sábado, 16 de janeiro de 2016

Outros Recursos da Construção Civil - (Portugal)

Adobe, Tijolo ou paralelepípedo feito com uma mistura de barro cru

Matérias-Primas (materiais):
Enquadramento:
  • Para se realizarem as construções, o Homem retira os materiais de variadas fontes que o rodeiam, concentrando-os num local específico. Estes materiais são posteriormente processados e ensamblados de modo a constituírem as envolventes que o protegerão dos elementos climáticos e de outros organismos hostis. É indiscutível que qualquer atividade construtiva comporta a utilização, redistribuição e concentração de algum recurso energético ou material da Terra numa determinada área específica, alterando a ecologia dessa parte da biosfera e desequilibrando o ecossistema local.
Como já se referiu anteriormente, a indústria da construção é um dos maiores consumidores de recursos naturais, tendo por isso grande responsabilidade na delapidação desses recursos e, por conseguinte, na degradação do meio ambiente. A construção de edifícios é atualmente responsável pelo consumo de 25% da madeira e 40% dos agregados (pedra, brita e areia) que se verifica em todo o mundo (Ngowi, 2000).
  • Os materiais de construção são extraídos e transportados até aos locais de aplicação em distâncias que podem chegar a ser intercontinentais. Assim, os recursos incorporados nas construções não estão apenas relacionados com o peso dos materiais utilizados, mas também com a energia proveniente de fontes não renováveis, consumida na sua extração, processamento, armazenamento, transporte para o local de construção, montagem e construção em obra. 
Para além destes, existem outros factores relacionados com os materiais e sistemas construtivos utilizados, como a energia necessária à manutenção das condições de conforto interior, futura reciclagem, reutilização ou reintegração ecológica.
  • O impacto que determinados materiais apresentam para a saúde dos ocupantes dos edifícios e para os ecossistemas não pode ser ignorado, devendo-se analisar previamente a toxidade de cada um dos materiais a utilizar.
Por estas razões, é na fase de projeto que deverão ser tomadas as decisões que tenderão a mitigar os impactes produzidos na utilização dos materiais na construção. Este objectivo só se consegue atingir através da integração de todas os factores referidos anteriormente nas diversas tomadas de decisão. 
  • É da responsabilidade dos diversos decisores que intervêm na fase de projeto (Promotor, Empreiteiro, Equipa de Projeto, etc.) a criação de um edifício como uma forma de gestão de energia e materiais, de modo a que este contribua na gestão prudente dos recursos.
Assim, a equipa de projeto, deverá adotar uma série de estratégias de modo a selecionar os materiais que vai utilizar nas suas construções. Para além dos critérios arquitetônicos comuns (estética), a seleção deverá ainda compreender os seguintes critérios:
  • Energia incorporada no material. Deve-se ter em conta o custo energético relacionado com a energia incorporada no material durante a totalidade do seu ciclo de vida;
  • Impacte ecológico incorporado no material. Os materiais possuem impacte no meio ambiente como consequência da sua extração, produção e transporte até à obra;
  • Potencial de reutilização e reciclagem dos materiais, como consequência do desgaste a que estão sujeitos durante o seu ciclo de vida;
  • A toxidade do material para os seres humanos e ecossistemas;
  • Os custos econômicos associados ao ciclo de vida dos materiais (custo inicial, custo de manutenção e custo de demolição/desmantelamento.
Energia incorporada no material:
  • A energia incorporada nos materiais corresponde à quantidade de energia necessária para a sua produção, transporte, aplicação na obra, manutenção e demolição. 
Esta energia pode variar entre 6 a 20% da quantidade total de energia consumida durante a vida útil de um edifício, dependendo, entre outros factores, dos sistemas construtivos utilizados, do número de utilizadores do edifício, do grau de conforto exigido pelos ocupantes e do clima do local. 
  • Cerca de 80% deste valor, corresponde à Energia Primária Incorporada (PEC) dos materiais (do inglês PEC – Primary Energy Consumption). A PEC corresponde aos recursos energéticos consumidos durante a produção dos materiais, incluindo a energia diretamente relacionada com a extração das matérias-primas, com o seu transporte para os locais de processamento e com a sua transformação (Berge, 2000). 
Os restantes 20% incluem a energia consumida durante o transporte dos materiais de construção para o estaleiro de obra, a necessária durante a fase de construção para os processos de elevação e montagem, para os processos de manutenção e reabilitação dos elementos de construção e a necessária para as operações de desmantelamento e demolição dos edifícios no final do seu ciclo de vida.
