quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Os Agrotóxicos e o Meio Ambiente

Os Agrotóxicos e o Meio Ambiente

  • O uso de produtos fitossanitários na agricultura ocorre há séculos. Registros mencionam a utilização ,de sulfurados no século XI e, aplicação de arsênio já em 1700. Entretanto, somente a partir do século XX, com a introdução da molécula sintética do herbicida DDT (diclorodifeniltricloroetano) por Muller em 1931, ocorre o reconhecimento da eficiência do controle químico, sendo o marco inicial da era “química” na produção vegetal (NUNES; RIBEIRO, 1999).
Em, 1950, período pós-guerra, com advento da “Revolução Verde”, observa-se mudanças no processo do manejo tradicional da agricultura bem como nos impactos causados ao ambiente e a saúde humana (MOREIRA et al., 2002). 
  • Segundo Konradsenet al. (2003) a introdução de agroquímicos na agricultura brasileira, por volta da década de 60, está vinculado aos Programas de Saúde Pública, que por si tinham como objetivo o combate de vetores e de parasitas.
Neste contexto, a exposição humana a estes produtos se constitui em grave problema de saúde pública em todo o mundo, principalmente nos países em desenvolvimento.
  • No Brasil, partir de 1970, criou-se a necessidade de regulamentação dos agrotóxicos, tendo em vista o aumento do uso no País. A legislação foi sendo atualizada, através de inúmeras portarias e, posteriormente, pela Lei dos Agrotóxicos (Lei 7.802, de 11 de julho de 1987) e sua regulamentação (Decreto nº 98.816, 11 de janeiro de 1990) e atualizada conforme a necessidade até os últimos anos (Decreto: Lei 4.074, 04 de janeiro de 2002).
Apesar da grande importância das atividades agrícolas, há pouco interesse no estudo de aspectos da saúde e segurança na agricultura. Existe grande interesse em desenvolver novas tecnologias para aumento da produção na agropecuária, sem levar em consideração os impactos à saúde e à segurança do trabalhador (FRANK et al., 2004).
  • Sendo assim, o objetivo desta revisão é relatar sobre a utilização de agrotóxicos na agricultura e suas consequências toxicológicas e ambientais no Brasil.
O Brasil é um dos poucos, entre os grandes produtores agrícolas mundiais, que reúne características como competitividade e área disponível para prover a demanda de alimentos, fibras e energia renovável no mundo (ANDEF, 2009). 
  • Entretanto, neste cenário não se pode negar que em qualquer atividade agrícola, especialmente na produção de cereais, a atividade somente será competitiva quando atingir elevado nível de tecnologia em toda cadeia produtiva com a finalidade de baixar o custo final de produção, no entanto, lamentavelmente inserido neste “pacote tecnológico”, a utilização de produtos agrotóxicos tem sido crescente (PERES et al., 2005).
No atual sistema de produção agrícola torna-se comum a desestruturação ecológica do meio ambiente, que se agrava pela remoção de plantas competitivas, linhagens por seleção, monocultivo, adubação química, irrigação, podas e controle de pragas e doenças. 
  • Consequentemente, como medida corretiva para esse desequilíbrio ambiental, o controle químico passa ser um mecanismo fundamental para assegurar a proteção contra baixas produtividades ou até a destruição da espécie cultivada (JEPPSON et al., 1975). 
No entanto, o impacto social e ambiental causado pelo uso desordenado destes produtos agrotóxicos tem causado constante preocupação por parte da sociedade (IBAMA, 2009).

