quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Envenenamento por Solventes

Trio de crianças inala solventes no Aterro do Flamengo (Zona Sul do Rio)

Cena infelizmente comum nas ruas do Rio, a inalação de solvente por menores de rua deveria chamar mais a atenção da população e autoridades, o que não acontece talvez por seus usuários estarem na base da pirâmide social. No entanto, de acordo com a titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), delegada Valéria de Aragão Sádio, parte “considerável” dos furtos e roubos praticados por menores acontece quando estes estão sob efeito do Thinner – marca de um produto que dissolve tintas, tem propriedades entorpecentes e causa danos irreversíveis à saúde.
– A violência entre os menores infratores está ligada ao consumo do solvente. Grande parte das ocorrências de roubos no Centro, quando cometidos por um menor, tem influência do Thinner – afirma a delegada, titular da DPCA há pouco mais de dois meses. – Para por fim ao consumo do solvente, estamos investigando os receptadores dos roubos, sustentando assim o consumo da droga. Além disso, monitoramos, com homens à paisana, quem fornece o entorpecente aos menores.
Os delitos praticados por menores entorpecidos por solventes levaram a 12ª DP (Copacabana) a iniciar investigação. Como resultado desse trabalho, no último dia 11, Luís Rodrigo da Silva Lins, de 30 anos, foi flagrado quando entregava uma lata de Thinner a menores.
  • Como o solvente não é considerado droga pelo Ministério da Saúde, Lins foi enquadrado no Artigo 243 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que pune com pena de 2 a 4 anos quem “vender, fornecer ainda que gratuitamente, ministrar ou entregar, a criança ou adolescente, sem justa causa, produtos que possam causar dependência física ou psíquica, ainda que por uso indevido.”
O supervisor de abordagem da Secretaria Municipal de Assistência Social, Getúlio Vilela, que tem contato diário com os dependentes de solvente durante as operações de acolhimento de crianças vulneráveis, relata que lidar com eles é muito mais difícil quando estão em crise de abstinência.
– Sem usar por muito tempo, eles ficam muito mais agressivos e propensos aos pequenos delitos para custear seu consumo – diz o psicólogo e advogado, há dois anos e meio na secretaria. – Nessa hora, ele dificilmente aceita ser levado para um dos Centro de Atendimento Especializado de Dependentes Químicos.
Das mais de 3 mil pessoas abordadas em 2010 pela secretaria nas ruas só 140 aceitaram se tratar nos Centros para Dependentes Químicos do município. Apesar do baixo percentual de adesão, o trato com os farmaco dependentes tem suas recompensas, afirma Getúlio.
– Dos menores que recebem atendimento, perto da metade abandona o vício. Há pouco mais de um mês, encontrei um desses meninos na rua. Ele veio falar comigo, dizer que estava limpo, estudando, e com a família. Foi muito gratificante.
Presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas, o psiquiatra especializado em dependência química Carlos Alberto Salgado chama a atenção para a função do solvente como porta de entrada para a drogadição, pois é usado por muitas crianças nas ruas sem a repressão feita ao crack.
– É um produto de venda controlada, mas não proibida, o que facilita o acesso. A legislação é muito bem escrita, porém não é posta em prática – diz. – Como leva à elação e euforia por um curto período de tempo, o solvente requer uso contínuo, que caracteriza a dependência e faz o viciado buscar o efeito prolongado com outras drogas.
Salgado enumera, ainda, os malefícios que o consumo do Thinner provoca no organismo dos dependentes.
– Por ser um derivado volátil do petróleo, os usuários apresentam sintomas parecidos com os trabalhadores em postos de combustível, como nariz, boca e todo o aparelho respiratório afetados. – comparou. – Ataca rins, fígado e altera o hemograma. Além disso, por ser um diluente de gordura, ataca as proteções do pulmão.
Solventes:
  • O termo solvente refere-se à classe de químicos líquidos orgânicos de variável lipofilicidade e volatilidade. Estas propriedades aliadas ao baixo peso molecular fazem da inalação a principal forma de exposição e promove uma pronta absorção pulmonar, gastrintestinal e pele. Em geral, a lipofilicidade aumenta com o aumento do peso molecular, enquanto a volatilidade diminui (BRUCKNER e WARREN, 2001).
Solventes são frequentemente usados para dissolver, diluir ou dispersar materiais que são insolúveis em água. São amplamente empregados como constituintes de tintas, vernizes, tinturas, na síntese química, óleos lubrificantes, parafinas, asfaltos, combustíveis e aditivos de combustíveis. A maior parte dos solventes são provenientes do refino do petróleo (BRUCKNER e WARREN, 2001).
O petróleo é genericamente uma mistura complexa de hidrocarbonetos (HC) e de pequenas quantidades de compostos orgânicos contendo enxofre, nitrogênio e oxigênio, assim como baixas concentrações de compostos orgânicos metálicos, principalmente níquel e vanádio (PEDROZO, 2006, VIANNA, 2004, OSHA, 2003, IRWIN e cols, 1997, WHO/IPCS, 1982). Os hidrocarbonetos são compostos orgânicos constituídos exclusivamente de moléculas formadas por átomos de hidrogênio e carbono, dispostas em diversas configurações estruturais. Atualmente, podem ser identificados mais de 270 tipos distintos de hidrocarbonetos na composição dos diferentes derivados do petróleo (PEDROZO, 2006, CONCAWE, 2001; WHO/IPCS, 1982). As características e propriedades físico-químicas petróleo variam de acordo com a sua origem geográfica (PEDROZO, 2006, WHO/IPCS, 1982).
  • O petróleo é constituído por hidrocarbonetos saturados e insaturados. Esta classificação é dada em função do grau de saturação dos átomos de carbono pelos átomos de hidrogênio na estrutura molecular.
Os hidrocarbonetos saturados contêm um número suficiente de átomos de hidrogênio capazes de saturar todos os átomos de carbono, possuindo por isso, apenas ligações simples entre eles. Podem apresentar-se sob a forma de cadeias abertas (hidrocarbonetos parafínicos ou alifáticos) e em forma de anel (hidrocarbonetos naftênicos ou ciclo-parafínicos). São identificados pelo sufixo “ano”: alcanos e cicloalcanos; pentano e ciclopentano (PEDROZO e cols, 2002). Os alcanos podem ser classificados em: parafinas normais ou normal-parafinas e isoparafinas, que são seus respectivos isômeros (compostos com mesma fórmula química, mas com diferenças estruturais e consequentemente possuem diferentes características físico-químicas). Podem ser constituídos por cadeia retilínea (identificados pela letra n precedendo seu nome) ou por cadeia ramificada (sufixo iso precedendo seu nome). Por exemplo, temos o butano (C4H10): n-butano e isobutano (PEDROZO e cols, 2002).
  • Os hidrocarbonetos insaturados não contém átomos de hidrogênio em quantidade suficiente para saturar todos os átomos de carbono. Podem ter sua estrutura em cadeias abertas ou em forma de anel benzênico, sendo estes últimos conhecidos como aromáticos. Os aromáticos possuem então, por um ou mais anel aromático ou benzênico. A estrutura do anel é formada por grupos de seis moléculas de carbono-hidrogênio dispostos de forma hexagonal, unidos por duplas ligações alternadas (PEDROZO e cols, 2002).

