sexta-feira, 17 de abril de 2015

Resíduos, suas origens e a reciclagem

Pneu desgastado prejudica a estabilidade do carro, põe a sua segurança em risco e ainda causa danos ao meio ambiente quando descartado no lugar errado.

  • A sociedade moderna confronta-se com questões sócio-ambientais que não mais permitem prorrogação em seu prazo de solução. Entre os problemas a serem resolvidos, indiscutivelmente a destinação final do lixo, ou seja, o resíduo produzido pela humanidade ainda é um grande desafio sem muitas respostas.
O resíduo gerado pela sociedade capitalista altamente consumista necessita de uma correta destinação final para que não haja a dilapidação cada vez maior do patrimônio natural. Surge um grande dilema moderno, o que fazer se cada dia mais as pessoas são impulsionadas a aumentar o consumo de mercadorias? E, sendo desta maneira o que fazer com o lixo vindo deste consumo desenfreado?
Afirmar que esta preocupação seja algo recente não corresponde a verdade, pois desde a década de sessenta o padrão de consumo da sociedade capitalista e o impacto negativo disto sobre a natureza vem sendo discutido.
  • Historicamente desde esta década muitas alternativas vêm sendo estudadas para os países se desenvolverem economicamente sem acentuar ainda mais a degradação do meio ambiente, no entanto apenas em 1972 houve o primeiro debate mundial sobre o tema com a Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) em Estocolmo.
O grande marco desta discussão em 1972 é que não seria mais possível continuar a produzir mundialmente bens e produtos sem pensar na degradação ambiental – a determinação é que a natureza fosse tratada não mais como uma fonte inesgotável de recursos; o desenvolvimento econômico deve estar alinhado com a preservação da natureza, surge a partir deste encontro o conceito que alia crescimento econômico e meio ambiente - o chamado “ecodesenvolvimento”.
  • No entanto, dois outros eventos vão consolidar as discussões mundiais a respeito do tema desenvolvimento sustentáveis - em 1987 a publicação do Relatório Mundial Sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, também chamado Relatório Nosso Futuro Comum ou Relatório Brudtland; e em 1992, a Conferência das Nações Unidas Sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), evento também conhecido como Rio 92 (MONTIBELLER, 2001, p. 36-40).
Desde então uma nova tendência vem se apresentando como forma ecologicamente correta de produzir, atitude que não dependeu e nem depende apenas da boa vontade das empresas em querer preservar a natureza, muitas foram impulsionadas por vários fatores que surgiram e começaram a vigorar no competitivo ambiente empresarial das últimas décadas, entre eles normas e legislação de proteção ambiental; fiscalização de órgãos governamentais; cobrança da sociedade civil organizada; e por fim, e não menos importante, a adequação diante das exigências do mercado. Atualmente não apenas a forma de produzir permeia as discussões ambientais, e sim a correta destinação dos resíduos gerados na produção destes bens, assim como a disposição final pós-consumo de embalagens e materiais das mais diversas origens. 
  • Todos – sociedade, governo e empresas, vêm sendo chamados a se envolverem em conjunto nas ações que se referem ao correto tratamento e destinações finais dos resíduos gerados sejam eles na produção ou no consumo.
A saída para o problema do resíduo sólido, que se torna muitas vezes uma questão de saúde-pública, nasce de iniciativas empresariais bem sucedidas, de pesquisas realizadas no ambiente acadêmico das universidades, ou fora delas, e de experiências positivas no dia-a-dia, que começam a surtir pequenos efeitos, mesmo sendo casos isolados, vale a pena nos aprofundarmos no tema para perceber e mostrar exemplos que podem e devem ser seguidos por todos.
  • É com o olhar voltado para o descarte dos resíduos sólidos que esta pesquisa se desenvolverá, tendo como foco principal à destinação final dos pneus automotivos que não têm mais vida útil, os chamados – pneus inservíveis.
Os resíduos sólidos :
  • A disposição final dos resíduos sólidos no mundo é uma questão preocupante, pois ela depende de um empenho muito grande por parte da sociedade para tentar soluciona-la, não deve ser considerada uma tarefa a ser resolvida apenas pelo poder público, deve haver uma conscientização com o engajamento de toda população.
