sábado, 19 de novembro de 2016

Artesão e o Artesanato em madeira no Município de Parintins – AM sob a ótica Sustentabilidade

Artesão e o Artesanato em madeira 
no Município de Parintins – AM sob a ótica Sustentabilidade

Francisco Alcicley Vasconcelos Andrade
Mestre em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia - PPGCASA/ UFAM. Possui graduação em ADMINISTRAÇÃO pela Universidade Federal do Amazonas (2011), graduação em GEOGRAFIA pela Universidade do Estado do Amazonas (2010), Especialização em Turismo e Desenvolvimento Local pela Universidade do Estado do Amazonas (2011) e Pós-Graduado em MBA em Gestão em Logística e Operações Globais pela Universidade Gama Filho. Foi professor de Geografia, Ecoturismo e Ecologia Básica do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas/ Campus Parintins e professor assistente do Curso de Tecnologia em Gestão Pública da Universidade do Estado do Amazonas/ Núcleo de Estudos Superiores de Borba. Atualmente é professor de carreira do curso de Administração no Instituto de Ciências Sociais, Educação e Zootecnia – ICSEZ/ UFAM.
Vilma Terezinha de Araújo Lima
Professora Adjunta da Universidade do Estado do Amazonas no Curso de Licenciatura em Geografia, colaboradora do Programa de Pós Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, Universidade Federal do Amazonas em Manaus e do Curso de Mestrado Profissional Gestão de Áreas Protegidas na Amazônia- INPA. Doutora em Geografia pela Universidade Estadual Paulista-UNESP-Júlio de Mesquita Filho, Campus de Rio Claro (2010). Tem experiência na área de Geografia Humana e Geografia Cultural, Ensino de Geografia e Estágio Supervisionado, Educação Ambiental. Atuando principalmente nos seguintes temas: cultura, meio ambiente, comunidades, turismo e unidades de conservação, práticas de ensino de Geografia.
  • Historicamente, desde o início do processo de colonização até a contemporaneidade, a Amazônia sempre foi caracterizada como um ambiente inesgotável de matéria-prima, principalmente por mercados estrangeiros, pois sua diversidade propicia investimentos em pesquisa e na exploração propriamente dita dos recursos naturais, em que esta última, na maioria das vezes, ocorre de maneira abusiva, se apropriando dos conhecimentos da população local para aquisição de matéria-prima e mão-de-obra barata, gerando perda de identidade cultural, agravando mais ainda os problemas socioambientais.
Diante deste cenário, percebe-se a importância de discutir o artesanato como alternativa para valorização e preservação da cultura local, assim como, para geração de benefícios sociais, ambientais, econômicos e culturais. 
  • De acordo com Sebrae (2004), o artesanato é uma atividade capaz de utilizar todo o conhecimento adquirido ancestralmente pelas populações tradicionais para valorizar, resgatar e divulgar a sua cultura; além de gerar renda e ter um grande potencial de melhoria para a vida dessas populações. Conquistando novos mercados e ganhando outro sentido, o artesanato tem se tornado uma atividade economicamente viável, agregando valor aos seus produtos e alcançando qualidade.
No Brasil, além do crescimento da atividade turística, a rapidez das mudanças sociais, econômicas e políticas dos últimos anos tem alterado radicalmente também o mercado de trabalho, com redução drástica de postos de trabalho nos diversos ramos da economia. 
  • Assim, o mercado de trabalho apresenta nova dinâmica, caracterizada por declínio e precarização do emprego formal assalariado, expansão de emprego assalariado sem carteira assinada e dos empregos por “conta-própria”, além da introdução de novas formas e oportunidades de trabalho, no chamado setor informal da economia. Nesse momento o artesanato é considerado como uma dessas atividades alternativas de geração de trabalho e renda para aqueles que não conseguem se inserir no mercado formal de trabalho. (LEMOS, 2011).
O artesanato deve ser concebido como um importante elemento do produto turístico local, proporcionando potencial para o desenvolvimento turístico no município de Parintins. O artesanato é comercializado em todo o ano, porém de acordo com Saunier (2008), os meses que alavancam o volume de vendas das peças de artesanato em madeira são: mês de junho, com o Festival Folclórico de Parintins; o mês de julho, com a Festa da Padroeira “Nossa Senhora do Carmo”; e entre os meses de novembro a maio, com o período da chegada dos transatlânticos, com uma média de 18 cruzeiros a cada temporada, oriunda de países como Canadá, Estados Unidos, Suíça, Inglaterra e Austrália.
  • A partir deste quadro, o objetivo geral deste artigo discutir sobre o artesão e o artesanato em madeira no município de Parintins sob a ótica da sustentabilidade. Tendo como objetivos específicos: levantar o perfil socioeconômico dos artesãos; conhecer a organização produtiva da atividade e discutir as dimensões da sustentabilidade da atividade do artesanato em madeira no município de Parintins – AM.
