sábado, 15 de novembro de 2014

Sustentabilidade - Um Conceito em Formação

Conceito de sustentabilidade ambiental significa minimizar o impacto do desenvolvimento humano sobre o Meio Ambiente.

A educação ambiental tem uma importância ímpar, pois quem desenvolve educação ambiental tem a intenção de transformar pessoas através de duplo caminho: 
  1. De aplicação de conhecimentos, de técnicas e de habilidades para enfrentar os problemas que vêm sendo gerados há muitos anos - e não são poucos, nem simples, dependem de muita informação e tecnologia - e outro, 
  2. De valores humanitários e de virtudes necessários à formação das novas sociedades, mais justas, mais cooperativas, mais generosas. 
Foi no compromisso com o futuro da humanidade que essa pesquisa sobre espaços educadores se fez, mesmo que por um instante breve no tempo, ainda assim com anseios de reflexão para o aprimoramento das capacidades humanas.
  • O seguinte caminho foi percorrido para alcançar a finalidade do estudo. Primeiro uma localização temporal e pessoal sobre as condições para que a pesquisa acontecesse. Trilhas ou atalhos são caminhos e nos levam de um lugar a outro, aprendendo na trajetória quase sempre feita de encontros e relações, sendo parte do conhecimento considerado para o trabalho. 
Depois a escolha, o momento em que se estabelece uma definição crucial de algo na trajetória, em que se quer aprofundar, neste caso, os espaços educadores, onde eles aparecem e de que forma são apresentados e trabalhados. As definições metodológicas vêm a seguir, explicitando o modo que permitiu o desenvolvimento do estudo ora apresentado, assim como as considerações históricas que envolvem as sociedades no momento atual.
  • A segunda parte referencia a educação ambiental, em sua trajetória e sua abrangência. Como as questões ambientais mais prementes, em opinião própria, se referem à falta de percepção integrada das questões humanas, e destas com o meio onde estão inseridas, incluídas aí, as desigualdades sociais e as decorrentes questões que diferenciam os seres humanos em termos de responsabilidade, percepção e consequências dos impactos humanos sobre a natureza, necessário se fez abordar a questão da sustentabilidade sob um ponto de vista mais abrangente, incluindo os aspectos econômico, social e ecológico, com vistas a ampliar a percepção sobre as questões ambientais. 
Além disso, algumas reflexões sobre sustentabilidade e sua relação com a educação ambiental serão apresentadas. 
  • A partir desta relação entre educação ambiental e sustentabilidade, pode-se reconhecer o potencial educador que os espaços têm. Se os espaços podem ser educadores e a qual tipo de educação se referem é a sequência do trabalho. O conceito de educação é apresentado, então, a partir do ponto de vista de diversos autores, passando pela pedagogia social na terceira parte. 
A quarta parte aborda as origens da ideia mais explícita de espaço educador, que são as comunidades aprendentes, a cidade educadora e os municípios educadores sustentáveis, além das estruturas e espaços educadores. Depois explora os espaços educadores sustentáveis que aparecem em trabalhos de educação ambiental de diferentes formas, e em outras esferas sociais como programas de governo federal. 
  • A próxima seção apresenta o resultado da coleta de dados com a análise documental e com as observações das escolas municipais do ensino fundamental de Piracicaba/SP, quando são discutidos os pontos relevantes do trabalho, o que são espaços educadores no contexto atual da educação ambiental e em que medida os espaços das escolas são espaços educadores dentro dessa concepção. Em seguida são apresentadas as questões mais amplas derivadas de toda a pesquisa, direcionando para a formação do conceito de espaços educadores, bem como as conclusões finais.
Trilhas e atalhos: de u m lugar a outro:
  • Ao observar o desenvolvimento do trabalho de educadores ambientais percebe-se que, geralmente, envolve conceitos como participação, pertencimento, autonomia, democracia, emancipação, inclusão social, diversidade, complexidade, sustentabilidade. 
Aqueles que desenvolvem esse tipo de trabalho e se identificam com vários desses conceitos trazem em si um desejo de mudar, de transformar o mundo, de querer que sejam diferentes os modos de vida, as formações sociais, as relações com a natureza, porque da maneira como são, percebe-se, não sustentarão a vida da humanidade em longo prazo. 