Sasse (2002, p. 50) chama a atenção para o fato da produção de lixo nos países industrializados, afirma que cada pessoa produz uma enorme quantidade de lixo todos os dias. “Esse lixo destrói o ambiente de várias maneiras, matando plantas e animais diretamente, pela infiltração dos aterros sanitários para as águas subterrâneas, rios e lagos, e pela emissão de substâncias tóxicas na incineração”.
  • Segundo Teixeira (2005, p. 01), o desenvolvimento para o bem-estar e o conforto humano que se criou a partir da Revolução Industrial, levou a um aumento considerável de material descartado, “ocasionando um aumento da quantidade de resíduos gerados e não utilizados pelo homem, muitos deles trazendo riscos ao meio ambiente e a saúde humana”.
Como se pode notar, é preciso uma consciência mais ampla com relação à disposição final do resíduo sólido, trabalhando principalmente na diminuição da geração destes; além disso, tentar inserir uma filosofia de reaproveitar; reciclar ou reusar o material que se tem em mãos, antes de descarta-lo totalmente. Para isso seria necessário que os países trabalhassem na conscientização e diminuição da geração de resíduos sólidos, no entanto isso vai de encontro a busca incansável da produção de riqueza e do crescimento econômico perseguido pelos países desenvolvidos e em desenvolvimento.
No Brasil a situação não é melhor do que a observada em outros países, ao contrário, ainda há muito a ser feito em relação à deposição dos resíduos sólidos. Pereira e Tocchetto (2007) defendem a diminuição da geração de resíduos, ou seja, pregam a idéia da redução da geração destes, uma vez que se tem uma alarmante estatística que afirma que 75% das cidades brasileiras dispõem seus resíduos sólidos em lixões. “É preciso inverter a pirâmide, o que significa colocar em prática a desejável política dos “3 Rs”(Reduzir, Reusar e Reciclar) e não continuar produzindo e gerando mais resíduos”.
  • Segundo os autores, diante deste quadro é preciso que governo e sociedade assumam uma nova postura para esta problemática “visando gerenciar de modo mais adequado a grande quantidade e diversidade de resíduos que são produzidos diariamente nas empresas e residências”.
Este aumento vertiginoso da geração de resíduos sólidos no mundo está atrelado ao progresso tecnológico experimentado pelo homem moderno, progresso este usado a seu favor, de forma a trazer maior conforto para sua vida. Segundo Salini (2000, p. 1) o progresso técnico e a explosão demográfica no Século XX favoreceram o aumento exponencial na quantidade e tipos de resíduos gerados pela sociedade, sendo que a maior parte não recebe a correta destinação, muitas vezes permanecendo no ambiente por centenas de anos. “A criação de materiais não degradáveis, combinado com o aumento da população, tem resultado em uma crise de disposição ambiental destes detritos”.
  • Os resíduos sólidos que vão parar diariamente nos lixões, muitas vezes são jogados e descartados em locais inadequados, ou até mesmo eliminados de forma inadequada. Entre vários tipos de materiais encontrados no meio destes, um que vem preocupando e muito ambientalistas, governo e sociedade são os pneus descartados que não têm mais vida útil – pneus inservíveis.
Em 1845, os pneus de borracha substituíram rodas de ferro e madeira usados em carroças e carruagens, este evento não marcou apenas a revolução do setor dos transportes, mas a utilização dos pneus de borracha trouxe consigo “a problemática do impacto ambiental, uma vez que a maior parte dos pneus descartados está abandonada em locais inadequados, gerando grandes transtornos para a saúde e a qualidade de vida humana” (Boletim Informativo da Bolsa de Reciclagem Sistema FIEP, JUL/AGO –2001, p. 3).
  • O descarte final do pneu inservível traz sérios prejuízos a cidade, seja na forma inadequada do descarte; armazenamento; depósito de água que pode ser foco para doenças como a dengue; ou a eliminação através de queima a céu aberto que contamina o solo e o ar; ou a criação de depósitos clandestinos; e é por isso a importância se conhecer mais profundamente as formas viáveis tanto ecologicamente como economicamente, de aproveitamento dos pneus inservíveis, como maneira de diminuir o descarte inadequado dos mesmos.