  • Os valores de PEC apresentados possuem uma elevada margem de erro pois dependem de uma série de factores, entre os quais se destacam: a eficiência do processo de transformação; o tipo de combustível utilizado no processo de transformação das matérias-primas e no seu transporte; a distância de transporte das matérias-primas; a quantidade de matéria reciclada utilizada. Assim, o valor da PEC não é constante, variando de país para país e mesmo dentro de cada país, de região para região, e também de autor para autor, dependendo das variáveis consideradas.
De forma a se reduzir a energia incorporada nos edifícios através dos materiais de construção, devem ser observados os seguintes critérios na sua seleção:
  • Preferir os produtos locais. Está provado que uma parte importante da energia incorporada num material está associada ao seu transporte até à obra. Assim, em igualdade de circunstâncias, deve-se preferir materiais de construção produzidos na região pois, terão que percorrer distâncias mais curtas que os procedentes de locais mais longínquos;
  • Utilizar materiais com elevado potencial de reutilização e/ou grande durabilidade. A ideia de que os materiais de baixa energia são preferíveis aos materiais de alta energia incorporada nem sempre é correta. Na análise comparativa e seleção dos materiais deve-se ter em conta a totalidade do seu ciclo de vida (LCA – Life Cycle Assessment). A seleção de um material com maior quantidade de energia incorporada pode ser mais vantajosa desde que o seu ciclo de vida seja mais alargado, pois o custo ambiental associado à energia incorporada acaba por ser amortizado num maior número de anos. Por outro lado, serão preferíveis os materiais que possam ser diretamente reutilizados sem passar por processos de transformação com custos energéticos; A construção em betão armado tem praticamente a mesma quantidade de energia incorporada que a de aço, mas é no entanto menos reciclável no final da sua vida útil. Em geral, o aço estrutural pode ser reciclado e/ou reutilizado a 100%, podendo ser de novo utilizado como elemento estrutural, enquanto que a maior parte do betão só pode ser reutilizada sobre uma forma degradada (por exemplo, como agregado) e só com grandes limitações pode ser reciclado outra vez para a sua função estrutural (Yeang, 2001).
  • Utilizar materiais/sistemas de construção de baixa massa. Como a quantidade de energia incorporada num material/sistema de construção está relacionada com a sua massa, em geral quanto menor for a massa de um edifício, menor será a quantidade de energia incorporada. A construção leve, como por exemplo, a construção em madeira, possui menor energia incorporada do que a construção em betão armado. 
A título de exemplo, refere-se o consumo de energia associado à produção em Portugal de alguns dos materiais de construção mais utilizados. O cimento é um dos materiais mais utilizados na construção portuguesa. As indústrias responsáveis pelo fabrico do cimento consomem cerca de 11% da energia total consumida pela indústria transformadora, o que equivale ao consumo médio anual de aproximadamente 0,9 Mtep. 
  • Também na indústria da cerâmica e do vidro, cujo maiores clientes são as empresas de construção, é consumida uma elevada quantidade de recursos energéticos, sendo este sector responsável pelo consumo de 15,7% da energia consumida pela indústria transformadora, o que equivale ao consumo anual de aproximadamente 1,3Mtep. 
Apesar da quantidade de energia incorporada num material de construção ser um indicador chave para a seleção dos materiais num projeto responsável para com o meio ambiente, este indicador não pode ser estudado independentemente de outros factores, como por exemplo, o comportamento passivo dos edifícios. Como já se mencionou anteriormente, a energia incorporada num edifício corresponde no máximo a 20% da energia total consumida durante a sua vida útil, pelo que, a maior quantidade de energia está associada ao seu funcionamento. 
  • Assim, apesar de ser importante a seleção de materiais de baixa energia incorporada, não se pode esquecer o comportamento passivo do edifício. A seleção de um material com baixa energia incorporada e com mau comportamento térmico compromete os objetivos do projeto ecológico, pois o consumo energético durante a sua vida útil do edifício acaba por ser maior. Quando se compara a energia incorporada de soluções construtivas diferentes, o importante não é comparar a energia por unidade de massa ou de volume. A comparação deve ser realizada ao nível de cada “unidade funcional” do edifício, isto é, ao nível de cada elemento com funções similares. 
A título de exemplo, apesar do aço, apresentar a PEC por unidade de massa mais alta que o betão armado, a sua resistência, em contrapartida, é consideravelmente superior. Será assim necessária uma menor massa de aço de que de betão para realizar a mesma função estrutural, pelo que a energia incorporada no edifício poderá ser menor.

Impacto ecológico incorporado no material:
  • O impacto ecológico incorporado reflete o impacto ambiental do material ou componente da construção (tanto local como globalmente) que decorre em toda a cadeia de atividades que se desenvolvem desde a extração das matérias-primas até à sua montagem no edifício. Como indicador deste impacto normalmente costuma-se utilizar as emissões de dióxido de carbono (CO2) (Howard et al., 1995). 