Embasamento Teórico:
Dimensões da Sustentabilidade:
  • Nascimento (2012, p. 02) caracteriza as dimensões da sustentabilidade como um “trevo de três folhas”:
A primeira diz respeito à equidade social, com o objetivo de erradicar a pobreza e definir o padrão de desigualdade aceitável e que ninguém absorva irracionalmente os recursos naturais, para que todos tenham acesso aos mesmos, visando uma justiça social. A segunda diz respeito à eficiência econômica, trata-se daquilo que alguns denominam como ecoeficiência, que supõe uma contínua inovação tecnológica que nos leve a sair do ciclo fóssil de energia (carvão, petróleo e gás) e a ampliar a desmaterialização da economia. A terceira diz respeito a preservação ambiental, através do uso responsável e racional dos recursos naturais, com o intuito de propiciar a resiliência dos ecossistemas (NASCIMENTO, 2012, p. 02).
Outros autores discutem além do “trevo de três folhas”, abordando ainda as dimensões espaciais; demográfica; ética; estética; política; cultural, com o objetivo de questionar os padrões de consumos atuais, baseado no modelo de reprodução ampliado de capital; e a dimensão tecnológica.
  • Esta última, Robert Solow (2000) apud Andrade e Fraxe (2013) toma como séria a questão da finitude dos recursos naturais, porém, ao contrário dos críticos da economia dominante, considera que o homem é capaz de construir as respostas necessárias a esse desafio da sustentabilidade sem grandes mudanças sociais, mas tecnológicas. 
Isto é, as inovações tecnológicas são capazes de reduzir essa grande problemática, tais como exemplos, a adoção de energias renováveis, estação de tratamento de água, investimentos em transportes públicos híbridos etc. Sachs (2002) tem um conceito de sustentabilidade mais abrangente o qual apresenta cinco dimensões principais:
Sustentabilidade social - processo de desenvolvimento que conduz a um padrão estável de crescimento com a distribuição mais equitativa da renda, assegurando uma significativa melhoria do acesso a bens e serviços sociais das grandes massas da população e seus direitos.
Sustentabilidade econômica - possível devido ao fluxo constante de inversões públicas e privada, além da alocação e manejo eficientes dos recursos naturais.
Sustentabilidade ambiental - é o uso máximo do potencial da biodiversidade sem que este se deteriore, aproveitando integralmente a matéria-prima disponível com o mínimo de impacto ambiental, através da busca de conservação de energia e recursos, substituir recursos escassos por renováveis ou em abundância, desenvolver tecnologias capazes de com o mínimo de impacto obter o máximo de eficiência.
Sustentabilidade cultural – objetiva adaptar o conhecimento e a cultura tradicional à contemporaneidade, mantendo-os atuais e permanentes nas próximas gerações.
Assim, a trajetória da sustentabilidade deixa apenas de ser unidimensional, mas multidimensional, ou seja, requer mudanças nas dimensões social, ecológica, geográfica, econômica e cultural. A dimensão temporal não deve ser esquecida, pois como se trata de um processo, é preciso considerar não somente o curto prazo, mas também o longo prazo. 
  • A dimensão politico-institucional também não pode ser desvinculada, pois implica, sobretudo na redução da pobreza e desigualdades sociais, geração de emprego e renda, conservação ambiental, implementação de politicas publicas entre outros.
 Artesanato e Desenvolvimento:
  • O desenvolvimento local tem se mostrado uma tendência mundial e é tema de discussão em diversos países, sobretudo na Índia – descentralização de fomento às políticas tecnológicas -, na China – políticas locais de financiamento -, e na França – fortalecimento do turismo local.
Tenório (2004) defende a lógica do desenvolvimento local necessita do surgimento e do fortalecimento de atores inscritos em seus territórios e com capacidade de iniciativa e propostas socioeconômicas que capitalizem as potencialidades locais, e que apostem em uma melhoria integral da qualidade de vida da população. O desenvolvimento local é conceituado por Alcoforado (2006, p.15) como:
Uma nova estratégia de desenvolvimento, em que a comunidade assume um novo papel: de comunidade demandante, ela emerge como agente, protagonista, empreendedora, com autonomia e independência. Essa estratégia tem como principal objetivo a melhoria da qualidade de vida de associados, familiares e da comunidade em geral, maior participação nas estruturas de poder, ação politica com autonomia e independência, contribuindo assim para o real exercício da democracia e para a utilização racional dos recursos naturais, visando o bem-estar da geração presente e futura (ALCOFORADO, 2006, p. 15).
Trata-se, portanto, de uma convergência de fatores econômicos, sociais, políticos, institucionais e ambientais, que se cruzam e se dialogam, sendo que nenhum deles se completa sem o auxílio dos demais, e não se pode proceder à leitura isolada de cada um deles sem considerar as suas inter-relações.
  • Alcoforado (2006) complementa ainda que consiste em um produto do conhecimento e do aproveitamento das potencialidades, oportunidades e vantagens comparativas da localidade, com características peculiares que a diferencia das demais regiões, que resultam do desenvolvimento sinérgico dos capitais humanos, natural e econômico.
