domingo, 10 de maio de 2015

Empreendedorismo Sustentável

Decoração feita com reciclados

  • As limitações crescentes dos recursos naturais vêm sinalizando que um comportamento puramente extrativista torna-se cada vez mais inviável. Por outro lado, as mudanças sociais das últimas décadas, apontam não apenas para a necessidade das empresas reverem a condução de seus negócios, mas também a importância da população ser mais informada e instruída sobre as questões que envolvem as dimensões da sustentabilidade de suas organizações e atividades. Essa preocupação surgida nos anos de 1960 teve alguns frutos como, por exemplo, a Conferência de Estocolmo realizada em 1972, que marcou o início dos debates sobre as preocupações mundiais relativas às questões ecológicas. 
O conceito de desenvolvimento sustentável disseminado pelo relatório Brundtland, em 1987, deixou claro que os recursos naturais são finitos e que seu mau uso levaria a um colapso global. Esse relatório apresentou as demandas da sustentabilidade como uma resposta à necessidade de equilíbrio para os fatores econômico, social e ecológico. No mesmo ano, a World Comission on Environment and Development publicou o relatório Our Common Future, que estabeleceu as primeiras definições oficiais e sistematizadas do conceito de desenvolvimento sustentável.
  • O termo foi concebido como o desenvolvimento capaz de satisfazer as necessidades presentes sem comprometer a necessidade das gerações futuras (Bellen, 2007; Dalmoro, 2009). Com o uso do conceito de sustentabilidade – ainda que incorporado e praticado gradualmente por lideranças empresariais, governamentais e pela sociedade civil –, as tensões em favor da preservação do meio ambiente crescem e demandam reações urgentes, que ultrapassem o nível do discurso e das declarações de princípios (Almeida, 2007).
Não obstante o desenvolvimento sustentável venha se apresentando como um assunto preocupante e de grande interesse, o empreendedorismo também tem sido o foco de reflexões cada vez mais profundas. Isso se mostra muito evidente quando se observam as estatísticas do IBGE, Dieese e Sebrae Nacional (2012), que apresentam o empreendedorismo como um fenômeno muito relevante no Brasil, em especial nas MPEs do país, responsáveis por 99% do número de empresa, por 20% do PIB e cerca de 50% dos empregos gerados.
  • Os resultados de uma pesquisa sobre sustentabilidade realizada pelo Sebrae (2012) demonstraram que 58% de dirigentes de MPEs afirmaram não possuir conhecimentos sobre o tema sustentabilidade e meio ambiente, 72% entendem que as MPEs devem atribuir importância à questão do meio ambiente, mas não sabem como e 79% acham que as MPEs que adotam ações de preservação do meio ambiente podem atrair mais clientes. Esses dados sugerem que há muitos desencontros e falta de informação entre esses atores econômicos em relação à questão da sustentabilidade. Assim, este artigo pretende discutir o tema da sustentabilidade no contexto das MPEs e contribuir
 para a divulgação do tema entre os empreendedores das MPEs, uma vez que dados, como os da pesquisa do Sebrae (2012), apontam a relevância da observação das ideias de sustentabilidade por eles. Kirzner (1979) pontua que o empreendedor é considerado como aquele que cria um equilíbrio, procurando encontrar uma posição clara e positiva em um ambiente de caos e turbulência. O empreendedor vem se deparando com uma realidade global que alerta para a necessidade de preservação do meio ambiente e da fauna. Por outro lado, o apelo para o sucesso a qualquer custo, por meio de recursos econômicos, é uma premissa errônea adotada por muitos empreendedores, que pode levá-los ao fracasso ou mesmo à mortalidade precoce de seus negócios (Baron e Shane, 2007).
  • Julien (2010) afirma que o empreendedor está no coração da criação e do desenvolvimento de um negócio, sendo de fato uma pessoa não apenas voltada para o mercado capitalista, mas também um ser social que considera as possibilidades e os limites da sociedade em que vive. Esse autor pontua que o empreendedorismo é um fenômeno eminentemente sociocultural, pelo fato de o empreendedor ser ligado a uma coletividade, necessitando de impulsos e apoio do ambiente em que vive. 
No entanto, a reflexão sobre as questões da sustentabilidade, mostra que alguns requisitos necessários à sobrevivência das MPEs estão ausentes da pauta de boa parte dos empreendedores. Autores como Dean e Mcmullen (2007), Kuckertz e Wagner (2010) reforçam essa reflexão, confirmando que os empreendedores podem colaborar com as questões da sustentabilidade por meio de ações relacionadas ao descarte de materiais, cuidados com a degradação do ambiente e, ainda, questões relacionadas à educação da população como forma de preservar o ambiente. As empresas que preconizam a responsabilidade socioambiental vêm se firmando por meio do respeito aos limites dos recursos naturais e da prevenção da poluição (Almeida, 2002; Bansal, 2002). No entanto, esse movimento ainda é pouco conhecido no contexto das micro e pequenas empresas, principalmente quando se trata de entender como os empreendedores vêm se comportando frente à adoção de práticas inovadoras que requerem atenção para as causas ambientais. As pesquisas científicas são também incipientes em relação à observação associada desses dois fenômenos.