Este indicador denomina-se por Potencial de Aquecimento Global (PAG) e mede-se em gramas equivalentes de CO2. O CO2 é, como já se referiu, um dos gases com maior responsabilidade nas alterações climáticas.
  • A sua produção está associada à combustão de combustíveis fósseis que tem lugar em algumas atividades a que o material está sujeito. 
No entanto, as emissões de CO2 não são o único impacto ambiental relacionado com o material, devendo ser analisados outros factores como a contaminação dos cursos de água, delapidação dos recursos naturais e os custos energéticos no seu transporte.
  • Durante as fases de extração e produção dos materiais, existem certos materiais que produzem impactes significativos sobre os cursos de água, principalmente devido aos produtos químicos utilizados. 
Como certos materiais podem ser fabricados de diferentes maneiras e com diversos graus de efeito contaminante, será em primeiro lugar preferível e sempre que possível, a seleção de materiais com baixo efeito contaminante, seguida pela seleção de produtos que advém de indústrias com melhor gestão ambiental. 
  • Por exemplo, devem-se preferir as empresas que utilizam a água oxigenada para branquear o papel, em detrimento daquelas que utilizam o Hipoclorito de Sódio (lixívia).
Com a grande procura de matérias-primas que se assiste na Indústria da Construção, verifica-se a diminuição acentuada das reservas de certas fontes de materiais. No entanto, existem ainda algumas fontes que ainda não estão totalmente exaustas ou que possuem reservas abundantes, pelo que se deve preferir materiais provenientes dessas fontes. Um exemplo de um recurso abundante em toda a superfície terrestre e com elevadas potencialidades na Construção é a pedra.
  • A utilização de aço não reciclado e de cobre deve ser limitada pois, atendendo ao ritmo atual e previsto de extração da matéria-prima, estima-se que as reservas do primeiro só estão garantidas por mais cerca de 20 anos e as do segundo por mais cerca de 35 anos (Berge, 2000). 
A quantidade de água utilizada pelos materiais ou sistemas construtivos é também um factor que deve influenciar a seleção. Como a água é um bem cada vez mais escasso em grande parte do globo, cabe aos projetistas a seleção de materiais e sistemas construtivos que utilizem pouca água.
  • Os danos colaterais associados à escavação e extração dos minerais também não podem ser ignorados, pois existem certos minerais, como por exemplo, o ouro e o alumínio, que para serem extraídos podem produzir graves danos no ecossistema local.
Potencial de reutilização e reciclagem:
  • A seleção dos materiais deve-se basear no seu potencial de reutilização e reciclagem. Depois do material completar o seu ciclo de vida inicial, este possui um determinado potencial de reutilização e reciclagem que é função da sua capacidade de vir a ser utilizado novamente como recurso. 
O conhecimento da potencialidade de reutilização e reciclagem de um material é bastante importante na gestão racional dos recursos e produtos de um edifício que apresenta como objetivos a redução do impacte das construções sobre o meio natural; e sempre que possível procura renovar, restaurar e melhorar o meio ambiente. 
  • Para que estes objetivos sejam conseguidos, na seleção dos materiais devem-se preferir aqueles que possuem maiores potencialidades de reutilização àqueles com algumas potencialidades de reciclagem, pois a reutilização directa consume menor quantidade de energia, embora ambas evitem a descarga de produtos no meio ambiente.
É preferível dar maior ênfase, na seleção dos materiais, à sua capacidade de reutilização e reciclagem em detrimento da energia incorporada. Quanto mais vezes se utiliza um material ou componente, mais baixo será o custo de energia incorporada, pois este acaba por ser amortizado no número de utilizações do material.
  • A maior parte dos materiais de construção pode ser reciclada. Posteriormente, apresentam-se algumas soluções para a reciclagem de metais, plásticos, vidro, madeira, betão e materiais cerâmicos. 
A quantidade de soluções é na realidade muito maior e todos os dias surgem novas soluções, devido às investigações que se vão desenvolvendo neste domínio.
  • Os metais são recicláveis se for possível separá-los por tipo. Os elementos de construção em aço e em alumínio possuem elevado potencial de reciclagem. É atualmente possível a produção de perfis de aço laminados e de aço em varão a partir de matéria-prima 100% reciclada. Com a atual tecnologia de reciclagem do aço é possível reduzir entre 50% a 70% o consumo energético e emissão de gases poluentes na sua produção. O alumínio é também 100% reciclável e com a sua reciclagem é possível diminuir a energia incorporada e a emissão de gases poluentes em cerca de 90% (Tshudy, 1996).