O DL pode assumir diversos recortes territoriais e ser viabilizado em bairros, distritos, comunidades, municípios, microrregiões geográficas, mesorregiões geográficas e estaduais. Portanto o local não é uma questão de escala, e sim de natureza, como apontam diversos autores. 
  • Ele não resulta apenas de demarcações feita sobre o mapa, a partir de critérios preestabelecidos, muito embora politicas governamentais possam selecionar áreas prioritárias para implementação de políticas públicas locais. O local é produto do processo de desenvolvimento, da participação social, sendo um espaço que vai sendo construído pela sociedade, que vai originando configurações territoriais diversas.
A partir desse modelo de desenvolvimento, Milani (2005) pressupõe uma transformação consciente da realidade local. Isto implica em uma preocupação não apenas com a geração presente, mas também com as gerações futuras e é neste aspecto que o fator ambiental assume fundamental importância. Sachs (2001) afirma que o desgaste ambiental pode não interferir diretamente a geração atual, mas pode comprometer sobremaneira as próximas gerações.
  • A política desse modelo de desenvolvimento, segundo Buarque (1999) é um processo que busca articular, coordenar e inserir os empreendimentos cooperativos, associativos, individuais e comunitários a uma nova dinâmica de integração social, ambiental, cultural e econômica. Isto é, caracteriza-se como um processo endógeno de mudança, de envolvimento de todos os atores sociais (governo, clientes ou turistas, artesãos e comunidade local), com o objetivo de proporcionar o dinamismo econômico e a melhoria da qualidade de vida da comunidade local.
De acordo com Kronemberger (2011, p.35), o desenvolvimento local contempla as seguintes ações convergentes e complementares, tais como:
  • Descobrir e despertar as vocações locais;
  • Mobilizar e explorar as potencialidades locais;
  • Utilizar os recursos naturais locais de forma racional;
  • Sensibilizar e mobilizar a comunidade local para sua participação nas decisões;
  • Buscar parcerias para realização de projetos;
  • Fazer crescer os níveis de confiança, cooperação, ajuda mútua e organização social em torno de interesses comuns;
  • Desenvolver a cooperação e a integração das cadeias produtivas e associações, gerando emprego e renda e estreitando o elo institucional;
  • Fomentar a cultura empreendedora local;
  • Elevar a competitividade da economia local, através de atividades produtivas viáveis, com capacidade de concorrer em outros mercados (KRONEMBERGER, 2011, p.35).
O desenvolvimento local a partir da atividade do artesanato, resulta dessa interação e sinergia entre qualidade de vida de população local (melhores condições de moradia, alimentação, aquisição de bens e serviços, lazer, aumento na renda mensal familiar para os associados); 
  • A eficiência econômica e competitividade (agregação de valor na cadeia produtiva e diferencial competitivo frente às demais regiões que atuam no mesmo mercado); 
  • A valorização da identidade cultural (atividades produtivas ligadas à cultura, costumes, tradições e modos de vidas locais); 
  • A conservação dos recursos naturais (extração das matérias-primas em áreas de manejo, atividades que não poluem o ar, rios, igarapés, lagos).
Assim, pensar o desenvolvimento local, é compreender a existência de uma sinergia entre eficiência econômica, melhoria da qualidade de vida da população local, valorização da identidade cultural e conservação dos recursos naturais, objetivando alavancar as potencialidades locais, perpetuando-as para as futuras gerações.

Procedimentos Metodológicos:
  • A pesquisa teve abordagem qualitativa, a qual foi analisada questões particulares à subjetividade, sustentabilidade social, ambiental, econômica e cultural da atividade do artesanato.
Caracterizou-se como uma pesquisa exploratória, pois proporcionou maior familiaridade com o problema, objetivando torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses; e que o processo de planejamento tende a ser dinâmico, considerando os diversos aspectos relativos ao fenômeno estudado (GIL, 2009). A pesquisa também foi descritiva, uma vez que tem como objetivo a descrição das características de determinada população, isto é, os artesãos locais.
  • Utilizou-se das seguintes técnicas para a obtenção dos dados que buscam responder aos propósitos deste estudo: A revisão bibliográfica objetivou a fundamentação teórico-metodológica em livros, artigos, teses e dissertações que tratam da temática, envolvendo o artesanato, sustentabilidade e desenvolvimento local; a pesquisa de campo, por se tratar de um trabalho construído com base em observações diretamente no local de sua ocorrência. Nesse tipo de pesquisa, optou-se pelos seguintes instrumentos de pesquisa: Entrevistas não-estruturadas; formulários e registro fotográfico.
Como método de pesquisa para análise de dados, adotou-se a análise de conteúdo, pois segundo Vergara (2008) consiste numa técnica para o tratamento de dados que objetiva identificar tudo o que está sendo investigado e discutido a respeito da temática de pesquisa.
  • Os dados obtidos pelas entrevistas não-estruturadas e aplicação de formulários aos artesãos da ASFAPIN e informações obtidas na Secretaria Municipal de Cultura e Turismo foram imprescindíveis para a caracterização da cadeia produtiva do artesanato em madeira no município de Parintins – AM sob a ótica da sustentabilidade.