  • A defesa de questões ideológicas, ambientais e sociais em campanhas publicitárias de organizações de grande porte sinaliza que boa parte delas está atenta à necessidade de atender as demandas referentes às mudanças macro ambientais (Silva e Tobias, 2007; Bansal, 2002).
No entanto, Romanini (2007) deixa claro que as pressões geradas por estas mudanças também afetam as micro, pequenas e médias empresas, cuja sobrevivência não deve se limitar à obtenção de resultados financeiros, mas incluir cuidados com o entorno dos negócios e com os aspectos sociais ligados a eles.
  • Essas questões, segundo Almeida (2002), evidenciam que as empresas não podem operar independentemente do sistema social e natural para obter crescimento econômico de longo prazo. 
Essa é a visão de desenvolvimento sustentável, a qual se baseia no princípio da integração e balanceamento dos sistemas social, ambiental e econômico. Sua viabilização requer a colaboração e a formação de parcerias entre a empresa e seus principais stakeholders, visando engajar os grupos de interesse em torno de um entendimento comum acerca dos problemas ambientais e sociais. Esse mesmo autor afirma que, naturalmente, isto implica em romper com as estruturas tradicionais caracterizadas pela concentração do poder e centralização das decisões que privilegiam a manutenção do status quo. Ao contrário, o diálogo, nem sempre convergente entre grupos de interesses, entre instituições públicas, privadas e não governamentais exige uma atuação diferenciada do empreendedor para formular e implantar as estratégias de negócio voltadas ao desenvolvimento sustentável (Elkington, 1994).
  • Tal expectativa em relação às atitudes e atuações dos empreendedores engloba o que Julien (2010) chama de ontologia do fenômeno, cujos efeitos das ações dos empreendedores, bem como o impacto destas ações sobre o mercado, são as que, efetivamente, geram mudanças.
Parrish (2009) mostra duas abordagens que motivam os empreendedores a aderirem à sustentabilidade: a primeira refere-se à motivação pelo lucro, ou seja, os empreendedores contribuem com o desenvolvimento sustentável a partir dos ganhos financeiros e competitivos; a segunda abordagem é baseada nos motivos e valores que impulsionam os empreendedores para a sustentabilidade, ou seja, o desejo de contribuir com a melhoria social e ambiental, sendo a receita proveniente de suas atividades um meio para atingir este propósito.
  • Trabalhar com atenção dedicada ao empreendedorismo sustentável parece ser uma prática ainda distante das pequenas empresas brasileiras; contudo, nota-se que parte delas já atua nesse sentido e que seus empreendedores, mesmo sendo orientados por valores e motivos variados, focam as questões sustentáveis, fazendo mais do que é realmente exigido pela legislação quanto à questão (Parrish, 2009; Young; Tilley, 2006; Elkington, 1994).
Para que esse tipo de comportamento se firme como uma prática recorrente do empreendedorismo há a necessidade de uma mudança na própria forma de o empreendedor pensar o seu negócio e sua razão de ser. Outra importante questão é a de que o empreendedor desempenha um papel central no seu negócio e, por consequência, ele é uma pessoa fundamental para a disseminação da cultura voltada ao desenvolvimento sustentável a partir do seu negócio. A pirâmide do empreendedorismo construída por Julien (2010) apresenta a interdependência e as variáveis que o autor associa ao que chama de empreendedorismo endógeno e fatores que o favorecem. 
  • Na pirâmide, as três primeiras dimensões– empreendedor, organização e o meio – fazem parte mais especificamente do empreendedorismo endógeno e o tempo e o ambiente, que são exteriores, podem ser vistos tanto como obstáculos quanto como possibilidades para a ação empreendedora (p.27). Essa maneira de conceber o empreendedorismo permite entender a centralidade do empreendedor no negócio, englobando a disseminação da cultura por esse ator social que aumenta a coerência entre seu comportamento e sua maneira de gerir e lidar com seu negócio, olhando para o ambiente e para o social. Mas, como isso poderia ser possível, dada a ausência para ele de informação sobre o tema? Essa tem sido uma questão recorrente entre pesquisadores da área no rol de pesquisas que tratam do papel do empreendedor no contexto e no entorno em que atua (Nassif, 2004). 
Ainda há muito a se fazer, pois a proposta do desenvolvimento sustentável em conexão com o empreendedorismo é recente e desafiadora, sinalizando a necessidade de sensibilizar proprietários de pequenos negócios para questões recorrentes dessa temática. Assim sendo, o presente artigo teórico visa destacar alguns aspectos que permitem aos empreendedores de micro e pequenas empresas refletirem sobre seus negócios segundo a perspectiva do desenvolvimento sustentável. Tal perspectiva encerra um senso de urgência para a melhoria das condições de vida no meio ambiente e a noção de que a falta de atenção para a sustentabilidade pode contribuir para o sucesso imediato dos negócios, mas comprometendo seu futuro.
  • Destas reflexões, foi possível desdobrar aspectos tais como as práticas voltadas ao desenvolvimento sustentável; os motivos que poderiam levar empreendedores a adotarem os princípios do desenvolvimento sustentável em seus negócios, compreender como a perspectiva social e a ambiental se equilibram frente às questões financeiras de negócios empreendedores, além de conhecer as bases do empreendedorismo sustentável numa visão baseada nos stakeholders.