Fenol (ácido carbólico) é uma função orgânica caracterizada por uma ou mais hidroxilas ligadas a um anel aromático. 

Os de cadeia aberta com uma ou mais duplas ligações são chamados de alcenos, que são formas insaturadas do seu alcano correspondente, como o buteno (C4H8) em relação ao butano (C4H10). Quando possuem uma dupla ligação (também chamados olefinas) é utilizado o sufixo “eno” para identificá-los, e para os que possuem duas duplas ligações (chamados diolefinas), o sufixo “dieno”, como por exemplo, o butadieno (PEDROZO e cols, 2002) .
  • O petróleo resulta da decomposição, ao longo do tempo, de matéria orgânica - resíduos vegetais e animais marinhos, entre outros. A sua composição química é a combinação de moléculas de carbono e hidrogênio (hidrocarbonetos).O petróleo é um líquido oleoso, inflamável, cuja cor varia segundo a origem, oscilando do negro ao âmbar. É encontrado no subsolo, a profundidades variáveis.
  • São vários os produtos obtidos a partir do petróleo: começando pela gasolina, que serve de combustível para grande parte dos automóveis que circulam no mundo. Para além deste combustível, a parafina, o gás natural, GPL, produtos asfálticos, nafta petroquímica, querosene, solventes, óleos combustíveis, óleos lubrificantes, óleo diesel,combustível para aviação, são exemplos de produtos provenientes do petróleo.
  • Os países que possuem maior número de poços de petróleo estão localizados no Oriente Médio, e, por sua vez, são os maiores exportadores mundiais. Os Estados Unidos da América, Rússia, Irã, Arábia Saudita, Venezuela, Kuwait, Líbia, Iraque, Nigéria e Canadá, Cazaquistão, China e Emirados Árabes Unidos são considerados os maiores produtores mundiais.
Classificação dos principais hidrocarbonetos do petróleo:

Saturados :
  • Parafínicos(alcanos)
  • Normal-parafinas(cadeia retilíneas) 
  • n-pentano
  • Isoparafinas (cadeia ramificada) 
  • Isopentano
Alcanos ou parafinas
  • São hidrocarbonetos alifáticos saturados, isto é, apresentam cadeia aberta com apenas simples ligações.
Naftênicos:
  • Cicloalcanos 
  • Ciclopentano

Cicloalcanos 
Insaturados:
  • Aromáticos 
  • Benzeno
Molécula do benzeno

Então, de uma forma geral, encontramos três principais grupos de hidrocarbonetos no petróleo: parafínicos, naftênicos e aromáticos. (PEDROZO, 2006, VIANNA, 2004, OSHA, 2003, WHO/IPCS, 1982)

  • No tipo parafínico, há um predomínio de moléculas de cadeia saturada parafínica (alifáticos), possuem como fórmula CnH2n+2 e podem ser cadeias retas ou ramificadas. Estas últimas costumam estar presentes em frações mais pesadas e tem maior índice de octana que as parafinas normais (VIANNA, 2004, PETROBRAS, 1992).O tipo naftênico são grupos de anéis saturados de fórmula CnH2n dispostos em forma de anéis fechados (cíclicos), que estão presentes em todas as frações do petróleo, com exceção das mais leves. (VIANNA, 2004, PETROBRAS, 1992).
No tipo aromático, há predomínio do anel insaturado (cíclicos). Os aromáticos mais complexos, os polinucleados, ou seja, que contém mais de dois anéis aromáticos fundidos, costumam ser encontrados em frações mais pesadas do petróleo. (VIANNA, 2004, PETROBRAS, 1992). Sob condições normais de temperatura e pressão, os hidrocarbonetos encontrados no petróleo podem apresentar-se sob as formas gasosa, líquida ou sólida, dependendo do número e disposição dos átomos de carbono nas suas moléculas (PEDROZO e cols, 2002, WHO/IPCS, 1982).

Toxicologia dos principais componentes do petróleo:


  • A via respiratória é a principal via de absorção dos hidrocarbonetos do petróleo, em especial, daqueles com elevada pressão de vapor. A absorção cutânea dos hidrocarbonetos do petróleo, em sua forma líquida, depende da hidratação e espessura da camada córnea, da taxa de perfusão sanguínea da derme, e do comprimento de suas cadeias moleculares (THOMSON MICROMEDEX, 2006, KLAASSEN, 2001, BALLANTYNE & SULLIVAN, 1997, WHO/IPCS, 1982). A absorção de vapores dos hidrocarbonetos do petróleo através da pele é considerada de menor importância (ATSDR, 1999, WHO/IPCS, 1982). Os solventes em geral são bem absorvidos no trato gastrointestinal, embora a absorção seja lentificada pela presença de alimentos (KLAASSEN, 2001).
Os hidrocarbonetos do petróleo são compostos altamente lipofílicos, capazes de atravessar facilmente as membranas biológicas dos organismos vivos, e atingir a corrente sanguínea. Podem ser prontamente distribuídos e armazenados no tecido adiposo devido à sua alta lipossolubilidade. A sua distribuição através dos diversos tecidos do organismo, geralmente depende do tempo de exposição e é proporcional ao conteúdo lipídico dos órgãos (ATSDR, 1999, BALLANTYNE & SULLIVAN, 1997).

  • Como uma das principais características dos hidrocarbonetos do petróleo é a alta lipossolubilidade, estes compostos tendem a permanecer nos compartimentos orgânicos, através dos processos de distribuição e armazenamento, perpetuando assim, seus efeitos tóxicos. A biotransformação ocorre através de reações enzimáticas, principalmente no fígado, podendo também ocorrer em órgãos extra-hepáticos como os rins, sangue, pulmões, cérebro, intestino, supra-renais, placenta, e outros órgãos. Este processo nem sempre corresponde a uma detoxificação propriamente dita, pois muitas dessas substâncias podem ser transformadas em metabólitos altamente reativos (ativação metabólica ou bioativação), passando a ser responsáveis pelos efeitos tóxicos das substâncias originais. A biotransformação dos hidrocarbonetos tem então fundamental importância na eliminação desses compostos do organismo, assim como na modulação dos seus efeitos tóxicos (KLAASSEN, 2001, WHO/IPCS, 1993). Por exemplo, a metabolização do benzeno produz metabólitos que são os responsáveis pela produção da toxicidade hematopoiética e leucemias (KLAASSEN, 2001, WHO/IPCS, 1993).

