têm padrões limites para qualidade da água e/ou exigências de tratamento mínimo. Os parâmetros mais comuns para os quais os limites de qualidade da água são impostos são DBO, turbidez, SST, coliformes totais e fecais, tempo de contato do cloro e cloro residual.
  • Critérios de reúso e água recuperada tendem a se tornar mais completos e, em alguns casos, mais conservadores com o aumento do número de projetos de reúso nos estados. Uma maior atenção é dada para propiciar o controle adequado para garantir que a saúde pública não seja comprometida.
Em 2004, a USEPA publicou um documento entitulado “Diretrizes para reúso de água” (Guidelines for water reuse) com dados técnicos significativos. As diretrizes incluem recomendações de processos de tratamento de esgoto, limites de qualidade da água recuperada, frequências de monitoramento, distâncias e recuos, e outros controles para várias aplicações de reúso de água.
  • Tanto o tratamento de esgoto como os limites de qualidade da água recuperada são recomendados pelos seguintes motivos: critérios de qualidade de água envolvendo parâmetros que não estão caracterizados adequadamente para qualidade da água recuperada; combinação de tratamento e qualidade conhecidos e exigidos para produzir água recuperada de qualidade aceitável, eliminando a necessidade de monitorar a água final para certos constituintes; custos; freqüência de uso; e em alguns casos, monitoramento para micro-organismos patogênicos para não comprometer a proteção da saúde; e necessidade de tratamento confiável.
As diretrizes da USEPA forneceram informações gerais e específicas, como tratamento e requisitos de qualidade da água, para reúso potável indireto. Como a USEPA não recomendava o reúso potável direto, suas diretrizes não apresentavam nenhuma informação para tal uso.
  • O primeiro sistema duplo de distribuição dos Estados Unidos, usando esgoto para abastecimento não potável, foi construído em 1926, no povoado de Grand Canyon.
Apesar de ter sido um caso especial, o sistema foi um sucesso, necessitando ser ampliado muitas vezes devido ao crescimento populacional do povoado (CROOK et al., 1994).
  • Este sistema foi ampliado em 1989 utilizando tratamento secundário seguido de filtração e é utilizado para rega de jardins, descarga de bacias sanitária em acomodações turísticas, caldeiras para abastecer locomotivas a vapor, irrigação de campos escolares, lavagem de veículos e outros propósitos não potáveis. 
Conforme Environmental Protection Agency (1992a), a cidade de Saint Petersburg, EUA, é reconhecida como sendo a pioneira em reúso de água urbana. Para interromper as descargas de efluentes na Baía de Tampa, foi adotado, em 1977, uma política de "descarga zero" na cidade e, em 1978, começou a ser distribuída água recuperada par usos não potáveis nessa cidade, através de um sistema duplo de distribuição. 
  • O autor ressalta que, naquela época, Saint Petersburg operava um dos maiores sistemas de reúso urbano do mundo, abastecendo águas cinzas para mais de 7.000 residências e edifícios comerciais.
Segundo Whitney e Bennett (1999), a cidade de Santa Barbara, EUA, utilizou a água residuária como plano de emergência para garantir a demanda no período de estiagem. 
  • As águas coletadas dos chuveiros, torneiras e máquinas de lavar roupa eram utilizadas para a irrigação de jardins. O sistema, de modo geral, teve uma grande receptividade dos usuários, bem como auxiliou os órgãos na regulamentação de legislação de reúso de água.
Segundo Crook e Surampalli (1996), na Califórnia e Flórida, onde o reúso de água é bem estabelecido e reconhecido, as leis e regulamentações existentes encontram-se sob certas condições, que são: a fonte de águas recuperadas deve estar disponível e ser adequada; ser fornecida para o usuário a um custo razoável e ter o consentimento do departamento de saúde afirmando que a água não será prejudicial.

Para especialista, reúso de água de esgoto minimizaria 
crise hídrica em São Paulo