Conceitos e princípios de sustentabilidade nas organizações:
  • A preocupação da comunidade internacional com os limites do desenvolvimento do planeta iniciou-se na década de 1960, quando começaram as discussões sobre os riscos da degradação do meio ambiente (Almeida, 2002). Os debates na década de 1980 sobre o ecodesenvolvimento abriram espaço para o conceito de desenvolvimento sustentável ao enveredarem para o questionamento de como conciliar atividade econômica e conservação do meio ambiente (Cavalcanti, 1995; Sato, 1996; Almeida, 2002). Grande ênfase passou a ser dada à questão ecológica como ponto central do conceito de desenvolvimento sustentável. No entanto, as orientações ecológicas, que incluem a eficiência na utilização dos recursos naturais não são suficientes para assegurar o desenvolvimento sustentável, mesmo sendo contribuições importantes nesse sentido (Hartman et al., 1999).
Em uma conferência realizada em 1999, nos Estados Unidos (The Eighth Annual Greening of Industry Conference, Sustainability: Ways of Knowing / Ways of Acting), salientou-se que o conceito de desenvolvimento sustentável está se expandindo a partir da inclusão de temas sociais, assumindo, assim, um sentido mais amplo, que integra questões sociais, ambientais e econômicas – de modo a constituir o tripé conhecido como triple-bottom line (Almeida, 2002). 
  • O desenvolvimento sustentável passa a ser reconhecido como a forma pela qual a sociedade atual satisfaz suas necessidades sem, no entanto, comprometer a capacidade das futuras gerações de satisfazer suas próprias necessidades (Almeida, 2002). Em complementaridade, a visão organizacional de sustentabilidade proposta por Rodriguez et al. (2002) ressalta a importância das questões éticas envolvidas no desenvolvimento sustentável, conceituando-o com base em quatro pilares: razões físicas, dentre as quais estão os recursos naturais e o meio ambiente; razões sociais, que englobam ações efetivas da organização na sociedade, além do simples cumprimento das leis ou oferecimento de empregos; razões éticas, que incluem a individualidade e os valores pessoais no trabalho, além de contribuírem para a distribuição de oportunidades para a sociedade; e razões de negócios, que resultam da combinação dos três pilares anteriores, reafirmando pressupostos de Jones (1995).
No contexto brasileiro, Almeida (2002) faz um breve histórico das preocupações com questões ambientais que se fazem presentes desde 1913 em discussões e fóruns que visaram a criação de parques de preservação do meio ambiente e da terra, além da sensibilização da comunidade para o processo acelerado de destruição do meio ambiente. O intenso desenvolvimento da atividade industrial do país e o consequente aumento da urbanização provocaram a ampliação deste foco de discussão, abrindo espaço para denúncias sobre degradação do meio ambiente. O fechamento da empresa Borregaard/Riocell no Rio Grande do Sul em 1972 foi uma demonstração da força da comunidade local e regional em dizer não aos danos causados pela contaminação do ar e da água e evidenciou o impacto das questões ambientais para a estratégia das empresas (Almeida, 2002).
  • Welsh e Herremans (1998) destacam que empresas que devotam seu tempo de planejamento estratégico, especialmente antes do início de suas operações, considerando os aspectos da política ambiental e social, usufruem de benefícios não apenas imediatos, mas também no longo prazo. Ao planejar uma estratégia que contempla o desenvolvimento sustentável, é necessário considerar os interesses dos diversos stakeholders, como o desenvolvimento da economia local, educação e participação da comunidade gerada pelo funcionamento do negócio e a criação de sistemas de controle ambiental que auto-regula as operações da empresa (Mello, 1996, Molnar & Mulvihill, 2003).
Uma estratégia apoiada nos princípios do desenvolvimento sustentável requer da empresa a criação de mecanismos para mensurá-la por meio do estabelecimento de indicadores apropriados, de forma a garantir o seu sucesso (Strobel et al., 2004). Ao contrário disso, o uso de indicadores de desempenho tradicionais e que visam avaliar estratégias de desenvolvimento sustentável podem negligenciar o aspecto econômico-financeiro, fato que poderá comprometer o resultado da empresa (Strobel et al., 2004; Bellen, 2004). Assim, uma empresa não poderá ter um alto índice de sustentabilidade se não observar o tripé econômico, social e ambiental, pois, se a mesma não for financeiramente sólida, não terá recursos suficientes para investir no social e ambiental, no que se refere às questões que, normalmente, vão além dos processos de gestão cotidianos de produzir bens e serviços (Strobel et al., 2004).
  • Esses autores ressaltam que o equilíbrio entre essas dimensões do conceito de sustentabilidade nas empresas é fundamental para que os indicadores sejam eficazes em médio e longo prazos, a fim de estabelecer uma relação consistente e mensurável dos fatores econômicos com os fatores sociais e ambientais. Em uma pesquisa desenvolvida por Welsh e Herremans (1998), cujo objetivo foi o de entender como empreendedores desenvolvem estratégias de negócio, foi observado que, além das ações estarem relacionadas às características pessoais deles, os empreendedores se mostraram como pessoas convictas em respeitar o meio ambiente, além de possuírem uma boa visão de sustentabilidade. Os autores afirmam ainda que os empreendedores desenvolvem seus negócios considerando seus próprios valores e aquilo que acreditam que a empresa possa vir a ser. 