  • Esse desejo muitas vezes vem de um referencial construído ao longo da vida, desde os primeiros anos, quando a capacidade de experimentar sensações ainda se dá de forma pura e intensa. 
As vivências da infância são importantes referenciais para a vida adulta. O comprometimento dos pais e avós, professores e amigos, com as questões ambientais são exemplos importantes para toda a vida. 
  • Tais exemplos não dependem de palavras apenas e ficam gravados na memória, como uma ideia de mundo perfeito, servindo de intenção, de desejo a ser conseguido. Sendo engenheira florestal de formação e licenciada em ciências agrárias, tenho vivido e trabalhado com a educação ambiental, ajudando a construir esses referenciais com crianças e jovens e nutrindo essas ideias na elaboração de materiais didáticos e na formação de professores.
Vários documentos serviram de base para esses trabalhos ao longo dos anos, como os objetivos da educação ambiental segundo a Conferência de Tbilisi, o Tratado de Educação Ambiental para as Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, a Década da Educação das Nações Unidas para um Desenvolvimento Sustentável: 2005-2014 e o ProFEA - Programa Nacional de Formação de Educadores Ambientais, entre outros tantos.
  • Entendendo como as sociedades atuais vivem num momento de crise de percepção, ou com a visão distorcida sobre fatos inaceitáveis como a pobreza, a carência de oportunidades econômicas, a destituição social sistemática e a negligência dos serviços públicos, o que leva a uma sensação de impotência diante das dificuldades, também foram considerados, para fundamentar a utopia de vencê-las, autores como Edgar Morin, Fritjof Capra, Ilya Prigogine, e Erick Fromm como mentores de uma alma inquieta.
Depois de atuar por mais de dez anos nessa área e estar muito próxima das escolas públicas, principalmente, observo que o trabalho com educação ambiental nas escolas ainda é incipiente e quase sempre limitado à questão da reciclagem e ao reaproveitamento de materiais principalmente em se tratando da adoção de programas complexos e abrangentes da comunidade escolar e do entorno. Percebo que falta aos professores uma afetividade com o tema, não como disciplina, capaz de torná-lo estimulante em suas proposições metodológicas, seja em qual disciplina for. Dessa maneira, a pesquisa realizada, identificar espaços educadores nos projetos pedagógicos das escolas do ensino fundamental deve contribuir para promover e ampliar o diálogo sobre o assunto e sobre como identificar ou formar tais espaços. 
  • Também é possível abrir o diálogo para o florescimento de programas de educação ambiental cujo papel de transformação de realidades intoleráveis seja uma necessidade em todas as esferas do convívio social. A possibilidade de fortalecer a educação ambiental nas escolas através da adoção de programas materializados pela comunidade escolar, incluindo nestes os espaços educadores é o ideal almejado por essa pesquisa. 
Auxiliar na identificação de novos formatos para renovar modelos de educação também é um objetivo dessa pesquisa, na intenção de transformar escolas em espaços onde crianças e jovens se sintam aprendentes de sua própria formação, e os educadores sejam bons mediadores dessa renovação, com referenciais no ideal de sociedades sustentáveis.
  • Por isso, a decisão de trabalhar a valorização de espaços de relação, como se pretende que sejam os espaços educadores, é antes de tudo a vontade de propiciar o encontro, as interações. Segundo Morin (1996) para que haja organização, é necessário que haja interações (entre moléculas, pessoas etc.). Essas interações só ocorrem se existirem encontros. E os encontros só acontecem se houver desordem/agitação/turbulência, gerados por um desequilíbrio do sistema. 
Essa analogia com choque de moléculas é um interessante modo de ver as interações entre pessoas, já que muitas vezes a agitação dentro das escolas é considerada inadequada na aprendizagem, mas de fato ela faz parte do movimento que gera nova ordem, ou uma possibilidade de transformação. Morin recomenda focar a importância nas relações entre ordem e desordem, e não na ordem ou na desordem, porque o novo equilíbrio gerado nesses encontros pode representar a transformação, a inovação, a renovação, a evolução. 
  • Se a formação de espaços educadores nas escolas propiciar alguma agitação, como a formação de uma banda, de um grêmio, de um grupo de contestação, por exemplo, então pode-se entender que houve uma contribuição para a renovação do pensamento fragmentado ainda existente em muitas instituições de ensino.