Molécula de Tolueno
Tolueno:
Toxicocinética:

O tolueno é um hidrocarboneto aromático rapidamente absorvido pelos tratos respiratório e gastrointestinal, e menos extensamente através da pele. Aproximadamente 50% da dose inalada é absorvida. O pico de concentração sanguínea ocorre cerca de 15 a 30 minutos após a inalação, enquanto o pico de concentração sanguínea após ingestão de tolueno ocorre cerca de 1 a 2 horas após (THOMSON MICROMEDEX, 2007).
A distribuição do tolueno é caracterizada pela distribuição preferencial para tecidos ricos em lipídios e altamente vascularizados, como o cérebro, a medula óssea e a gordura corporal (ATSDR, 2002, ATSDR, 2000). O tolueno é depositado no tecido adiposo e no Sistema Nervoso Central (THOMSON MICROMEDEX, 2007).
A metabolização ocorre principalmente no fígado, e é excretado predominantemente na urina como metabólitos e menos extensamente eliminado inalterado pelo ar exalado (ATSDR, 2002, ATSDR, 2000). Aproximadamente 80% do tolueno é metabolizado a benzil álcool o qual é oxidado a ácido benzóico, que é então conjugado com a glicina e excretado pela urina como ácido hipúrico, que pode ser usado como indicador biológico de exposição ao tolueno. Cerca de 20% do tolueno pode ser excretado inalterado pela via respiratória (ar exalado) (THOMSON MICROMEDEX, 2007).

Toxicodinâmica e Quadro Clínico:

O tolueno é um hidrocarboneto aromático irritante de pele e mucosas, que produz narcose. A exposição aguda ao tolueno pode produzir, dependendo da concentração, depressão ou excitação do Sistema Nervoso Central, náuseas, vômito, diarréia, irritação de mucosas, pneumonite química por aspiração, cefaléia, fraqueza, ataxia, dificuldade respiratória, bradicardia, hipotensão, arritmia, confusão mental, vertigem, delírio, convulsão, anestesia, distúrbios hidro-eletrolítico, coma e morte (THOMSON, 2006, OLSON, 1994). Segundo THOMPSOM (2006), sinais de irritação são percebidos quando há uma exposição a níveis de 300 a 400 ppm. A níveis de 800 ppm esta exposição é moderada, com dilatação e diminuição da fotorreação da pupila, e fadiga. Experimentos em animais expostos a 600 ppm de tolueno e 1000 ppm de estireno, 6 horas por dia, por 5 dias demonstraram severo dano na função auditiva. Na inalação aguda são caracterizados efeitos em função dos níveis de exposição (THOMSON, 2006, HEISELMAN, 1998) que são sumarizados abaixo:

Níveis de exposição Efeitos agudos:
  • 100 a 200 ppm cefaléia, irritação leve e transitória do SNC
  • 200 ppm ou mais encefalopatia, cefaléia, depressão, cansaço, diminuição da concentração, perda transitória de memória, e prejuízo no tempo de reação aos estímulos
  • 400 a 800 ppm excitação seguida de depressão do SNC: euforia, tonteira, vertigem, tremores, nervosismo, insônia, cefaléia, fadiga, sonolência, confusão, e prejuízo no tempo de reação aos estímulos
  • 800 ppm ataxia, fadiga, convulsão
  • 10.000 ppm anestesia geral
Os efeitos crônicos do tolueno em geral são descritos em relação ao abuso, em indivíduos “cheiradores de cola”. Também pode ocorrer exposição crônica ocupacional, mas os níveis de exposição são menores. Estão associados a fraqueza muscular, miopatia, hipocalemia, dor abdominal, náuseas, vômito, acidose tubular renal, disfunção hepática e síndrome neuropsiquiátrica. Pode causar hiperreflexia, neuropatia periférica, alteração de personalidade, tremores, labilidade emocional, encefalopatia progressiva, com disfunção cognitiva e perda de memória. Pode ainda ocorrer arritmia e miocardiopatia em “cheiradores” (THOMSON, 2006, OLSON, 1994).
Exposição ocular pode levar a irritação transitória e lesão superficial. Abuso crônico é associado com diminuição da acuidade visual, prejuízo da visão de cores, nistagmo, atrofia óptica e ototoxicidade levando à perda auditiva.
Um estudo mostrou que a síndrome cerebral orgânica (déficit cognitivo, diminuição de memória) foi encontrada em 21% de pintores expostos a níveis de 300 ppm (THOMSON, 2006).