Embora exista o controle formal das operações do negócio, como regras, políticas e procedimentos, há o autocontrole que é informal e se baseia na ética e nas crenças do empreendedor, como reforçam Jones (1995) e Molnar & Mulvihill (2003). Esty e Winston (2006, p.34) afirmam que as pequenas empresas não estão livres da onda verde e devem adequar-se a ela por cinco razões:
  • A legislação ambiental que só se aplicava às grandes empresas, agora abrange as empresas menores;
  • Pequenas empresas também estão sob o olhar de grupos ativistas, que exigem a diminuição de seus impactos ambientais;
  • A redução dos custos permite maior acesso ao sistema de monitoramento de poluição e de verificação de conformidade regulamentar;
  • As MPEs estão sendo pressionadas a adequar-se às normas ambientais quando atuam como fornecedoras de grandes companhias certificadas por sistemas de gestão ambiental;
  • As MPEs são mais ágeis do que concorrentes maiores para responder às mudanças macroambientais, levando vantagem e identificando rapidamente nichos de mercado.
Essas razões nos levam a crer que as grandes empresas vão pressionar as pequenas a terem comportamento sustentável, senão as pequenas terão uma vantagem em relação às grandes por estarem livres dessa exigência. É como quando os grandes não querem que os pequenos soneguem impostos. Stead e Stead (2000) fazem um alerta, não apenas para as empresas de grande porte, mas também para as MPEs, segundo o qual o sucesso econômico dos negócios é dependente da melhoria da qualidade de vida dos países que são mercados potenciais para expansão dos negócios. Por esta lógica, ressaltam que as empresas precisam se atentar para os processos educacionais, assim como, para o oferecimento de oportunidades e ações que promovam a melhoria geral da sociedade.
  • Está presente nessas visões o envolvimento das empresas com seus stakeholders, que vão desde o cumprimento dos aspectos legais até o bom relacionamento com clientes, funcionários, fornecedores, acionistas, proprietários e com a comunidade local (Clarkson, 1995).
O crescimento econômico por meio do desenvolvimento de novos recursos, capacidades e atividades (processos embora específico para cada tipo de negócio) implicam no desenvolvimento dos recursos sociais, que requerem o estabelecimento de novas relações da organização com seus stakeholders (Rodriguez et al., 2002).
  • Percebe-se assim, a necessidade de se incorporar a sustentabilidade aos processos gerados pelas pequenas e médias empresas, além de se abrir oportunidades para a adoção de boas práticas socioambientais.
Para tal, é importante conhecer como que os empreendedores estão se comportando em relação ao desenvolvimento sustentável, pois assim é possível verificar seus posicionamentos frente às futuras ações em prol da sustentabilidade no meio empresarial.

O empreendedor sustentável, mais do que qualquer outro, tem convicção de que uma empresa é feita por e para pessoas, e que qualquer ação provoca impactos no planeta. 

Desenvolvimento sustentável: 
Fragmentos do discurso empresarial
  • Dentre todos os artigos pesquisados da Revista Exame (2002-2004) foram selecionados e analisados alguns para ilustrar como o conceito de desenvolvimento sustentável está sendo abordado. A apresenta-se aqui alguns achados acerca do tema cujas informações estão disponibilizadas no site da Revista.
Desenvolvimento Sustentável é modelo de desenvolvimento econômico capaz de gerar riqueza e bem-estar e, ao mesmo tempo, promover a coesão social e impedir a destruição da natureza. Editorial 27/11/02
  • Todos os envolvidos numa parceria passam a atuar num novo modelo, no qual a delegação é substituída por engajamento e participação. No contexto das práticas empresariais socialmente responsáveis, as parcerias são meios que viabilizam e valorizam o fim a que todos nós buscamos: a construção de um mundo melhor, próspero, socialmente justo e ambientalmente sustentável. Oded Grajew 06/01/03
Parece cada vez mais claro que os países e as regiões que estruturam suas economias com base na produção de bens e serviços intensivos e em fatores básicos (recursos naturais, clima, excedente de mão-de-obra não qualificada etc.) são incapazes de gerar os fundamentos de uma competitividade sustentável, bem como de melhorar as condições de vida dos cidadãos. César Souza 24/04/03
Uma empresa que se relaciona bem com seus funcionários, mas negligência o consumidor não pode ser considerada um modelo de responsabilidade social. O mesmo vale para companhias que investem fortunas na área social e, ao mesmo tempo, são protagonistas de desastres ambientais. Notas 09/12/04
  • O discurso exibido na mídia, por meio de especialistas ou consultores, evidencia uma preocupação com os limites de desenvolvimento das empresas, que visa à satisfação de necessidades essencialmente econômicas. O alerta se faz em relação às outras dimensões, como forma de preservação do ambiente e do cuidado e proteção das pessoas.