  • A maior parte dos plásticos podem ser granulados e reciclados na produção de novos produtos de plástico. No entanto, as taxas atuais de reciclagem são bastante baixas devido principalmente à elevada variedade de plásticos e à dificuldade que existe em os separar. A título de exemplo, o Polietileno de Elevada Densidade (PED) pode ser reciclado para a realização de caixotes de lixo, baldes, cones de tráfego, etc. Os aditivos, proteções e os corantes utilizados na produção dos plásticos dificultam a sua reciclagem.
  • Os produtos de vidro podem ser reciclados se devidamente separados e não contaminados. O vidro da construção deve ser separado do vidro proveniente do lixo doméstico (garrafas, etc.). Atualmente a reciclagem do vidro existente nos resíduos da construção é pouco praticada. O vidro pode ser diretamente reutilizado ou reciclado, por exemplo, como agregado, depois de granulado, para a execução do betão. Com a reciclagem do vidro é possível reduzir a sua energia incorporada em 20% (AGO, 2003).
  • Os produtos em madeira podem ser facilmente reutilizados se estiverem em bom estado de conservação: portas e janelas de dimensões standard podem facilmente vir a ser reutilizadas noutras construções; elementos estruturais em madeira podem vir a ser facilmente reutilizados se estes estiverem ligados de modo a que sejam facilmente desmontados. Caso o estado de conservação dos produtos em madeira não seja o melhor, a sua valorização energética é uma solução possível.
  • O betão e os produtos cerâmicos (tijolos e telhas) são exemplos de materiais cuja recuperação e reutilização é difícil. 
Os elementos em betão, tal como os produtos cerâmicos, depois de britados podem ser reciclados em agregados para o fabrico de betão, ou podem ser utilizados na execução de caixas de pavimento em pisos térreos ou nas bases de estradas.

Toxidade do material:
  • A toxidade de um material expressa os efeitos nocivos que este pode infligir no ser humano e no ecossistema que o rodeia. Cada material, produto ou componente a utilizar num edifício deve ser devidamente analisado, em especial, as suas especificações técnicas e o seu processo de fabrico com vista à identificação de compostos químicos que sejam tóxicos.
A fraca qualidade do ar no interior dos edifícios é causada por fontes interiores e exteriores de emissões gasosas e partículas sólidas, e surge quando a produção destes elementos excede a capacidade dos sistemas de ventilação e filtragem em diluir ou remover esses poluentes até a um nível aceitável. Apesar da maioria dos poluentes ter origem no exterior e nas atividades que se desenvolvem no interior pelos ocupantes e equipamentos, existem outros poluentes emitidos a partir dos materiais e que podem influenciar significativamente a qualidade do ar interior.
  • A exposição aos poluentes interiores coloca sérios riscos à saúde dos ocupantes. Existem uma série de doenças e sintomas que poderão estar relacionados com a qualidade do ar interior, como por exemplo, as dores de cabeça, cansaço, tosse, irritação do nariz dos olhos e garganta, a asma e até o cancro.
Os diversos tipos de poluentes produzidos no interior do edifício e que contribuem para degradação da qualidade do ar interior são (Bernheim, 1996):
  • Compostos orgânicos voláteis (COV), emitidos pelos materiais, componentes e mobiliário existente no interior do edifício;
  • Os COV emitidos pelos produtos de limpeza e de manutenção utilizados no interior do edifício;
  • As fibras que se desagregam de produtos têxteis e de sistemas de isolamento;
  • Poeiras de terra, materiais biológicos (por exemplo, fungos e bactérias), e os gases libertados pela atividade biológica;
  • Pó e outras partículas libertadas pela utilização de aerossóis e nas operações de acabamento/manutenção de certos materiais e componentes (raspagem, lixagem, etc.)
Na constituição dos materiais e componentes de construção pode ser empregue uma panóplia de produtos químicos. A maior parte desses químicos, por serem recentes, ainda não se encontram suficientemente estudados pelo que não se conhecem os efeitos na saúde dos ocupantes. 
  • Mais grave e ainda menos conhecido é o efeito cumulativo e interativo da exposição aos compostos químicos, pois existem doenças que se manifestam passado um longo período após a exposição e existem compostos que isoladamente não apresentam qualquer perigo mas que em combinação com outros apresentam riscos para a saúde.
Estabelecer o conteúdo tóxico de um material pelo conhecimento da quantidade de compostos químicos, regime de emissões de gases que podem ser transmitidos aos ocupantes do edifício e de outras características potencialmente perigosas, não é uma ciência exata. 