Uso de agrotóxicos no Brasil:
  • O mercado de agrotóxicos no Brasil é caracterizado pela grande oferta de produtos, além de ser oligopolista (Tabela 1), onde apresenta,crescimento significativo, expandindo-se, em média, 10% ao ano, de forma que manteve-se entre 1970 e 2007 entre os seis maiores consumidores do mundo (TERRA, 2008).
Em 2008, o Brasil assumiu a colocação de maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Segundo levantamento realizado pelo Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (SINDAG), as vendas de agrotóxicos somaram US$ 7,1 bilhões diante de US$ 6,6 bilhões do segundo colocado, os norte americanos (ANDEF, 2009).
  • Os agrotóxicos utilizados no Brasil são classificados de acordo com sua finalidade, sendo definidos pelo seu mecanismo de ação no alvo biológico, sendo os mais comuns, plantas daninhas, doenças e pragas de espécies agrícolas cultivadas. 
Neste mercado, os herbicidas (48%), inseticidas (25%) e fungicidas (22%) movimentam 95% do consumo e acordo com a Figura 1 os herbicidas são os mais utilizados dentre os agrotóxicos. Pois, o manejo de plantas daninhas é uma prática de grande importância para a diminuir as perdas por competição, perdas na colheita, obtendo altos rendimentos, em qualquer exploração agrícola. Sendo estas importâncias tão antigas quanto à própria agricultura (EMBRAPA, 2003). 
  • Segundo o mesmo autor o aumento crescente no consumo elevado dos herbicidas, se dá principalmente em razão da expansão da fronteira agrícola e do aumento de terras onde é praticado o plantio direto.
O destaque é a participação do ingrediente ativo glifosato no mercado brasileiro, que representa 76% do total de herbicidas comercializado (IBAMA, 2009).
  • Os inseticidas ocupa a segunda posição o mercado de comercialização dos agrotóxicos com 25%. É representado por três grupos: organoclorados, inibidores da colinesterase (fosforados orgânicos e carbamatos) e piretróides naturais e sintéticos. Os fosforados orgânicos e os carbamatos, também conhecidos como inibidores da acetilcolinesterase são os inseticidas mais utilizados. Sendo o principio ativo cipermetrina responsável por mais de 55% da comercialização IBAMA (2009).
Muitos tipos de fungicidas são comercializados sob grande quantidade de estruturas químicas, ocupando terceira colocação, com 22% da comercialização de agrotóxicos no Brasil. A maioria tem relativamente baixa toxicidade a mamíferos. E seu maior impacto ambiental é a toxicidade para os microrganismos do solo (EDWARDS, 1998). 
  • Sendo os princípios ativos do enxofre e carbendazim responsável pela grande comercialização dos produtos com ação fungicida (IBAMA, 2009).
Segundo o mesmo autor a distribuição dos ingredientes ativos mais utilizados em cada estado é semelhante à distribuição no Brasil. Ingredientes ativos como o glifosato, 2,4-D e os óleos mineral e vegetal destacam-se por estar entre os cinco ingredientes ativos mais comercializados em quase todos os estados. Assim, conforme o tipo da cultura e as necessidades de cada região haverá algumas alterações na configuração. 
  • Em relação a utilização de agrotóxicos pelos estados brasileiros, segue em ordem decrescente: Mato Grosso, São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Goiás, Minas Gerais, Bahia, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Maranhão.

O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, embora não seja o maior produtor. Atualmente o Brasil utiliza 19% de todo defensivo agrícola produzido no planeta.