Estratégia de negócio declarado na mídia:
[...] o engajamento das empresas em projetos voltados para a comunidade ultrapassou o estágio de tendência em que se encontrava no início da década de 90 para se firmar como estratégia corporativa. Cerca de 60% das companhias participam ativamente, com 2,5 bilhões de dólares de investimento anual. Gabriela Carelli 22/12/03
Antes confinado aos círculos de ativistas e de representantes de organizações da sociedade civil, o tema passou a fazer parte das discussões estratégicas, dos relatórios anuais e da política de relações públicas das maiores empresas do mundo. Mais do que uma forma de compreender o papel das empresas, a sustentabilidade torna-se uma meta a ser perseguida, tão importante quanto o lucro. E a motivação para o crescimento desse movimento é relativamente simples de ser entendida - hoje, negócios que buscam a sustentabilidade são mais valorizados pelo mercado consumidor, pelos governos e pelos investidores. Ana Luiza Herzog 08/12/04
[...] por mais que possam haver iniciativas equivocadas ou pouco efetivas, a atuação social das empresas passou a ser vista como algo estratégico para o negócio. [...] esses projetos são uma forma de expressão encontrada por essas companhias. E, com o tempo, eles passam a fazer parte dos padrões culturais de cada empresa. Quando se chega a um estágio [...] diante de todas as pressões sociais e de mercado é muito difícil dar passos atrás. Rosa Maria Fischer 09/12/04
A crescente preocupação com o tema divulgada na mídia é expressa por pesquisadores ou especialistas, por executivos que atuam sob estes princípios e até mesmo por consultores de empresas e jornalistas.

Empreendedorismo sustentável: 
Uma visão baseada em stakeholders
Uma abordagem que vem marcando a área de pesquisa em empreendedorismo se refere às questões da sustentabilidade, cuja proposta é integrar o conceito de sustentabilidade aos modelos de negócios empreendedores. A Comissão de Bruntland (WCED 1987) integrou o conceito de sustentabilidade a três objetivos centrais para o desenvolvimento futuro da humanidade: sociedade/ética, economia e ecologia (popularmente chamadas, o tripé da sustentabilidade: pessoa/lucro/planeta). 
Schaltegger (2002) e Dixon e Clifford (2007) são considerados os precursores do empreendedorismo sustentável e essa expressão Sustainable Entrepreneurship (empreendedorismo sustentável) surgiu, inicialmente, de debates acadêmicos que, historicamente, podem ser vistos como um meio de moderar o debate político global, enfatizando a dicotomia do crescimento econômico versus as restrições a uma exploração contínua dos recursos naturais, pela ênfase da necessidade de desenvolvimento social (Schlange, 2011). Esse último autor ressalta que os três objetivos da sustentabilidade são concebidos como mutuamente dependentes e que os empreendedores devem contar com um desenvolvimento econômico que respeite o ambiente natural em pró da qualidade de vida das pessoas.
  • Parrish (2009) explica que o conceito de sustentabilidade vem sendo disseminado junto aos empreendedores, procurando integrar os propósitos ambientais e sociais ao econômico, no mesmo empreendimento, orientados por diferentes motivos e valores, sendo capaz de realizar suas atividades de modo sustentável e contribuir com o macro sistema social e ambiental do qual faz parte. De forma complementar, para Young e Tilley (2006) e Hesselbein et al. (1994) o empreendedorismo sustentável age em uma organização que tem no centro de sua estrutura e em suas operações o conceito de sustentabilidade, indo além do exigido para demonstrar eficiência em suas ações. Já Boszczowski e Teixeira (2009), ressaltam que os estudos envolvendo meio ambiente, responsabilidade social e negócios, surgem como resposta a uma necessidade das empresas de mudarem suas práticas sociais e ambientais.
Duas abordagens a respeito das razões que motivam empreendedores a aderir à sustentabilidade são explicadas por Parrish (2009). A primeira, e mais usual, considera que os empreendedores são, por definição, motivados pelo lucro. Logo, eles estão interessados em contribuir com o desenvolvimento sustentável quando isto lhes proporciona ganhos financeiros. Nesta perspectiva, reduzir o impacto ambiental e engajar-se em iniciativas de responsabilidade social empresarial têm o objetivo de gerar vantagem competitiva. A segunda abordagem leva em consideração os diversos motivos e valores que impulsionam os empreendedores para a sustentabilidade. Nesse sentido, o autor verificou a existência de empresas cujo propósito primordial é contribuir com a melhoria do bem-estar social e ambiental e que consideram a receita proveniente de suas atividades um meio para atingir este propósito.
  • Outros autores, como Dyllick e Hocker (2002) e McDonough e Braungart (2002), desenvolveram modelos de empreendedorismo sustentável, mas nenhum deles integrou os três princípios da sustentabilidade. Dyllick e Hockerts (2002), por exemplo, associaram o empreendedorismo ao capital social e, subliminarmente também consideram os aspectos econômicos e ambientais. Já McDonough e Braungart (2002) direcionam seu tratamento dos temas, quando integraram o empreendedorismo aos aspectos ecológicos/ambientais, no sentido de evitar desperdícios, saber lidar e reutilizar os recursos ora utilizados.