Para isso, este trabalho pretende identificar e estudar alternativas possíveis de reutilização dos pneus inservíveis, além de apontar quais processos são os mais viáveis atualmente no Brasil, assim como levantar alguns exemplos de como é tratada a questão dos pneumáticos inservíveis pelos representantes da indústria de pneus na grande Florianópolis. Além disso, perceber através de pesquisa bibliográfica – livros, periódicos, sites confiáveis da internet, como as empresas tratam o assunto da destinação correta dos pneus inservíveis, tentando observar quais variáveis as levam a adoção de uma política ambiental empresarial ecologicamente correta – consciência ambiental, motivação econômica; interesse estratégico ou cumprimento de legislação e normas ambientais existentes?

Joinville/SC recicla em média 5% do lixo doméstico produzido

A preservação ambiental e o crescimento econômico:
  • O modo de produção moderno da sociedade capitalista vem sendo analisado e observado por muitos estudiosos nas últimas décadas. A questão que envolve a preservação ambiental e o crescimento econômico começou a ganhar destaque na década de setenta quando alguns cientistas reunidos no chamado Clube de Roma apontaram através de um relatório a degradação ambiental que vinha ocorrendo em função da utilização dos recursos naturais que naquela época eram considerados inesgotáveis.
Com o relatório intitulado - Limites do Crescimento (1972), publicação encabeçada pelo cientista Dennis L. Meadows que trabalhou em conjunto com outros pesquisadores surge à tentativa de conscientizar a população mundial que o meio ambiente é um bem que deve ser preservado para que as futuras gerações também tenham acesso a ele (MONTIBELLER, 2001, p. 35-38).
  • A realização da Conferência de Estocolmo foi outro grande acontecimento em 1972. Estes foram dois grandes marcos iniciais dos debates sobre crescimento econômico e preservação do meio ambiente na década de setenta, que nasceram do reflexo de discussões iniciadas e desenvolvidas desde os anos sessenta, (situação reconhecida no texto do relatório do Clube de Roma) (BRÜSEKE, 1998, p. 29).
As alarmantes previsões deste relatório fomentaram debates em toda parte do globo, em especial nos países em que a filosofia do produzir sempre mais, para sustentar as mordomias do progresso técnico e desenvolvimento econômico não podia ser freada. Pode-se imaginar o porquê de tanta discussão, uma vez que entre muitas considerações, o relatório do Clube de Roma abordava situações tais como:
  • Se as atuais tendências de crescimento da população mundial – industrialização, poluição, produção de alimentos e diminuição de recursos naturais – continuarem imutáveis, os limites do crescimento neste planeta serão alcançados algum dia dentro dos próximos cem anos. O resultado mais provável será um declínio súbito e incontrolável, tanto da população quanto da capacidade industrial;
  • É possível modificar estas tendências de crescimento e formar uma condição de estabilidade ecológica e econômica que se possa manter até um futuro remoto. O estado de equilíbrio global poderá ser planejado de tal modo que as necessidades materiais básicas de cada pessoa na Terra sejam satisfeitas, e que cada pessoa tenha igual oportunidade de realizar seu potencial humano individual;
  • Se a população do mundo decidir empenhar-se em obter este segundo resultado, em vez de lutar pelo primeiro, quanto mais cedo ela começar a trabalhar para alcançá-lo, maiores serão suas possibilidades de êxito.
Desta forma, estava dada a largada inicial para debates que foram se desenrolando no decorrer das décadas a respeito de questões relacionadas a crescimento econômico e preservação do meio ambiente, assim como o aumento das divergências entre os economistas que defendiam e se identificavam com as teorias do crescimento (BRÜSEKE, 1998, p. 31).

Do ecodesenvolvimento ao desenvolvimento sustentável:
  • Em 1972, Maurice Strong (Secretário Geral da Conferência de Estocolmo) usa o conceito ecodesenvolvimento, para caracterizar uma política alternativa de desenvolvimento econômico com responsabilidade de preservação da natureza.