Experiências: 
Na Suíça, Canadá, Inglaterra e Malásia:
  • Conforme Crettaz et al. (1999), a Suíça também utiliza sistemas de águas pluviais e residuárias como alternativas para a redução do consumo de água em descargas de bacias sanitárias. 
As vantagens e desvantagens deste sistema estão sendo observadas para auxiliar na elaboração de legislações de reúso de água em sistemas hidráulicos prediais.
  • Segundo Soroczan (1998), reúso de água era uma prática comum na indústria canadense, não sendo, porém muito estendido ao setor agrícola. No setor residencial, por sua vez, este conceito ainda não era muito utilizado. Vários projetos estão sendo executados para reutilizar águas residuárias das máquinas de lavar roupas e chuveiros.
Na Inglaterra, os estudos realizados abordavam os seguintes aspectos: redução de tarifadas associadas a economia no consumo de água; aceitação dos usuários para os sistemas de reúso de água em suas residências e principalmente a necessidade da qualidade da água de reúso em atividades que não fossem para o consumo humano, com o objetivo de não colocar em risco a saúde dos usuários (HOWARTH e SAYERS, 1999).
  • Em algumas circunstâncias, há diferentes possibilidades para o uso de fontes alternativas. A cidade de Majuro, na Malásia, é um bom exemplo disso. A pista de decolagem do aeroporto desta cidade é usada como armazenagem de água pluvial. 
O suprimento é de aproximadamente 75% do abastecimento público de água, sendo esta filtrada e tratada antes de chegar no sistema de abastecimento público (EXPERT GROUP MEETING, 1999).

Experiência na Itália:
  • Com a dificuldade de atender a demanda de água com recursos convencionais (água superficial e subterrânea), a Itália encontrou nas fontes não convencionais um recurso indispensável (BARBAGALLO, CIRELLI e INDELICATO, 2001). 
Desde os anos 70, os estudos de planejamento da água têm sido levados para várias regiões da Itália, incluindo Sicília, Calábria e Emilia Romagna. 
  • Alguns desses projetos tiveram objetivos suspensos, devido à necessidade de obras relevantes, custos elevados de construção e previsão otimista de aproveitamento de esgotos. 
Neste país, o esgoto municipal é potencialmente o mais utilizado, devido aos seguintes fatores:
  • Confiabilidade no fornecimento (somente sendo influenciável pela seca); 
  • Sua distribuição (nas áreas de interior, eles são freqüentemente 
  • disponíveis próximo às regiões agrícolas); 
  • Sua composição (compostos tóxicos e concentrações de sais são geralmente toleráveis em várias áreas e produtos agrícolas); e, 
  • Propagação de plantas de tratamento (impostos pelas regulamentações de disposição de efluentes).
O reúso de água é permitido somente na forma de descarga no solo para agricultura, tendo em vista um aumento na produção agrícola, respeitando as restrições impostas na qualidade da água fornecida.Esta exigência é feita para que os impactos ambientais do sistema de reúso sejam avaliados. Em particular, é feito um monitoramento das características qualitativas do esgoto.
  • Apesar da lei não permitir o reúso para outros fins que não seja o agrícola, tem-se discutido bastante a utilização de esgotos para fins públicos, devido a grande quantidade de estações de tratamento. Em algumas cidades, permite-se que esta água seja utilizada para proteção ambiental e combate à incêndio.
Experiência na Austrália:
  • Devido o aumento populacional e preocupação com a conservação dos recursos hídricos, as autoridades australianas permitiram o reúso de águas cinzas para descarga de bacias sanitárias e irrigação de jardins e gramados, por acreditarem na redução do potencial de água potável para estes fins (JEPPESEN, 1995).
O referido autor esclarece que, em uma avaliação preliminar, a diferença entre águas cinzas e águas negras não é correta, uma vez que as águas cinzas também apresentam uma alta concentração de bactérias fecais indicadoras. Para irrigação de jardins e gramados, a separação de águas cinzas do contato humano foi obtido através de irrigação subterrânea e restrita para áreas não habitadas.
  • Como a descarga em bacias sanitárias não pode ser totalmente separada do contato humano, acarretando em riscos de saúde, surgiu a preocupação com a inadequação ou qualidade inferior na manutenção no sistema de tratamento doméstico local, devido o crescimento de microrganismos na água da caixa acoplada e no fecho hídrico da bacia, sendo necessário um alto grau de tratamento para obter águas cinzas livres de patógenos.
A partir deste estudo, tiveram início as discussões das diretrizes e regulamentações sobre reúso de água naquele país.