Esses dois estudos mostram que a associação dos três princípios nem sempre se faz presente sobretudo quando as reflexões se voltam para o comportamento e as atitudes dos empreendedores. Por outro lado, Young e Tilley (2006) propõem um modelo que integra os princípios da sustentabilidade apresentando uma visão sistêmica das dimensões, cujas proposições reforçam que um negócio é sustentável quando o ambiente, o social e o econômico são, simultaneamente, sustentáveis. O modelo prediz o relacionamento de doze variáveis operando em conjunto, identificando as fases do empreendedorismo sustentável e a práticas de gestão adotadas
  • Os autores deixam claro que, quando há grande interação entre os componentes do modelo, é possível obter resultados mais expressivos de sustentabilidade como por exemplo o relacionamento entre empreendedorismo econômico e ambiental. que pode gerar ecoeficiência, no sentido de se adotar soluções de ganha-ganha propícias ao crescimento econômico e à proteção ambiental simultaneamente. A eco-efetividade pode gerar adoção de soluções empresariais que dão sustentação à vida e são restauradoras e regenerativas, além de eficientes do ponto de vista econômico. O relacionamento entre empreendedorismo econômico e social pode levar à sócio-eficiência, cuja proposta é a de adotar soluções do tipo ganha-ganha, buscando-se crescimento econômico e proteção social simultaneamente. A sócio-efetividade contribui como agente de mudança social, cujo propósito é o de proporcionar impactos positivos e sustentáveis para a sociedade. O relacionamento entre empreendedorismo social e ambiental pode promover a equidade ecológica, proporcionando às pessoas o direito equitativo aos recursos ambientais. Por sua vez, a suficiência coloca as empresas como responsáveis pelo consumo sustentável.
O relacionamento entre empreendedorismo econômico e o sustentável pode gerar a equidade econômica, como meio de fazer a distribuição da riqueza entre as gerações presentes e as futuras e a inter-geracional, como meio de prosperidade econômica das gerações futuras frente às decisões e operações empresariais. Já o relacionamento entre empreendedorismo ambiental e sustentável pode proporcionar a estabilidade ambiental, necessária para restaurar os diversos ecossistemas e a sustentabilidade ambiental, visando a sustentabilidade no longo-prazo. Por sua vez, o relacionamento entre empreendedorismo social e sustentável pode despertar as pessoas para a responsabilidade social, envolvendo empresas e indivíduos nos impactos positivos e negativos, diretos e indiretos sobre as gerações presentes, no entanto, a “futuridade” leva em consideração o bem-estar social das gerações futuras nas decisões e operações empresariais.
  • Young e Tilley (2006) reconhecem que o modelo é bastante complexo, necessitando de pesquisas empíricas para testar cada relacionamento estabelecido entre as variáveis. Schlange (2009) desenvolveu um modelo simplificado, que intitulou de policêntrico, ao combinar os conceitos econômico, social e ecológico ao negócio, em concordância com a discussão de oportunidades e agregação de valor, caracterizando um empreendimento sustentável quando se percebe a intersecção dos três conceitos. No entanto, afirma que cada uma das variáveis, por si só, não é suficiente para captar a complexidade inerente do conceito triplo de sustentabilidade, se valendo para explicar a extensão do empreendedorismo econômico, como uma melhoria do empreendedorismo social e como um motivador do empreendedorismo ecológico.
Assim, do ponto de vista da oportunidade, o empreendedorismo sustentável é orientado em direção à criação de valores sustentáveis em seu sentido mais geral e, para o autor, isto engloba o aprofundamento da sobrevivência em longo prazo em todos os níveis relevantes, tanto da empresa como de seus stakeholders, a sociedade e, por último, mas não menos importante, a humanidade como um todo. Como requerimento para um empreendimento guiado pela sustentabilidade, a criação de valor neste sentido é baseada no princípio de encontrar as necessidades de stakeholders do presente sem comprometer a habilidade de se corresponder às necessidades de futuros stakeholders (Hockerts et al. 2006). E uma visão baseada em stakeholders sustenta-se na compreensão de que a empresa tem obrigações tanto para com ela mesma, quanto para os shareholders (Freeman,1984; Donaldson e Preston, 1995; Mitchell et al., 1997, Hesselbein et al.,1994) e suas operações devem incorporar princípios éticos, evitando prejudicar os outros, respeitando a autonomia dos indivíduos, evitando a mentira e honrando seus compromissos (Gibson, 2000).
  • O relacionamento da organização, com seus stakeholders, ocorre em três níveis (Rodriguez et al., 2002): o consubstancial, o contratual e o contextual. O nível consubstancial inclui os shareholders e investidores, os empregados e os parceiros estratégicos. Os autores destacam, especialmente, a necessidade de a empresa respeitar os valores pessoais dos colaboradores, mantê-los em constante processo de aprendizagem em uma sociedade de informação e substituir comportamentos vinculados ao controle dos empregados por práticas de confiança e de autocontrole. O nível contratual compreende os fornecedores e serviços terceirizados, as instituições financeiras e os clientes. A parceria entre fornecedores e a organização deve também ser baseada na confiança, com participação ativa das partes. O nível contextual incorpora os atores, a mídia, comunidades locais, países e sociedade e a administração pública. Rodriguez et al., (2002) dão atenção ao papel da empresa perante estes stakeholders, uma vez que os negócios são parte integrante do sistema natural e social.