Consequências e Perigos Toxicológicos e Ambientais:
  • No Brasil existem poucos estudos sobre a saúde do trabalhador rural, embora profissionais de saúde e de extensão rural, considerem frequente esta morbidade entre os agricultores. Machado e Gomes (1994) remetendo-se sob a negligência das ocorrências dos acidentes de trabalho no meio rural inclusive no caso das intoxicações por agrotóxicos e suas conseqüências, considera que seja pertinente a suposição da existência de epidemias submersas na incompetência institucional.
No preparo de calda de agrotóxicos, o trabalhador manipula a embalagem, rompe o lacre, retira a tampa e o lacre do bocal da embalagem, dosa a formulação e recoloca a tampa (TÁCIO et al., 2010). 
Neste sentido, o risco de intoxicação do trabalhador consequentemente é maior nas atividades de preparo de formulações de agrotóxicos, do que na própria aplicação em campo, devido à diluição das formulações em água (VAN HEMMEN, 1992; OLIVEIRA, 2000).
  • Sendo inevitável o contado com o princípio ativo sob alta concentração, consequentemente maior exposição de risco à saúde humana.
As condições de trabalho no meio rural é composta pelo meio ambiente onde o trabalhador se encontra e pelos componentes materiais utilizados para realizar a sua atividade laboral. As medidas de segurança podem ser agrupadas em preventivas e de proteção, que, podem ser agrupadas em individuais e coletivas. 
  • As medidas de segurança coletiva são aquelas relacionadas ao meio e aos ambientes de trabalho para controlar a exposição dos trabalhadores (MACHADO NETO et al., 2007). A pesar de a legislação brasileira ser bastante moderna e abrangente, os casos de intoxicação em trabalhadores rurais são frequentes no País. 
Os dados do Sistema Nacional de Toxicologia (SINITOX, 2009) revelam que, ocorreram 3.813 casos registrados de intoxicação por agrotóxicos agropecuários, sendo que se consideramos os demais a gente causais de intoxicação, soma 77.458 casos em humanos em todo o Brasil. Logo os agrotóxicos de uso agrícola representam em aproximadamente 5%.
  • Além da seriedade com que vários casos de contaminação humana e ambiental têm sido identificados no meio rural. No que tange ao impacto sobre saúde humana causado por agrotóxicos, diversos fatores podem contribuir. 
Alguns dos principais fatores através dos quais a causa da contaminação por agrotóxicos é estabelecida, assim como identifica alguns dos determinantes que podem vir a minimizar ou amplificar este impacto (SINITOX, 2009). 
  • Isso confirma que o uso inadequado do produto, atrelado a causas não agrícolas (suicídio) são responsáveis por mais de 50% das intoxicações em humanos no Brasil.
Com os dados apresentados na fica difícil alegar que os problemas provocados pelos agrotóxicos sejam decorrentes a utilização dos mesmos, e sim pelo inadequado uso desses produtos, pois a rigidez e evolução da legislação e do sistema de registro garantem que os produtos colocados à disposição do usuário são seguros, quando bem utilizados.
  • A contaminação por agrotóxicos é um tema que vem despertando atenção crescente, tendo em vista suas conseqüências para a saúde humana e o risco de degradação do meio ambiente, causados por seu uso crescente e às vezes inadequado (SOARES et al. 2005).
Devido a esse uso crescente e a grande concorrência no mercado de agrotóxicos.O registro dos produtos já era praticado antes, mas a Lei dos Agrotóxicos foi considerada um avanço do ponto de vista da preservação da saúde pública e do ambiente. Um dos pontos importantes da Lei é que só permite o registro de novo produto se for comprovadamente igual ou de menor toxicidade aos já registrados para o mesmo fim (GARCIA et al. 2005)
  • Para ser usado na agricultura e diminuir os danos ao ambiente algumas observações são recomendadas segundo Embrapa (2003) o mesmo deve ser registrado para a cultura e para a praga alvo, levar em consideração o nível de infestação e local de aplicação; usar na dose recomendada pelo fabricante; observar as restrições de uso e da área; fazer aplicação somente quando as condições de tempo forem favoráveis, respeitar o período de carência e sempre consultar a bula do fabricante, além do receituário agronômico.
A toxicidade dos agrotóxicos é variável e depende das propriedades dos ingredientes ativos e inertes do produto. Os efeitos dos agrotóxicos podem ser agudo, subcrônicos e crônicos. Esses efeitos podem interferir na fisiologia, no comportamento, na reprodução dos organismos (IBAMA, 2009). 
  • Segundo o mesmo autor a toxicidade esta em função do tempo de persistência disponível no meio ambiente, os agrotóxicos podem interferir em processos básicos do ecossistema, como a respiração do solo, ciclagem de nutrientes, mortandade de peixes ou aves, bem como a redução de suas populações, entre outros efeitos.
A distribuição de comercialização de agrotóxicos no Brasil, com predominância de marcas comerciais classificadas nas classes ambientais II (produtos muito perigosos ao meio ambiente) e III (produtos perigosos ao meio ambiente).

Outras Considerações:
  • É fato que para se produzir alimentos em larga escala, é indispensável o uso consciente dos agrotóxicos como uma ferramenta a mais para assegurar a proteção, contra baixas produtividades, ou perdas de culturas. 
Porém o controle químico só deve ser empregado após aplicação de todos os métodos de controles disponíveis, para se evitar problemas toxicológicos tanto para o homem quanto para o meio ambiente.

Os Agrotóxicos e o Meio Ambiente