O foco da pesquisa foi com 15 artesãos da Associação de Figurinistas e Artesãos de Parintins - ASFAPIN, sendo que 10 são da sede municipal, e 05 da comunidade Santa Maria, na Vila Amazônia do município de Parintins, no período de junho a dezembro de 2014. Informações adicionais foram coletadas na Secretaria Municipal de Turismo e Cultura.

Discussão e Análises dos Resultados:
Perfil socioeconômico dos artesão:
  • Dentre os comunitários de Santa Maria - Vila Amazônia e da cidade de Parintins, na sua totalidade foram 15 artesãos entrevistados que fazem parte da Associação dos Figurinistas e Artesãos de Parintins – ASFAPIN. Geralmente os artesãos costumam trabalhar individualmente ou em grupo, na maioria dos casos como núcleos familiares, onde todos os membros da família participam direta e/ ou indiretamente no processo de confecção e comercialização do artesanato em madeira, sob o aspecto da divisão social do trabalho, onde cada um conhece uma ou mais etapas do processo, com o apoio inclusive de adolescentes e mulheres.
Dos entrevistados, 06 eram mulheres (40%) e 09 eram homens (60%), sendo que destes apenas 6% eram solteiros; 7% eram divorciados; 60% eram casados; e 27% viviam em união consensual. Uma informação interessante pode-se destacar que, estes dois últimos dados, que totalizam 87% de artesãos casados e com união consensual representam os núcleos familiares, com a figura da mulher na atividade do artesanato. No que se refere à idade, o grupo se divide.
  • A origem dos moradores da área estudada, ou o local de nascimento, estão distribuídos da seguinte forma: 70% são oriundos do próprio município de Parintins e de outras comunidades ribeirinhas circunvizinhas; 10% são procedentes do Estado do Pará, especificamente das cidades de Juruti e Oriximiná; e 20% correspondem aos artesãos que nasceram em alguns municípios do Baixo Amazonas (Barreirinha, Boa Vista do Ramos e Nhamundá). 
Desta totalidade, 65% residem no município de Parintins há mais de 10 anos; 28% residem entre 3 a 5 anos; e 10% residem entre 1 a 2 anos. Quando questionados sobre o interesse de mudar cidade ou da comunidade, 92% afirmaram que não. Quanto ao nível de escolaridade, o gráfico 02 demonstra essa distribuição, apresentando baixa escolaridade dos artesãos.
  • Em relação às condições de moradia, 53% dos entrevistados residem em casas de alvenaria; e 47% moram em casas de madeira. É importante destacar, que todos os artesãos da comunidade Santa Maria – Vila Amazônia residem em casas de madeira, assim como todas as oficinas de arte estão localizadas aos fundos da residência, sem segurança na armazenagem da matéria-prima (Figura 01), inclusive na cidade de Parintins.
Trajetória de vida do Artesão:
  • Este tópico apresenta a trajetória de vida do artesão, destacando o tempo de exercício da atividade artesanal, o envolvimento da família na atividade, as formas de aprendizado da profissão, os aspectos motivacionais para o desempenho da atividade e de outras habilidades.
O gráfico 03 demonstra o tempo que o artesão desenvolve a atividade do artesanato em madeira. Pode-se discutir que os artesãos possuem grande experiência no setor artesanal, onde mais de 50% dos entrevistados já trabalham entre 5 a 10 anos. O artesão mais experiente identificado na pesquisa possui 18 anos de exercício da atividade.
  • A aprendizagem da profissão de artesão consiste em um processo que se desenvolve de forma coletiva e hereditária, cujo conhecimento está enraizado na sociedade e no território em um contexto social e cultural específico. Assim, percebe-se que os artesãos da cidade de Parintins e da comunidade Santa Maria – Vila Amazônia possuem essas características, isto é, aprenderam as técnicas de confecção do artesanato muito cedo e, em sua maioria, algum membro da família já desenvolvia a atividade.
De acordo com o gráfico 04, a maioria dos entrevistados afirmaram que obtiveram o conhecimento das técnicas através de algum membro da família (pais e avós), e os demais por meio de cursos oferecidos por instituições do Sistema S e Associações Folclóricas Bois-Bumbás Garantido e Caprichoso, e também por conhecimento autodidata, isto é, são habilidades internas que, com o passar do tempo foram aperfeiçoando-se.
  • Observa-se que o processo de aprendizado das técnicas do artesanato em madeira na cidade de Parintins e na comunidade Santa Maria – Vila Amazônia ocorre predominantemente no ambiente familiar, de geração em geração, sendo que a maioria dos artesãos aprende o ofício ainda na fase adolescente.
Quando questionados sobre a renda, percebe-se que os artesãos possuem baixa renda nos períodos entre os meses de julho a dezembro, correspondendo a 60% com uma renda média entre um a dois salários mínimos e 40% com menos de um salário mínimo. 