Hartman et al. (1999) e Rossi et al. (2000) enfatizam a necessidade do estabelecimento de parcerias para o alcance da sustentabilidade, o que implica em uma série de trocas entre os diversos setores da sociedade. Os autores advertem que as parcerias devem fazer parte da pauta do empreendedor, cujos resultados podem enveredar para inovações, estabelecimento de novos valores sociais, e ainda alianças com governo, organizações não governamentais e sociedade, com o objetivo de criar uma cultura sustentável. Rossi et al. (2000) enfatizam o desenvolvimento de alianças como um requisito do desenvolvimento sustentável e Schneider (2002) propõe um modelo que contempla a influência da ação externa de um ambiente extra-institucional (globalização, avanços tecnológicos e gerenciamento lógico) e institucional (regulamentações, mercado de capitais e governança). Para os autores, este tipo de organização não é compatível com os modelos burocráticos clássicos predominantes da era industrial. Isto revela que a implementação de uma abordagem com propósitos voltados à sustentabilidade implica em práticas gerenciais mais participativas e negociadas com grupos caracterizados por múltiplos interesses, podendo exigir mudanças estratégicas fundamentais.
  • Schlange (2009) explica que os empreendedores movidos economicamente pretendem inicialmente criar valor econômico e que seu foco está nos stakeholders que influenciam diretamente o fluxo de dinheiro em um novo empreendimento de risco nos negócios. Já os empreendedores sociais são aqueles que pretendem gerar valores sociais e, nesse sentido, embora criar uma nova organização seja vital, o lucro não é parte de sua motivação. A necessidade de gerar dinheiro flui e os retornos para empreendimentos sociais são atenuados, mas de modo nenhum se tornam irrelevantes. E, para esse autor, os empreendedores movidos ecologicamente se voltam para a criação de valores que melhorem o ambiente ecológico e/ou impedem sua degradação. Como representa largamente uma soma de bens públicos, no entanto, a questão é se o propósito de aliviar a natureza dos efeitos destrutivos da intervenção humana e/ou incidentes ecológicos é comercial ou social. O autor pondera ainda que no primeiro caso, a lógica dos negócios é muito similar àquela discutida em relação aos empreendedores movidos economicamente: oportunidades de negócios verdes que são vistas como meios de se criar um empreendimento potencialmente viável, já que o aspecto ecológico pode ser usado para se gerar vantagem competitiva. No segundo caso, no entanto, a causa social é guia principal, refletindo a idéia de que a deterioração ambiental irá, eventualmente, atingir largamente a sociedade.
Schlange (2009), no entanto, alerta para o fato de que os três conceitos de empreendedores têm autonomia quanto à conformação de seus stakeholders, mas somente a intersecção entre as três dimensões não é suficiente para se entender o empreendedorismo sustentável. Assim, visando contemplar um modelo que considera todos os stakeholders agrupados sob um perspectiva, com a concepção de que “um todo é maior do que a soma de suas partes”, desenvolve um modelo, corroborando os pressupostos de Isaak (2002) ao mencionar que a idéia de sustentabilidade para uma personalidade empreendedora pode conter em si uma esfera ética ou até mesmo espiritual, elevando o conceito ao entendimento holístico da situação empreendedora que transcende qualquer perspectiva específica de uma área de estudo.
  • Além dos modelos de Young e Tilley (2006) e de Schlange (2009), Borges et al. (2013) sugerem uma tipologia par para o empreendedorismo sustentável organizada em indicadores e tipos.
Indicador:
  • Nicho da sustentabilidade explorado
  • Papel da sustentabilidade
  • Uso da responsabilidade social empresarial
Tipo:
  • Negócio ambiental
  • Negócio social
  • Sustentabilidade como meio
  • Sustentabilidade como objetivo
  • Com responsabilidade social empresarial
  • Sem responsabilidade social empresarial
Demonstra-se a relação entre os indicadores com os tipos de empreendedorismo sustentável. Borges et al. (2013) argumentam que pesquisas empíricas realizadas com essas diferentes categorias podem evidenciar empreendedores sustentáveis atentos aos negócios ambientais ou sociais e não apenas empreendedores que se voltam aos aspectos econômicos e financeiros, como único argumento de se fazer negócios. Estes empreendedores seriam reconhecidos como aqueles que se preocupam com as questões sociais, além de aprenderem a lidar com outro conceito complexo que é Responsabilidade Social Empresarial.
  • Os tipos de empreendedorismos apontados pelos autores resumem os nichos de sustentabilidade que podem determinar e o negócio é voltado para negócios Ambientais ou para negócios Sociais Borges et al. (2013) argumentam que o fato de criar uma empresa com base em um produto ambiental ou social, não significa necessariamente que o empreendedor agirá com responsabilidade social e ambiental. Assim, identificar que tipo de papel da sustentabilidade o negócio encaminha, se como meio ou como objetivo e ainda se o indicador do negócio tem ou não responsabilidade social empresarial. Os autores ressaltam que boa parte das MPEs ainda vive a dicotomia desses dois fatores – ambiental e social, e avaliar esses itens faz toda diferença.
De maneira geral, no contexto das MPEs, as questões voltadas à sustentabilidade ainda são vistas como um desafio de difícil alcance para muitos dos empreendedores, quer seja por falta de informação, quer seja por questões relacionadas à sua formação.