Experiência na França:
  • Segundo Faby, Brissaud e Bountox (1999), os regulamentos sobre reúso de água na França começaram a ser elaborados em 1989 pelo Ministério da Saúde, sendo as diretrizes publicadas em 1991.
Em 1992, a Lei francesa exigia que cada cidade definisse as zonas servidas pelo reúso de água, como era feito o tratamento, a reservação e a disposição. Em 1994, foi estabelecido em um decreto que efluentes tratados poderiam ser usados para fins agrícolas, porém somente se os sistemas já estivessem funcionando e sem oferecer nenhum risco ambiental e de saúde pública.
  • Com a idéia de que o reúso era uma alternativa viável para disposição de efluentes tratados, esta prática foi incentivada em 1995, exigindo-se o tratamento terciário para estes efluentes e seguindo-se as categorias estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
A implantação do sistema de reúso também deveria seguir os critérios estabelecidos pelo Ministério de Agricultura Francês, quais sejam: o contato direto teria que ser reduzido tanto para irrigação de áreas agrícolas como para áreas públicas; os chuveiros automáticos utilizados para irrigação deveriam estar a mais de 100 m de residências e áreas esportivas e recreacionais e áreas de acesso público deveriam ser irrigadas com gotejamento subterrâneo. 
  • Os tratamentos exigidos pelo governo francês para sistemas de reúso também deveriam seguir as recomendações da OMS, sendo obrigatório o uso de tecnologias de desinfecção.
Experiência no Brasil:
  • Santos e Zabrocki (2003) caracterizaram as águas cinzas de chuveiros e lavatórios de 30 edifícios residenciais, localizados na cidade de Curitiba.
Os autores recomendam a remoção da matéria orgânica, ocasionado pela DBO e remoção de sólidos suspensos gerados pela elevada Turbidez e altas concentrações de coliformes total e fecal, e consequentemente, recomenda-se a desinfecção. 
  • Fiori, Fernandes e Pizzo (2004) coletaram amostras de águas cinzas originadas em lavatórios e chuveiros de um complexo esportivo universitário, localizado no campus II da Universidade de Passo Fundo no Rio Grande do Sul, com o objetivo de caracterizar o efluente para futuras utilizações nas descargas de bacias sanitárias, reposição da piscina, fins de higienização de ambientes e irrigação. 
Fiori, Fernandes e Pizzo (2004) selecionaram um edifício residencial para caracterizar águas cinzas originadas nos banheiros. Inicialmente foi feita uma classificação dos nove apartamentos em estudo, resultando na seguinte divisão: 
  • Amostra 1 – apartamentos com crianças; 
  • Amostra 2 – apartamentos com animais; e 
  • Amostra 3 – apartamentos sem crianças e sem animais. 
A coleta foi realizada no meio e no fim do banho de cada usuário, através de um dispositivo inserido na caixa sifonada. 
  • Os autores verificaram também a presença de E. coli nas três amostras. Para o complexo esportivo verifica-se que não houve variação em nenhum parâmetro apresentado. Para o edifício residencial verifica-se, tanto para os apartamentos com e sem crianças: 
Alto teor de matéria orgânica representado pela DBO, o que pode gerar sabor e odor; elevado teor de surfactantes o que ocasiona formação de espumas; Elevada concentração de nitrato, é uma preocupação por ser tóxico e causar meta hemoglobinemia infantil, que é letal para crianças; 
  • Presença de detergentes superfosfatados (composto por moléculas orgânicas) e matéria fecal, comprovado pelo alto teor de fósforo; Elevada Turbidez, o que comprova a presença de sólidos em suspensão.
Deste resultado pode-se verificar a necessidade de remoção de matéria orgânica, sólidos em suspensão e cuidados para a não formação de espumas. Recomenda-se também uma desinfecção no sistema de reúso a ser implantado.

Outras Considerações:
  • O reúso de água para fins não potáveis caracteriza-se pela utilização de efluentes domésticos tratados em atividades que admitem qualidade de água inferior a potável (HESPANHOL, 2008). 
Este tipo de reúso pode ser aplicado nos seguintes casos:
Irrigação de parques e jardins de diversas tipologias, desde as residenciais até as comerciais e públicas;
  • Reserva de proteção contra incêndio;
  • Sistemas decorativos aquáticos;
  • Lavagens de veículos;
  • Lavagens de pisos e praças;
  • Descarga em bacias sanitária;
  • Limpeza de tubulações de esgoto e água pluvial;
  • Controle de poeira;
  • Construção civil.
Dependendo da aplicação, o acesso a áreas que utilizam água de reúso deve ser controlado ou não e depende efetivamente dos custos e problemas operacionais envolvidos, uma vez que os sistemas de reúso de águas cinzas devem ser totalmente independentes do sistema de água potável.
  • Percebeu-se pela bibliografia exposta que a redução do consumo de água potável implica na adoção de medidas que visem o uso racional deste insumo, bem como no emprego de fontes alternativas para usos que prescindam de potabilidade. 
Para isso, deve-se planejar e gerenciar a demanda a fim de garantir o abastecimento, de forma sustentável e evitando-se o desperdício e a degradação do insumo. Ressalta-se que as ações de uso racional devem sempre preceder a oferta de água.
  • Caso isso não seja possível, o uso de fontes alternativas pode ser colocado em prática de maneira responsável garantindo a saúde dos usuários através de tratamento, as tecnologias disponíveis e os custos envolvidos.

Análise de Risco do Tratamento para Reúso de Água