Segundo Brüseke (1998), em 1974, Ignacy Sachs, expandiu o conceito de ecodesenvolvimento, formulando os princípios básicos desta nova visão do desenvolvimento. Para Sachs, seis aspectos importantes estão envolvidos por este conceito, são eles:
  • Satisfação das necessidades básicas;
  • A solidariedade com as futuras gerações;
  • O envolvimento e participação de toda população;
  • A preservação dos recursos naturais e do meio ambiente em geral;
  • A elaboração de um sistema social garantindo emprego, segurança social e
  • respeito a outras culturas;
  • Programas de educação.
Nota-se que o ecodesenvolvimento incorpora e se preocupa com questões sociais globais, por isso é considerada uma crítica a modernização industrial em detrimento das desigualdades sócio-econômicas presenciadas em diversos países pobres e em desenvolvimento nas mais diferentes regiões do globo. (BRÜSEKE, 1998, p. 31).
  • A respeito da inserção do tema ecodesenvolvimento e sustentabilidade nas discussões da política econômica mundial, Montibeller (2001, p. 43) afirma que a “construção do novo conceito parte da crítica à visão economicista e ao desenvolvimentismo, denunciando-os como reducionismo econômico e como responsável pela geração dos problemas sociais e ambientais”.
Para Barbieri (1997) o ecodesenvolvimento nasce das opiniões conflitantes encontradas no debate ocorrido em Estocolmo. De um lado estavam os que acreditavam que ajustes na tecnologia promoveriam a solução para a escassez dos recursos naturais, no outro, os que acreditavam que o progresso tecnológico não conseguiria deter o esgotamento de tais recursos.
O que se verificou na Conferência de Estocolmo foi à explicitação de conflitos entre países desenvolvidos e os não desenvolvidos. Os primeiros, preocupados com a poluição industrial, a escassez de recursos energéticos, a decadência de suas cidades e outros problemas decorrentes dos seus processos de desenvolvimento; os segundos, com a pobreza e a possibilidade de se desenvolverem nos moldes que se conheciam até então (BARBIERI, 1997, p. 19).
Como se pode perceber, os conceitos que foram de desenvolvendo a partir destes encontros mundiais, nasceram de longas discussões a respeito do tema da preservação ambiental e crescimento econômico, inclusive a década de setenta é conhecida como a “década do controle e regulamentação”, pois foi a partir deste período que os países iniciaram seus processos internos de regulamentação – leis e normas – que foram criadas com o intuito do controle da poluição e abusos na utilização dos recursos naturais.
  • Entre a propagação do tema ecodesenvolvimento e o aparecimento do conceito desenvolvimento sustentável, foram praticamente treze anos de discussão e muita luta em defesa do meio ambiente. A seguir veremos como se deu a globalização do tema desenvolvimento sustentável.
Da defesa ambiental e do tema desenvolvimento sustentável:
  • Como vimos, em 1974, há uma ampla discussão a respeito do tema difundido por Sachs – o ecodesenvolvimento. No entanto com a publicação do Relatório Nosso Futuro Comum (Brudtland) da Organização das Nações Unidas – ONU (1987) se deu à propagação mundial do conceito “desenvolvimento sustentável”, a partir desta data este é o novo conceito que vai estar presente nos congressos e fóruns globais sobre o tema desenvolvimento econômico e meio ambiente.
No Relatório Nosso Futuro Comum o conceito de desenvolvimento sustentável
fornece:
Uma estrutura para a integração de políticas ambientais e estratégias de desenvolvimento – sendo o termo “desenvolvimento” aqui empregado em seu sentido mais amplo. [...] A busca do desenvolvimento sustentável exige mudanças nas políticas internas de todas as nações (NOSSO FUTURO COMUM, 1991, 43).