Outras Considerações:
  • O tema do desenvolvimento sustentável, embora já presente na agenda de empresas e na literatura desde a década de 1980, ainda prescinde de uma prática empresarial no contexto das MPEs. Há evidencias de que são poucas as empresas que efetivamente se orientam por esta visão. Ao planejar uma estratégia que contempla a sustentabilidade, é necessário considerar os interesses dos stakeholders, bem como o envolvimento dos mesmos com o desenvolvimento da economia local, da educação e da participação da comunidade. Isso implica em considerar o desenvolvimento sustentável como um processo que impõe mudanças e limites, ao se considerar que seu princípio dificilmente deixará de ser defensável por todos e pelo fato de que os diferentes grupos de interesse reagem de forma distinta. Assim, observa-se que nem todas as empresas e empreendedores compartilham a crença de que o desenvolvimento sustentável faz muito sentido para o mundo dos negócios.
Por outro lado, há a necessidade de se desenvolver habilidades de forma sustentável para se garantir o presente sem se dificultar que as futuras gerações caminhem de maneira saudável. Este é o princípio do desenvolvimento sustentável – não muito difícil de ser entendido, porém difícil de ser praticado.
  • Borges et al (2013) afirmam que a prática da responsabilidade social empresarial pode tornar mais complexa a vida do empreendedor sustentável. Para esses autores, o empreendedor terá que compor os custos e dificuldades de implementação desta responsabilidade em um mercado que, apesar de receptivo aos produtos ambientais e sociais, prefere quase sempre produtos mais baratos ou que agreguem outros atributos.
A busca pelo crescimento econômico, abrindo perspectivas para a sociedade sem destruir o ambiente, não pode mais ser um desafio inatingível, mas um item constante na pauta dos empreendedores, independentemente do porte e do ramo de suas empresas. As ações de sustentabilidade, sobretudo aquelas vivenciadas pelas MPEs por meio de seus empreendedores, podem refletir na redução da pobreza, além de servir de exemplo para outras comunidades, deixando um legado para a humanidade.
  • Almeida (2002) pontua que, à primeira vista, o reconhecimento de tal poder e riqueza nas mãos das corporações contradizem a nova realidade do mundo tripolar, em que o poder é equilibrado entre empresas, governo e sociedade civil organizada e a área de ação dessas três bases se dá nas dimensões econômica, ambiental e social. As contradições aparentes são uma característica do mundo contemporâneo e a sobrevivência será o prêmio para quem melhor souber lidar com elas.
As MPEs precisam rever suas agendas para contribuir com esses aspectos e também deixar um legado, não apenas para a sociedade, mas também para as famílias, tendo em vista que boa parte dessas empresas é constituída de grupos familiares.
  • Carvalho et al. (2013) ressaltam que um dos pontos fundamentais para que a sustentabilidade passe a fazer parte da pauta dos empreendedores está relacionado ao processo de aprendizagem e da formação pessoal e social dos mesmos, que ocorre mediante diferentes experiências. A busca por informações, a aprendizagem adquirida formal ou informalmente, participação em cursos ou palestras e aprendizagem com familiares mais experientes podem ser recursos que contribuam com o desenvolvimento dos negócios, firmando o papel do empreendedor como um agente responsável e atento às questões da sustentabilidade.
Assim, ao planejarem suas ações, é preciso alinhar os negócios das empresas aos princípios do desenvolvimento sustentável, procurando envolver as pessoas e colaboradores do negócio, no contexto das práticas, por mais simples que sejam, pois somente dessa maneira será possível criar hábitos de sustentabilidade e incorporá-los à cultura organizacional, levando isso para a sociedade e para as famílias. Essas ações terão implicações diretas para os stakeholders, no sentido de criação de valor do negócio, maior envolvimento deles com o negócio, e ainda a oportunidade dos empreendedores se destacarem como agente que não são movidos exclusivamente pelo fator econômico.
  • Essas medidas podem contribuir para que as MPEs recorram às práticas do desenvolvimento sustentável como um fio condutor dos negócios, de modo a oferecerem ao planeta, ao mercado e aos consumidores a chance de testar a criatividade no desenvolvimento de novas práticas empreendedoras e exigir a assunção de responsabilidades num movimento de comprometimento recíproco. Isto implica em promover mudanças na própria cultura e assumir uma responsabilidade junto aos stakeholders na viabilização das estratégias de negócio que visam ao equilíbrio dos princípios norteadores do desenvolvimento sustentável.
Sabe-se que não se trata de uma tarefa simples e fácil, pois irá requerer das pessoas um despojamento de usos e costumes enraizados. Por outro lado, os movimentos em pró do verde e da sociedade precisam ser reforçados, pois dificilmente o princípio do desenvolvimento sustentável deixará de ser defensável por todos, apesar das diferentes reações e compartilhamento dos grupos de interesse nas atividades praticadas pelas empresas.
  • Coordenar esses esforços seria o grande desafio de empreendedores para viabilizar as práticas de desenvolvimento sustentável e impulsionar estas práticas como estratégia de competitividade das empresas. Esse tema abre perspectivas para outras pesquisas teóricas e empíricas, corroborando a ampliação da área de conhecimento firmando o campo do empreendedorismo sustentável como tema emergente.

Casas feita com materiais reciclados e garras Pet