  • Nos Estados Unidos, os fabricantes foram obrigados a editar folhas de dados sobre a segurança dos materiais (MSDS – Materials Safety Data Sheets), o que constitui o primeiro passo na determinação da presença de produtos químicos prejudiciais nos produtos. 
As folhas MSDS são disponibilizadas pelos fabricantes a pedido do cliente e contêm uma listagem dos compostos químicos que se encontram nos produtos e respectivos riscos conhecidos para a saúde, cuidados a ter no seu manuseamento, procedimentos de desintoxicação, etc. A informação contida nas folhas MSDS pode ainda ser cruzada com outros manuais sobre toxicologia e com a lista de agentes cancerígenos disponibilizada pela Agência Internacional de Investigação do Cancro. 
  • É da responsabilidade dos projetistas a seleção de materiais e componentes de baixa toxidade, de modo a evitar que a sua utilização afete a saúde e produtividade dos habitantes de um edifício, e das pessoas responsáveis pela construção e manutenção do mesmo. 
Devem ser analisadas as fichas técnicas dos diversos materiais, componentes de construção (isolamentos, revestimentos, pinturas, vernizes, madeiras) de forma a reduzir-se a integração no edifício de substâncias tóxicas como os formaldeídos, COV, e outros produtos químicos prejudiciais que se encontram correntemente nos materiais de construção e que podem afetar a qualidade de vida dos ocupantes. De modo a diminuir os riscos para a saúde dos ocupantes, dever-se-á ter conta na fase de projeto, entre outros, os seguintes aspectos:
  • Seleção de tintas de água com base de látex e sem chumbo, em vez de tintas de óleo com diluentes tóxicos como o benzeno, xileno e tolueno;
  • (Preferir sempre que possível madeiras no seu estado natural aos aglomerados de madeira, onde é utilizado o formaldeído como aglomerante e conservante. Este problema também é comum no mobiliário, pelo que é conveniente a realização de ensaios que comprovem a possível presença deste químico;
  • Selecionar materiais e sistemas que não apresentem clorofluocarbonetos (CFC) e hidroclorofluocarbonetos (HCFC), pois cerca de 50% dos clorofluocarbonetos produzidos são utilizados na construção. Estes componentes apresentam diversos riscos quer a escala local (riscos para a saúde dos ocupantes), como à escala global através da destruição da camada de ozonio;
  • Assegurar que no edifício não é utilizado amianto ou qualquer outro material que o contenha;
  • Evitar o uso de adesivos, selantes, pinturas, vernizes e revestimentos que possuam elevadas quantidades de compostos orgânicos voláteis (COV).

Tijolo Ecológico

Custos econômicos:
Associados ao ciclo de vida dos materiais:
  • A maior parte dos projetistas, seleciona os materiais e componentes de construção tendo apenas em consideração o seu custo de aquisição, esquecendo-se que durante o período de vida dos edifícios, os materiais e componentes sofrem degradações pelo seu uso, pelo que é necessário a sua manutenção e até mesmo substituição mais do que uma vez.
Aceitando que a vida útil de um edifício de construção recente se desenvolve num período de 50 até 100 anos, facilmente constatamos que o período mais alargado e consequentemente onde ocorrem maiores investimentos, corresponde às fases de exploração (operação), manutenção e reabilitação. Assim, a análise de custos do material deve incidir sobretudo nestas fases. Quanto maior a durabilidade de um material, menores serão os custos nestas fases.
  • Outras componentes de custo importantes, mas correntemente ignoradas são: o custo de desmantelamento/demolição e o custo de eliminação. O custo de desmantelamento/demolição é tanto menor quanto menor for a peso e o volume da estrutura a desmantelar e o grau de ligação entre os diversos materiais e componentes de construção. 
O custo de eliminação corresponde ao somatório dos custos associados ao transporte dos materiais provenientes do desmantelamento/demolição até aos locais de depósito com os custos associados ao tratamento e/ou acondicionamento dos produtos de modo a que o seu impacte no meio ambiente e na saúde dos habitantes seja o menor possível.
  • A análise econômica do ciclo de vida do material ou componente só se encontra completa se for considerado o seu valor venal. O valor venal corresponde ao valor econômico do material no final do seu ciclo de vida, e é tanto maior quanto maior for a seu potencial de reutilização e de reciclagem.
Quando a análise de custos de um material incide sobre a totalidade do seu ciclo de vida, a aquisição de materiais com custo inicial mais elevado pode ser justificada se assim se diminuírem os custos futuros. Um custo inicial mais elevado é também justificado se o produto apresentar melhor comportamento ambiental do que outros durante o seu ciclo de vida.