  • Em contrapartida, no período entre os meses de novembro a maio, a comercialização das peças artesanais em madeira aumenta, para uma média de quatro a cinco salários mínimos, em razão da temporada dos transatlânticos. Mas é na época do Festival Folclórico, no mês de junho, que os artesãos aumentam exorbitantemente o volume de vendas, chegando até a uma renda de R$4.000,00, pois os mesmos argumentaram que muitos turistas compram no atacado para comercializarem em outros locais.
Dos artesãos entrevistados 73% afirmaram que a renda do artesanato contribuiu para a compra de eletrodomésticos, suprimentos básicos (alimentos como arroz, feijão, açúcar, café) para a casa, pagamentos de conta de energia elétrica e água encanada, ampliação e reforma da residência, e investimento na própria atividade, comprando materiais e ferramentas para a produção das peças. Em contrapartida, 27% alegam que a renda do artesanato apenas ajuda na compra de alimentação básica. O relato do artesão discorre sobre essas mudanças:
  • Antes o artesanato mal ajudava a comprar as coisas para comida de casa e o material escolar dos meninos; só tinha uma bicicleta velha que era a única maneira de trazer as toras de madeira do ‘centro’ ; o fogão era a lenha, passava mesmo necessidade, que acordava de manhã e não tinha ao menos um pedaço de pão e um copo de café na mesa. 
Hoje as coisas mudaram muito, consegui construir minha casinha de alvenaria, comprei meu fogão a gás, a minha furadeira pra ajudar no furo das sementes, já tenho uma moto, que meu filho pega as toras de madeira no centro mais rápido, meus netos já têm a roupa da escola e material pra estudar, e nunca mais faltou comida na mesa. Tudo isso graças à Deus e ao esforço de toda minha família, que cada um ajuda um bocadinho no entalhe do artesanato até vender para os gringos no porto e no Festival (Entrevista com o Sr. R. C., 68 anos, Comunidade Santa Maria – Vila Amazônia, Setembro/ 2014)
  • Os artesãos foram questionados quanto aos acidentes e doenças adquiridas com a prática de confecção do artesanato, e 80% dos entrevistados responderam de maneira positiva, enumerando algumas enfermidades, conforme o gráfico 05. 
Destes, 42% alegam dores na coluna, causada pela postura e pelo tempo de confecção das peças; 33% afirmaram que já acidentaram-se no processo de corte e entalhe, gerando ferimento nas mãos e braços; 17% apontaram problemas de visão, pois algumas etapas no processo produtivo, como a pirografia e acabamento, exigem uma atenção minuciosa para não cometerem erros; e 8% responderam que a alergia a determinado tipo de tinta, impossibilita-os no processo de pintura das peças.

Organização da produção:
  • Como discutiu-se no tópico anterior, a atividade do artesanato configura-se, na sua grande maioria, como a responsável pela obtenção da renda familiar, onde são envolvidos, homens, mulheres e jovens. Quando questionados sobre a quantidade de horas diárias dedicadas exclusivamente à produção do artesanato, o gráfico 06 demonstra as seguintes respostas obtidas.
A organização da divisão social do trabalho envolve desde os avós até os netos, que contribui de forma direta ou indiretamente no processo produtivo, desde a extração da matéria-prima até a comercialização, como demonstra a Figura 02 abaixo:
  • A primeira etapa do processo produtivo do artesanato começa com a extração da matéria-prima, como o ouriço de castanha (Bertholletia excelsa), sementes de açaí (Euterpe oleracea Mart.) e semente castanharana (Eschweleira odorata). Os principais tipos de madeiras utilizados são: Bambu (Bambusa vulgaris), Molongó (Ambelania acida) e Ucuúba-Vermelha (Virola sebifera). Na maioria das vezes, essa matéria-prima é retirada das comunidades rurais que ficam à margem do ramal da Vila Amazônia. Em outros casos, há retirada de matéria-prima nas comunidades de expansão urbana de Parintins (Aninga, Macurany e Parananema).
Na segunda etapa, tem-se o corte da madeira em toras. Na terceira etapa, o processo de entalhe que proporciona contorno à peça; logo em seguida a escultura. Posteriormente a peça vai para a lixadeira elétrica (80 mm) para retirar as falhas ocasionadas pela escultura; passa-se a base; outro processo de lixamento manual (220 mm); em seguida vai para o processo de acabamento, que constitui-se na pirografia ou na pintura; e por fim segue para a comercialização. 
  • No processo produtivo, Fonseca (2010) discute que o artesão recorre ao seu universo simbólico e cultural repleto de lendas, mitos e tradições que regem seu cotidiano e a sua percepção da fauna e da flora do lugar para projetar as figuras que irá produzir. Deste modo, esculpindo aves, peixes e animais, projeta no artesanato a identidade e o seu sentimento de pertencimento ao lugar em que vive.
Foi questionado quanto às inovações inseridas no processo de confecção do artesanato em madeira. Apenas 27% dos entrevistados afirmaram que não introduziram inovação no processo produtivo; em contrapartida os 73% argumentaram que já desenvolvem o processo de inovação na confecção do artesanato em madeira, por meio de maquinários que auxiliam no processo produtivo.