Sustentabilidade - Um conceito em formação

Ponto de intersecção: a escolha:
  • Ao longo dos anos a educação ambiental (EA), em suas diferentes correntes e seus diversos modos de fazer, tem desenvolvido o papel de promover mudanças no cotidiano de indivíduos e instituições, objetivando a articulação de ações educativas voltadas para a transformação de pessoas, o que é fundamental para as melhorias ambientais, tanto no que se refere tanto ao contexto social e político, quanto ao contexto físico e biológico. Incrementar esse processo, de transformar as relações humanas e sociais e os mecanismos que hoje degradam o ambiente e, por conseguinte, a realidade social é papel da educação ambiental crítica. 
Por ação educativa Guimarães (2004) entende a “construção de um ambiente educativo de conscientização, que vá da denúncia à compreensão-construção de uma realidade socioambiental em sua complexidade”. Essa conscientização, segundo o autor, é um processo do indivíduo, mas em sua relação com outro, no qual razão e emoção interiorizadas na consciência se exteriorizam pela ação. Ou seja, o ambiente educativo se constitui nas relações que se estabelecem, é “movimento complexo de relações” (GUIMARÃES, 2004).
  • Por ambiente – que vem do Latim, segundo o dicionário Aurélio (1986) - entende-se o que cerca ou envolve os seres vivos ou as coisas, por todos os lados, ou seja, aplica-se ao meio em que se vive, seja físico, social, moral. Tanto há influência do ambiente sobre o ser que ele envolve quanto há uma resposta adequada do ser envolvido, produzindo-se uma interação entre eles. A expressão “ambiente” basta, pois, para o entendimento de que os problemas de natureza social ou ecológica não estão dissociados, pois o ambiente abarca a compreensão da totalidade da existência seja ela causadora dos problemas ou vítima deles. 
A expressão espaços educadores vem sendo utilizada na conjunção deste ponto de vista, da educação ambiental como ação educativa no e para o ambiente. Os conceitos de comunidades aprendentes desenvolvido por Brandão (2005b) e de estruturas e espaços educadores desenvolvidos por Matarezi (2005) são exemplos que vêm se apresentando como dimensão essencial nos trabalhos de educação ambiental nos mais diversos setores da sociedade, incluídas as escolas. 
  • Também algumas empresas se apropriam da expressão espaço educador somada ao adjetivo sustentável, para demonstrar o que chamam de “metodologia didático-pedagógica voltada para a sustentabilidade”, e são espaços como jardins pedagógicos, cinturões verdes, espirais de ervas medicinais, espaços culturais. 
Ou implantam espaços educadores para a sustentabilidade com trabalhos tais como “a educomunicação, a arte-educação, a permacultura e a agroecologia com uma intencionalidade educadora”. Esta última ainda faz uso de estruturas sustentáveis a exemplo do uso de coletores de água da chuva, da elaboração de pequenas hortas domésticas, do uso do aquecedor solar e da preparação de compostos orgânicos a partir dos resíduos domésticos. 
  • Além dessas empresas também a TV Escola, em seu programa Salto para o Futuro, apresentou em julho de 2011 a série Espaços Educadores Sustentáveis, com o objetivo “de ser um elo da rede de conhecimentos ressignificados nas escolas a partir de três eixos: sociedade, escola e ações individuais”. Pode-se observar a partir dessas iniciativas que as propostas de um espaço educador apresentam conotações diferentes que deixam dúvidas quanto ao seu papel educador ou demonstrativo, individual ou coletivo, ou ambos, e também quanto ao papel da própria instituição escolar na sua formação..
Escolas são instituições formalizadas para a educação, então a questão que motiva essa pesquisa é: as escolas são espaços educadores para além da sala de aula? As cantinas, banheiros, corredores, jardins e portões de entrada são espaços que oferecem intencionalmente uma educação sobre o ambiente, sobre as relações inerentes de todos os seres, sobre a sustentabilidade? A própria sala de aula é um espaço educador? A escola está aparelhada para modificar seus trabalhos de educação ambiental e incluir neles um conceito como o de espaço educador? E ainda: o que são espaços educadores? Qual a relevância deles dentro de escolas? Como são formados e por quem? 
  • A fim de ampliar o reconhecimento e o sentido de espaços educadores e buscar a sua definição conceitual, necessário se fez, inicialmente, verificar qual o conceito de escola nos projetos pedagógicos, identificando o grau de complexidade que é dado ao tema (edificação, educação, lugar, espaço, sociedade, cultura), a fim de reconhecer e valorizar a ideia de espaços educadores junto às unidades selecionadas para essa pesquisa.

Respeito ao Meio Ambiente