Sendo assim, é sugerido pela comissão do relatório que o problema ambiental deva ser tratado como um assunto global. Segundo este documento, essa busca pela sustentabilidade vai dar um novo rumo nas relações internacionais destes países,criando uma maneira mais equitativa do fluxo de capital, comércio e tecnologia. A “estratégia do desenvolvimento sustentável visa promover a harmonia entre os seres humanos e entre a humanidade e a natureza” (NOSSO FUTURO COMUM, 1991, p.70). Esta estratégia, segundo Nosso Futuro Comum, abrange os seguintes aspectos:
  • Um sistema político que assegure a efetiva participação dos cidadãos nos processos decisórios;
  • Um sistema econômico capaz de gerar excedentes e know-how técnico em bases confiáveis e constantes;
  • Um sistema social que possa resolver as tensões causadas por um desenvolvimento não equilibrado;
  • Um sistema de produção que respeite a obrigação de preservar a base ecológica e busque constantemente novas soluções;
  • Um sistema internacional que estimule padrões sustentáveis de comércio e financiamento;
  • Um sistema administrativo flexível e capaz de se auto-corrigir.
A publicação do relatório Nosso Futuro Comum em 1987 juntamente com outros movimentos e acontecimentos que foram ocorrendo em todo o planeta, consolidaram a década de oitenta como o período de “globalização do debate” do desenvolvimento sustentável.
  • Para Valle (1995), na década de oitenta ocorrem dois grandes eventos que podem ser vistos como a fase de concretização da globalização das questões que se relacionam à defesa dos recursos naturais. São eles – assinatura do Protocolo de Montreal (1987) que elimina toda a família de produtos químicos (os cloro-flúorcarbonos ou CFC’s) na composição de produtos e a publicação do relatório Nosso Futuro Comum - ONU.
Por sua vez, na década de noventa com o evento promovido pela ONU - a Conferência das Nações Unidas Sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD) (também chamada Rio 92 ou Cúpula da Terra) o debate sobre desenvolvimento e meio ambiente estão definitivamente consolidados em nível global.
  • Segundo Barbieri (1997, p. 47), esta conferência representou um significativo avanço na maneira de compreender os graves problemas que se acumulam neste final de século, que na verdade “se caracteriza por uma superposição de crises econômicas, sociais, políticas, culturais e ambientais, que transcendem os aspectos locais e as fronteiras nacionais”.
Esta nova compreensão sobre o tema se baseia na idéia de que meio ambiente e desenvolvimento econômico devem ser tratados conjuntamente, e não mais de forma dissociada. Várias recomendações e tratados internacionais, além de declarações de princípios foram assinados antes e durante a Rio 92, na própria conferência cinco importantes documentos foram assinados: - Convenção do Clima; convenção da Biodiversidade; Agenda 21; Declaração do Rio e Declaração das Florestas (BARBIERI, 1997).
  • A Conferência Rio 92 retratou a proporção que o problema da preservação ambiental havia alcançado, uma vez que nesse final de século, “esta questão ultrapassa os limites das ações isoladas e localizadas, para se constituir em uma preocupação de toda humanidade”. A partir dos anos 90 a comunidade fica mais alerta para a necessidade e consciência da importância em se manter o equilíbrio ambiental (VALLE, 1995, p. 4).
O conceito do desenvolvimento sustentável amplamente debatido neste evento torna mais claro o entendimento da inter-relação existente e os cuidados que deve haver no convívio homem-natureza, há uma nova atitude da sociedade diante desta nova situação, com isso a adoção de novas alternativas para a preservação do meio ambiente começa a ser incorporada pelas empresas e pela sociedade de modo geral.
  • A partir deste marco da década de noventa, a Rio 92 a idéia que se propagou foi à questão do “pensar global, e agir local”, ou seja, todos deveriam cumprir seu dever de casa no que tange as questões de meio ambiente.
Desenvolvimento sustentável e reciclagem de materiais:
  • Na década de noventa começam a surgir normas ambientais para regular e delimitar a responsabilidade das empresas em termos de utilização dos recursos naturais, bem como o tratamento dos resíduos gerados em seus processos produtivos. No cenário empresarial surgem novas ferramentas e conceitos que envolvem a problemática ambiental – sistema de gestão ambiental; certificação ambiental; métodos de tratamento de resíduos, entre outros.
Por sua vez, as pessoas começam a observar melhor o problema relacionado ao lixo, a disposição final do mesmo e também começam a conviver com alternativas de destinação e reaproveitamento dos resíduos que antes eram descartados definitivamente. Esta conjunção de fatores ajudou na criação de novas alternativas de redução, reaproveitamento ou reciclagem de resíduos, a questão da reciclagem surge como uma das possibilidades de contribuição para a preservação ambiental e o desenvolvimento sustentável.