  • O trabalho manual é predominante na confecção do artesanato em madeira de Parintins/ AM, mas que torna-se necessário a inserção de pequenos maquinários que auxiliam e proporcionam rapidez e melhor acabamento das peças, tais como: a furadeira elétrica, a serra elétrica de mesa, a lixadeira elétrica portátil e a lixadeira elétrica de mesa. Em contrapartida, os artesãos informaram que esses maquinários consomem muita energia e geram resíduos. 
Um dos relatos de uma artesã destaca a importância desse processo de mecanização nas etapas de confecção:
  • Antes de nós conseguir essas pequenas máquinas, era muito difícil para nós aceitar encomendas de artesanato em madeira em muita quantidade. O trabalho era muito lento, a gente usava só ferramenta antiga. Depois que a gente comprou a serra e a lixadeira elétrica ajudou muito a gente a conseguir atender os pedidos de encomendas. 
Agora, por exemplo, a gente tem que mandar 200 peças de Pirarucu pirografado e 100 barquinhos para Minas Gerais. Com isso, a gente ganha confiança de quem compra de nós, e ainda ganha um dinheirinho extra (Entrevista com a Sra. I. S., 55 anos, Comunidade de Santa Maria – Vila Amazônia, Setembro/ 2014).
  • Os homens são os que mais se dedicam ao ofício da confecção de artesanato, mesmo tendo que cuidar da roça e prover alimentos para casa, são eles que produzem mais peças e dedicam mais tempo a produção. 
Em contrapartida, as mulheres que têm uma ocupação dividida entre os serviços domésticos, cuidar dos filhos e outros afazeres, somente quando resta tempo é que se dedicam a determinadas etapas do processo produtivo, consideradas etapas leves, como o lixamento e o acabamento. 
  • O processo de comercialização para turistas internacionais, no período entre os meses de novembro a maio, ocorre com a intermediação de jovens entre 18 a 20 anos, geralmente são os netos, pois estudam língua estrangeira na Escola Municipal de Idiomas “Aldair Kimura Seixas”, localizada na cidade de Parintins. Nesta escola são ofertados cursos gratuitos de língua inglesa, espanhola e japonesa, e alguns deles possuem público-alvo bem específicos, tais como: artesãos, mototaxistas, taxistas, tricicleiros e comerciantes em geral.
Apesar de todo o esforço e a divisão social do trabalho para a confecção e comercialização do artesanato em madeira, os artesãos utilizam como principais critérios para determinar o preço das peças o tempo gasto na produção, o acabamento e o tamanho do artesanato (Gráfico 07). A ausência de determinados parâmetros que norteiam a determinação do valor da peça do artesanato em madeira pode ser esclarecida sob três fatores:
  • O primeiro fator refere-se à comercialização com os turistas, pois os artesãos não possuem o conhecimento de que são os vendedores que determinam os valores dos produtos, porém no caso das vendas do artesanato na cidade de Parintins e na comunidade Santa Maria – Vila Amazônia, a maioria dos turistas (consumidores) são os que determinam os valores dos artesanatos, deste modo, uma peça calculada em $30,00 (trinta dólares) pode ser vendido em até $15,00 (quinze dólares). Os artesãos explicam que eles têm a necessidade de vender o maior número possível de artesanatos para ajudar na renda familiar. 
  • O segundo fator diz respeito a relação de troca de moeda entre artesãos e empresários locais, em que nestes últimos, a moeda estrangeira é ofertada à valores muito abaixo da cotação de mercado. 
  • O terceiro fator refere-se aos valores sociais, culturais e ambientais agregados nos produtos, que são desconsiderados na determinação do valor do artesanato. Peças confeccionadas por artesãos e com matérias-primas da região Amazônica deveriam possuir uma elevada agregação de valor no mercado externo. 

Artesão e o Artesanato em madeira 
no Município de Parintins – AM sob a ótica Sustentabilidade

Sustentabilidade Social:
  • Mouco (2010) argumenta que a atividade do artesanato, desde que ela seja desenvolvida de forma organizada e cooperada, pode gerar diversos benefícios sociais para os artesãos e seus familiares, como por exemplo, o incentivo à prática do associativismo, qualidade de vida, inserção do trabalho feminino em determinadas etapas do processo de confecção do artesanato, geração de emprego e renda, fixação do artesão no seu local de origem, qualificação profissional e diferentes formas de aprendizado da profissão. As variáveis a serem analisadas neste tópico foram baseadas em Mouco (2010):
Incentivo à prática do associativismo: A Associação dos Figurinistas e Artesãos de Parintins – ASFAPIN possui em torno de 30 associados, que desenvolvem a atividade do artesanato a partir de diversas matérias-primas, tais como: tecidos, sementes, cipós, ouriços, e o mais predominante, o artesanato em madeira. A partir da prática do associativismo, 53% dos entrevistados afirmaram que já obtiveram financiamentos junto à Agência de Fomento do Estado do Amazonas – AFEAM, com valor de até R$15.000,00 (quinze mil reais), com o objetivo de ampliar e/ ou reformar os equipamentos de produção e os ateliês. Além disso, o associativismo proporcionou a estreita relação institucional junto à SETRAB, que organiza os stands de exposição no período do Festival Folclórico e na temporada dos transatlânticos.