Água:
Enquadramento:
  • A quantidade de água disponível para ser utilizada no planeta é finita, pelo que à medida que a população cresce, a água disponível per capita diminui. Com o crescimento da população em 1.8 biliões verificado a partir de 1970, a disponibilidade de água per capita, diminuiu um terço. O consumo de água global a partir de 1980 mais do que triplicou, sendo estimado atualmente em 4.340 km3 por ano. 
A procura de água em todos os sectores – doméstico (urbano), industrial e agrícola – cresceu exponencialmente, muitas vezes devido à falta de gestão, uso excessivo e desperdício. Em muitos locais do globo, há medida que a água escasseia, as populações assistem ao aumento do seu custo, a faltas de água sazonais e à diminuição da sua qualidade (Athens et al, 1996).
“A falta de água provoca enormes dificuldades a mais de mil milhões de membros da família humana”. (Kofi Annan, Secretário-Geral das Nações Unidas).
Se o atual consumo se mantiver, em 2025 dois em cada três habitantes do planeta irão sentir a falta de água. Apesar de todos termos consciência deste problema, pouco ou nada tem sido feito pelos governos ocidentais nestes domínio, e as estatísticas falam por si: uma descarga de autoclismo num país ocidental requer o mesmo volume de água que um habitante num país subdesenvolvido consume o dia inteiro para a sua higiene e restantes tarefas! Mas, o cenário é ainda pior se tivermos em conta que a rede de distribuição de água não é eficiente. 
  • A título de exemplo em Portugal, as perdas e fugas de água na rede são responsáveis pelo desperdício médio de cerca de 35% do total do volume de água potável consumido, podendo este valor atingir os 40% em algumas regiões.
A par deste problema, os municípios deparam-se com a crescente produção de águas residuais, em volume ligeiramente inferior à água consumida. Este cenário tem obrigado os municípios a construir estações de tratamento de águas residuais (ETAR’s), cujos custos de operação são elevados e imputados às facturas dos consumidores.
  • Assim, ao consumo de água estão relacionados, para além de custos ambientais, custos econômicos. Apesar da maior responsabilidade no consumo de água que ocorre num edifício ser atribuída aos hábitos dos seus ocupantes, a equipa de projeto também poderá tomar uma série de opções que visam a sua redução. A equipa de projeto deve optar, tal como na gestão de resíduos, pelo princípio dos três R, ou seja, nesta caso, deve tomar uma série de medidas que potenciem a redução dos consumos, redução das fugas e a reutilização da água. 
A gestão do consumo de água nos edifícios pode ser realizada a três níveis:
  • Seleção de materiais ou componentes com baixa quantidade de água incorporada;
  • Seleção de aparelhos sanitários e de dispositivos de utilização mais eficientes
  • Prever soluções para a recolha de água das chuvas e reutilização de água.
Água incorporada nos materiais:
Ou componentes de construção:
  • A indústria da construção é um dos sectores que mais volume de água consome. O consumo de água acompanha praticamente todo o ciclo de vida de um material de construção, que vai desde a extração da sua matéria-prima até à sua demolição, no final do ciclo de vida do edifício. 
A título de exemplo, para a produção de apenas 1kg de alumínio 50% reciclado são necessários em média 29.000 litros de água (Berge, 2000)! O quadro 3.8 apresenta o consumo de água associada à extração da(s) matéria(s) prima(s), processamento e produção de alguns materiais de construção.

Aparelhos sanitários: 
E dispositivos de utilização mais eficientes:
  • É na perspectiva técnica que se encontram as intervenções mais importantes no domínio da racionalização do consumo de água, através de novas concepções dos aparelhos sanitários e dos dispositivos de utilização.
As bacias de retrete, chuveiros e torneiras são as áreas chave onde se pode atuar de modo a reduzir o consumo de água. Tendo em conta certas opções simples e pouco onerosas é possível diminuir a pressão nos recursos hídricos disponíveis e reduzir a factura da água no final do mês.
  • As bacias de retrete são responsáveis pelos maiores desperdícios de água que têm lugar numa habitação. Se se tiver em conta que a água desperdiçada é de qualidade alimentar, facilmente se compreende que tudo deve ser feito para que se diminuam os consumos por esta via.
 Existem várias soluções técnicas para a redução do consumo de água nas bacias de retrete, destacando-se:
  • A seleção de modelos de autoclismo de baixa capacidade. A implementação de autoclismos de 6 litros em detrimento dos autoclismos de 9 litros de capacidade permite a poupança de 3 litros de água em cada descarga. Se se admitir um número médio de cinco descargas por dia, a opção por um autoclismo de menor volume, traduz-se na poupança de 5.475 litros por autoclismo/ano;
  • A opção por autoclismos de descarga diferenciada (dois botões) ou com comando de interrupção da descarga. Numa família tipo, constituída por três pessoas, a opção por um autoclismo de descarga dupla de 3/6 litros em detrimento de um autoclismo clássico, traduz-se na poupança anual de 28 mil litros de água.