  • Atualmente já existem “avanços científicos e tecnológicos que têm conduzido à redução do desperdício, à reciclagem de materiais, o melhor aproveitamento dos insumos e à eliminação e substituição de matérias-primas escassas ou poluidoras por outras de melhor rendimento” (SABEDOT, 2006, p. 111).
“É indiscutível que a aplicação da ciência e da tecnologia tem conduzido à melhora no nível de vida da população, pelo menos para uma parte da população do planeta”, no entanto, este progresso técnico criou vários problemas em termos de degradação dos recursos naturais: mudanças climáticas; perda de terras cultiváveis (desertificação); desmatamento; poluição dos rios, lagos e mares; poluição do solo e das águas subterrâneas; poluição do ar, além do aumento considerável na produção mundial do lixo, por isso se tornou vital a conciliação entre o progresso e a preservação ambiental (LORA, 2000, p. 35).
  • Para Montibeller (2001, p. 211), a palavra-chave na reciclagem é a questão do custo ambiental, tanto na extração de matérias-primas como da disposição final dos rejeitos. “Uma empresa é levada à reciclagem, em parte, devido ao mercado, mas, sobretudo pela pressão ou indução da sociedade civil através das leis e regulamentos públicos”, no entanto não se deve ignorar que há uma reciclagem comercial (comércio de sucata de ferro, por exemplo), e uma reciclagem coletiva, "baseadas na participação organizada dos cidadãos, geralmente mediante contribuição do Estado”.
O debate a respeito dos custos ambientais é difundido pela economia ecológica, que estuda a questão da externalidade gerada pelo modelo de produção capitalista, pois não existe capitalismo sem desperdício. Uma das principais preposições da economia ecológica “é a de avançar os movimentos sociais ambientalistas, como forma de pressionar o mercado, para que ao menos parcialmente, este tenha que absorver, nos preços, o custo ambiental” (MONTIBELLER, 2001, P. 130).
  • Este custo estaria envolvido com o fluxo de energia e de materiais demandados pelo processo produtivo da sociedade capitalista, que se baseia no desperdício, e decorrente desta situação haveria um caos ou uma desordem na ordem natural desta energia e destes materiais utilizados. Esta situação é chamada de entropia que “é a medida da desordem de um sistema (situação caótica, representada, sobretudo pelo desperdício de energia e de materiais)” (MONTIBELLER, 2001).
A crítica feita pelos economistas ecológicos, é de que nos cálculos dos preços das mercadorias não estariam embutidos os custos ambientais deste desperdício, em face da dificuldade de valoração dos bens ambientais. Estas mercadorias não teriam preços ecologicamente corretos. “Desta forma, [...] o desenvolvimento sustentável muito provavelmente não será alcançado no capitalismo” (MONTIBELLER, 2001, p. 136-137). Corroborando com este assunto, Pádua (2007) relembra a preocupação de Georgescu-Roegen (1971) que afirmou que o moderno sistema econômico e industrial da sociedade a medida que avança a “escala e a velocidade dos fluxos de produção e consumo, ao mesmo tempo em que dificulta a reciclagem, estaria agindo na direção contrária à dos ciclos naturais”.
Em outras palavras, a dissipação de energia e matéria produzida pela ação humana estaria apressando a chegada de uma situação de desordem e de caos na natureza do planeta do qual dependemos para nossa sobrevivência, simplificando um assunto extremamente complexo, os sistemas materiais caminham sempre na direção de um aumento da desagregação e da desordem (PÁDUA, 2007, p. 1).
Montibeller (2001, p. 211) afirma que é baseado nestes fatos que a questão da reciclagem de materiais é um tema recorrente na perspectiva do desenvolvimento sustentável, é importante porque abrange a destinação dos rejeitos da produção e do consumo, e também a questão da disponibilidade atual e futura de recursos naturais não renováveis, problemas preocupantes nos dias atuais.

No sentido da preocupação ecológica, Jogar o lixo à natureza para que ela o decomponha em milhões de anos é no mínimo irresponsável.