  • Geração de renda e emprego: 67% dos artesãos entrevistados afirmaram que não desempenham outra atividade, além do artesanato. Outros 33% responderam que exercem alguma atividade que complementa a renda familiar. Percebe-se que as famílias artesãs conseguem arrecadar até R$4.000,00 nos períodos de alta temporada do turismo cultural (Festival Folclórico) e do turismo internacional (temporada dos transatlânticos). Em contrapartida, nas demais épocas do ano, isto é, a baixa temporada, chegam a arrecadar entre um a dois salários mínimos.
Qualificação Profissional: neste tópico, os artesãos afirmaram que os mesmos ou seus netos e filhos estudam na Escola Municipal de Idiomas “Aldair Kimura Seixas”, que oferece cursos gratuitos de língua inglesa, espanhola e japonesa, facilitando o processo de comunicação e comercialização para o público estrangeiro.
  • Inserção do trabalho feminino: ainda é o trabalho masculino que predomina na maioria das etapas do processo de confecção das peças artesanais, pois necessitam de esforço físico para deslocar determinados troncos de árvores e manuseio de objetos cortantes. Assim, as mulheres que têm uma ocupação dividida entre os serviços domésticos, cuidar dos filhos e outros afazeres, somente quando resta tempo é que se dedicam a determinadas etapas do processo produtivo, consideradas etapas leves, como o lixamento, o acabamento e até mesmo a comercialização.
Fixação do artesão no seu local de origem: Verificou-se que 70% são oriundos do próprio município de Parintins e de outras comunidades ribeirinhas circunvizinhas, e que 65% residem no município de Parintins há mais de 10 anos.

Sustentabilidade Cultural:
  • Preservação da cultura local: a cidade de Parintins possui uma forte identidade cultural, pautada na festa dos bois-bumbás Garantido e Caprichoso, proporcionando elevado valor agregado às peças artesanais como ferramenta estratégica de comercialização, explorando as cores azul e branca, e vermelha e branca. 
No artesanato em madeira visualiza-se as seguintes frases: Lembrança de Parintins – AM ou Lembrança da Terra do Boi-Bumbá. Além da “marca” boi-bumbá, o próprio cenário amazônico constitui-se como elemento diferencial e peculiar da região, com a confecção de réplicas representando a fauna e a flora.
  • Uso e apropriação de elementos simbólicos regionais: no processo das entrevistas com os artesãos, percebeu-se que em sua totalidade, os artesãos conseguem transmitir os elementos simbólicos da localidade, apropriando-se de símbolos da região amazônica (fauna e flora) e o modo de vida caboclo-ribeirinho e indígena. Este procedimento permite que os produtos do artesanato local sejam valorizados por seu pertencimento a este determinado lugar.
Utilização de matéria-prima local: verificou-se que os artesãos possuem grande conhecimento das matérias-primas utilizadas na confecção dos artesanatos em madeira, sobretudo nos períodos e locais de coleta e de secagem; nomes das raízes, sementes e ouriços. Em contrapartida, no processo de acabamento das peças, os artesãos utilizam produtos industrializados (vernizes), que, segundo relatos, são rejeitados por alguns turistas internacionais.

Sustentabilidade Ambiental:
  • Racionalização na extração da matéria-prima: Para a confecção do artesanato em madeira, os artesãos apropriam-se do uso de raízes, sementes, ouriços e troncos de árvores. 70% dos artesãos entrevistados afirmaram que a coleta da matéria-prima ocorre diretamente na natureza às margens de rios, lagos e paranás; outros 30% compram dos donos de terrenos em áreas rurais. 
Os artesãos afirmaram que todas as matérias-primas até hoje utilizadas no artesanato são encontradas com facilidade na região. Apenas ocorre escassez em períodos sazonais devido ao seu ciclo natural. Isto torna-se contraditório pois, mesmo não havendo reflorestamento das espécies de madeiras, ainda é abundante, porém a extração desordenada da matéria-prima sem a devida reposição, implicará em escassez, comprometendo a continuidade da atividade.
  • Utilização de matéria-prima natural/ renovável: De acordo com os artesãos entrevistados, apesar de apropriarem-se de produtos industrializados para a pintura e acabamento das peças, em sua maioria, são as matérias-primas naturais mais predominantes na composição do artesanato (sementes, ouriços, troncos, raízes, cipós).
Adequabilidade dos resíduos sólidos oriundos do processo de confecção: Segundo um dos relatos, a espécie de madeira mais utilizada no artesanato é o Molongó (Ambelania acida), que além de ser leve para o transporte, não gera resíduos, isto é, todas as sobras são aproveitadas em peças ou detalhes menores, como por exemplo, os holofotes dos barcos, os chifres dos bois-bumbás miniatura, brincos e colares. 
  • Os resíduos resultantes de matérias primas industrializadas são descartados para a lixeira pública do município. É importante destacar que as sobras de madeiras de movelarias são aproveitadas como a base ou plataforma do artesanato.