  • A implementação de redutores de descarga. A introdução de objetos (p.e. garrafas cheias de areia) no interior do depósito dos autoclismos é uma solução possível para reduzir o volume de cada descarga;
  • A opção por bacias de retrete em sistema seco. Este tipo de bacias de retrete não necessitam de água para o tratamento e transporte dos excreta humano. O tipo mais comum de bacia de retrete em sistema seco é o de compostagem.
É nos chuveiros que existem as soluções mais econômicas e eficientes para a poupança de água. Um chuveiro tradicional possui um caudal médio de 13 litros de água por minuto. Existem no mercado chuveiros mais eficientes, com caudais na ordem dos 7 litros por minuto. 
  • A opção por este tipo de chuveiros traduz-se num investimento praticamente desprezável mas com melhorias significativas ao nível do consumo água. Dependendo do modelo que se escolhe, é ainda possível usufruir-se de características adicionais como: massagem, auto-limpeza e corte de fluxo.
Ao nível das torneiras é possível diminuir o consumo se se optar pelas seguintes soluções:
  • Seleção de modelos de menor caudal (4 litros por minuto) em detrimento dos modelos clássicos que consomem em média seis litros;
  • Aplicação de emulsionadores de caudal (filtros arejadores) nas torneiras onde não seja necessário grande volume de água, como nas cozinhas e nos lavatórios;
  • Opção por torneiras de menor ângulo de abertura, como por exemplo, as torneiras mono comando que permitem o corte do fluxo mais rapidamente e, por conseguinte, com menores desperdícios.
  • Aplicação de torneiras automáticas ou semi-automáticas (com infravermelhos ou temporizador) em locais onde se preveja que exista grande probabilidade das torneiras ficar abertas, como por exemplo nas casas de banho públicas.
A seleção de outros dispositivos de utilização, como as máquinas de lavar a louça e máquinas de lavar roupa, é geralmente da responsabilidade dos utilizadores do edifício, não havendo aqui a intervenção da Equipa de Projeto. 
  • No entanto, é de assinalar que os consumos verificados são bastantes díspares, cabendo ao comprador a responsabilidade da seleção de modelos de baixo consumo de água. É atualmente possível adquirirem-se modelos deste tipo de equipamentos que utilizam menos água do que as lavagens manuais. As máquinas de lavar louça e roupa eficientes consomem atualmente 15 e 60 litros de água, respectivamente..
Para além das soluções apresentadas anteriormente, para que o consumo de água por esta via seja menor, os fabricantes e comerciantes deverão informar os utilizadores quanto ao consumo de água dos equipamentos que comercializam. 
  • Para que os utilizadores possam optar por modelos mais eficientes deveria ser obrigatório, assim como acontece com o consumo de energia (com a etiqueta de consumo energético) a implantação em Portugal da etiqueta do consumo de água, tal como acontece, por exemplo, na Austrália.
Recolha de água da chuva: 
Reutilização de água:
  • A rega dos espaços exteriores é também responsável por uma parte significativa dos consumos da rede interior. A recolha das águas da chuva e seu armazenamento numa cisterna era uma solução muito comum, algumas dezenas de anos atrás, nas regiões mais secas do país, sendo a água recolhida de qualidade alimentar.
Hoje, com a proliferação dos poluentes atmosféricos, a água da chuva deixou de ter, em algumas regiões do país (meios urbanos), a qualidade necessária à sua utilização alimentar. No entanto, esta poderá ainda ser utilizada para a rega dos espaços exteriores. O armazenamento da água da chuva que se precipita, por exemplo, numa cobertura durante as estações mais úmidas, é uma solução complementar para a redução dos consumos nas regas durante os períodos secos.
  • Com um tratamento adequado e se os regulamentos locais o permitirem, é possível utilizar as águas residuais na rega dos espaços exteriores e nas bacias de retrete. Existem atualmente exemplos de edifícios que apresentam duas redes de abastecimento segregadas, que permitem a condução de água de menor qualidade até às bacias de retrete. 
A título de exemplo, no Algarve, existem alguns empreendimentos turísticos que utilizam as águas residuais do próprio empreendimento para a rega dos espaços exteriores (jardins e campos de golfe), depois de sofrerem um tratamento apropriado.