Sustentabilidade Econômica:
Os itens a serem discutidos neste tópico, estão descritos a seguir:
  • Artesanato em madeira como atividade principal: 67% dos artesãos entrevistados afirmaram que não desempenham outra atividade, além do artesanato. Outros 33% responderam que exercem alguma atividade que complementa a renda familiar.
Estratégias de Acesso aos Mercados: Os artesãos foram questionados quanto ao período que mais comercializa o artesanato em madeira no município de Parintins. Na pesquisa, identificou-se que 46% dos entrevistados afirmaram que o maior volume de vendas das peças ocorre no final de mês de junho, que compreende a realização do Festival Folclórico. 
  • Outros 27% alegaram que o período da temporada dos transatlânticos, entre os meses de novembro a maio, caracteriza-se como a segunda maior oportunidade de vendas do artesanato em madeira. Os demais 27% compreendem a comercialização por encomenda ou atacado, em que clientes empreendedores locais e das regiões Sul e Sudeste compram dezenas de peças em períodos não-determinados, conforme as suas necessidades.
De acordo com os artesãos entrevistados, existem diferentes pontos de comercialização do artesanato em madeira na cidade de Parintins. Entre os meses de novembro a abril, no período da chegada dos transatlânticos, barracas cedidas pela Setrab são instaladas em frente ao Porto de Parintins; no mês de junho ocorre os stands de exposição na praça da Catedral de “Nossa Senhora do Carmo”, considerado ponto estratégico, pois localiza-se entre o porto de Parintins e o Bumbódromo; no Aeroporto Municipal “Júlio Belém” e nas residências dos artesãos.
  • Troca da Moeda Estrangeira: Quando os artesãos foram questionados sobre a troca de moeda estrangeira (euro, e principalmente o dólar), os mesmos responderam que dependem da troca arbitrária de empresários locais, visto que as agências bancárias da cidade não efetuam o câmbio. Segundo relatos, em 2014, a quantia de $1 (um) dólar era equivalente à R$2,00; e R$3,00 para as notas de cinco, dez e vinte dólares. 
Alguns empresários trocam o dólar por rancho e higiene pessoal e doméstica; outros trocam os valores em espécie. Neste caso, essa troca arbitrária de moeda estrangeira caracteriza-se como imoral e exploradora, e não há perspectiva de interferência das autoridades municipais para solucionar essa problemática.

Considerações Finais:
  • Nesse contexto, a discussão de novas propostas voltadas para o fortalecimento das economias de base endógena, assegurando a preservação da cultura local, a conservação dos recursos naturais, capacitação dos artesãos, bem como a geração de emprego e renda para famílias, o bem-estar e melhoria da qualidade de vida dos artesãos e familiares caracterizam-se como grandes desafios a serem superados. 
Este trabalho ganhou destaque ao discutir a sustentabilidade da cadeia produtiva do artesanato em madeira no município de Parintins sob o olhar de um modelo ampliado, flexível e sistêmico de desenvolvimento, capaz de atender às demandas locais a partir das dimensões ambientais, sociais, econômicas e culturais.
  • A partir dessa fragilidade da atuação do poder público municipal no setor, apresenta-se como proposta a criação de um Programa Municipal de Fortalecimento do Artesanato Associada ao Turismo, com os objetivos de assegurar ao município o desenvolvimento turístico integrado; incentivar a produção do artesanato e a manutenção da geração de emprego e renda; fortalecer as tradições culturais e valorizar a identidade local; promover a integração da atividade artesanal com outros setores; incentivar a qualificação dos artesãos e apoiar a comercialização nos diferentes pontos turísticos da cidade e nos diversos eventos e exposições no Brasil e exterior.
Um fator crítico que merece destaque é a falta de estrutura portuária para ancorar embarcações de grande porte, neste sentido, como o público, em sua grande maioria são idosos, preferem não desembarcar na cidade, pois temem a travessia pelo rio Amazonas nos pequenos boats. 
  • Além disso, os ônibus fretados para o transporte desses turistas até os currais de apresentação dos bois-bumbás não apresentam acessibilidade, climatização e conforto. Todos esses problemas impactam diretamente no volume de vendas do artesanato e, claro, os artesãos são prejudicados com a queda na comercialização.
Outro aspecto crítico diz respeito à troca arbitrária da moeda estrangeira, onde empresários locais determinam os valores da troca, visto que as agências bancárias da cidade não efetuam o câmbio, e essa problemática merece maior atenção do poder público. 
  • Na dimensão ambiental, conclui-se que o artesanato em madeira no município de Parintins – AM é insustentável, pois a matéria-prima é retirada de áreas de não-manejadas, gerando futuramente escassez de determinadas espécies de madeira, e consequentemente, comprometendo a continuidade da atividade. 
Outras variáveis das demais dimensões são menos críticas, mas que necessitam ser rediscutidas, tais como: geração de emprego e renda e a qualificação profissional.

Referências:

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Artesão e o Artesanato em madeira 
no Município de Parintins – AM sob a ótica Sustentabilidade