Produção de resíduos:
Enquadramento:
  • Os resíduos resultantes da indústria da construção constituem uma parte significativa do total de resíduos produzidos sendo, por isso, importante o seu estudo. Atualmente, no contexto Europeu, a construção é responsável, em média, pela produção de 30% do total de resíduos produzidos.
Em Portugal, não existem estatísticas credíveis a este nível, mas tendo em consideração a forte presença da indústria da construção nos últimos anos e a seu baixo grau de industrialização, este valor deverá ser muito maior. Estes resíduos provêm das mais diversas fontes: produção de materiais, perdas durante o seu armazenamento, transporte, construção, manutenção e demolição.
  • A melhor maneira de lidar com os resíduos da construção é em primeiro lugar evitá-los. Depois deve-se tentar reciclar a maior quantidade possível. A incineração e a deposição dos resíduos em lixeiras e aterros sanitários devem ser evitadas.
Segundo um trabalho apresentado pela EDA (European Demolition Association) em 1992, a indústria da construção na Europa Ocidental gerava na altura entre 0,7 a 1 toneladas de resíduos por habitante e por ano. O mesmo estudo previa para o ano 2000 a produção de 215 milhões de toneladas de resíduos na construção e demolição, das quais 175 Mton (81%) seriam provenientes da demolição e 40 Mton (19%) da construção. 
  • De acordo com um estudo mais recente, realizado para a Comissão Europeia em 1999, os dados relativos à produção de resíduos devido à construção e demolição em milhões de toneladas.
Medidas que potenciam: 
A redução e a reutilização/reciclagem dos resíduos:
  • A quantidade resíduos da Construção e a sua eventual reutilização ou reciclagem, depende fundamentalmente do tipo de materiais e técnicas de construção utilizados, para além, da organização da empresa de construção, das especificações do projeto e da qualificação da mão de obra (Teixeira et al, 2001).
É durante a fase de concepção, que os intervenientes no projeto, devem assegurar a utilização de materiais e de técnicas construtivas que garantam a reciclagem ou a futura reutilização dos resíduos resultantes da demolição/desmantelamento, devendo ser assegurados os seguintes princípios (Teixeira et al, 2001):
  • Evitar a utilização de materiais compósitos que não podem ser separados;
  • Evitar a ligação entre os diversos elementos de construção de uma forma inseparável. Para se facilitar a reutilização e a reciclagem, deverá dedicar-se especial atenção ao método de união entre o material/elemento de construção e a estrutura do edifício. Os métodos de união mecânicos são preferíveis em relação aos químicos, pois facilitam a reutilização do material no final do seu ciclo de vida;
  • Projetar os edifícios prevendo o seu futuro desmantelamento e não apenas a sua demolição.
Uma das grandes fontes de resíduos na construção ocorre durante a fase de construção dos edifícios. Desta fase resultam em média, cerca de 10% do volume total de resíduos produzidos pela indústria da construção (Berge, 2000). Em geral, a redução de resíduos produzidos no estaleiro de obra pode ser melhorada se forem observados os seguintes aspectos:
  • Criar espaços no estaleiro para a separação e armazenamento dos resíduos. A criação destes espaços facilita a valorização dos resíduos, potenciando a sua utilização na própria obra. No final da obra os resíduos remanescentes serão mais facilmente reutilizados/reciclados se estiverem separados por tipo;
  • Devolver ao fornecedor as embalagens que acompanham os materiais. As embalagens que acompanham os materiais, produtos e componentes de construção são responsáveis por uma grande parte dos resíduos produzidos na fase da construção. A maior parte das embalagens serve para acondicionar corretamente os produtos, para que estes não sofreram danos durante a fase de transporte. Existem no entanto, algumas embalagens que mais não servem do que para ostentar o logótipo da empresa que produz/comercializa o produto. Se os fornecedores fossem obrigados a recolher as embalagens, decerto que os produtores tudo fariam para que estas fossem reutilizadas, de modo a diminuírem os custos relacionados com esta operação;
  • Armazenar convenientemente os materiais em estaleiro, evitando a sua degradação devido à sua exposição aos agentes atmosféricos ou a choques acidentais;
  • Optar pelos contratos de fornecimento do tipo “just-in-time delivery”. Nos contratos deste tipo os fornecedores comprometem-se a fornecer os materiais somente na data em que estes são necessários. Este tipo de contrato, em detrimento da aquisição da quantidade total de material na fase inicial da construção, previne a degradação focada no ponto anterior e permite um melhor controlo da quantidade de material necessária.
  • Acondicionar corretamente os materiais durante as fases de transporte, evitando danos;
  • Inspecionar o estado dos materiais no ato da sua recepção e sua posterior devolução ao fornecedor se estes estiverem eventualmente danificados.

Sistema de captação de água da chuva