Resumo do quadro clínico da intoxicação por tolueno, por sistema.
Sistema Efeitos Agudos Efeitos crônicos:
  • Cardiovascular Ingestão: taquicardia e hipertensão
  • Inalação: bradicardia, fibrilação ventricular, infarto agudo do miocárdio
  • arritmia, miocardiopatia dilatada
  • Respiratório Inalação: irritação do trato respiratório, broncoespasmo, bronquite, pneumonite por aspiração, edema pulmonar, asfixia Disfunção respiratória, falência respiratória após episódio agudo de abuso
  • Neurológico Ingestão: depressão SNC
  • Inalação: euforia, tremor, nervosismo, insônia, cefaléia, tonteira, fadiga, sonolência, confusão, vertigem, ataxia, convulsão, anestesia.
  • reflexos hiperativos, neuropatia periférica, alteração de personalidade, tremores, cefaléia, labilidade emocional, déficit cognitivo e perda de memória.
  • Gastrointestinal Ingestão e inalação: vômitos, cólica abdominal e diarréia alterações na função hepática
  • Genitourinário acidose tubular renal
  • Dermatológico irritação 
  • Musculoesquelético fraqueza muscular, rabdomiólise, miopatia
  • Psiquiátrico alteração do comportamento, confusão, alucinação, irritabilidade desordens psiquiátricas, alteração do comportamento, psicose, confusão, alucinação, labilidade de humor, depressão
  • Reprodutivo relatos de teratogenicidade em filhos de mulheres que abusam de tolueno durante a gestação, síndrome fetal de tolueno, relato de prematuridade e aborto
Para a exposição crônica, a ACGIH (American Conference of Industrial Hygienists) recomenda como limite para proteção da saúde, para uma exposição de oito horas por dia o valor de 50 ppm (THOMSON, 2006, ABHO, 2003).
A EPA classifica o tolueno no Grupo D (não classificável como carcinogênico humano) baseado na ausência de dados em humanos e inadequados dados em animais (THOMSON, 2006, OLSON, 1994).

Diagnóstico:

O diagnóstico se baseia na história de exposição e nas manifestações típicas dos efeitos no sistema nervoso central. Pneumonia por aspiração pode ser suspeitada quando o paciente apresenta tosse, taquipnéia e sibilos e será diagnosticada pela telerradiografia de tórax. Os exames laboratoriais a serem solicitados são: dosagem de ácido hipúrico na urina, enzimas musculares, provas de função hepática e renal (THOMSON, 2006, OLSON, 1994).

Tratamento:
  • A abordagem inicial do paciente intoxicado com tolueno consiste nas seguintes etapas (THOMSON, 2006, OLSON, 1994):
  • Assistência respiratória, se necessário;
  • Administração de oxigênio, se necessário;
  • Tratar coma, arritmias e broncoespasmo;
  • Se o paciente apresentar dispneia, avaliar pneumonia química;
  • Monitorização;
  • Descontaminação da pele: remover a vítima da exposição, remover roupas contaminadas, lavar a área contaminada com água e sabão;
  • Descontaminação ocular: lavar copiosamente com soro fisiológico ou água.
  • Ingestão: NÃO INDUZIR VÔMITO, pelo risco de broncoaspiração;
  • Correção dos distúrbios hidreletrolíticos;
  • Tratamento sintomático e suporte.
O carvão ativado pode ser avaliado somente em caso de ingestão recente de grande quantidade de tolueno. Antes deve-se fazer a entubação orotraqueal, para prevenir broncoaspiração.
A aspiração do conteúdo gástrico pode ser avaliada quando:
  • ingestão maciça de tolueno;
  • ingestão de produto contendo grande quantidade de benzeno.
Deve-se pesar o risco do procedimento em função da composição, quantidade e potencial toxicidade do produto ingerido.
Aminas simpaticomiméticas podem provocar ou agravar arritmias cardíacas. Taquiarritmias podem ser tratadas com propranolol.
  • Não há antídoto específico.

Molécula de Benzeno
Benzeno:

  • O benzeno é onipresente no ambiente. A maior parte da população geral está exposta na atmosfera urbana e industrial ao benzeno através de uma variedade de fontes. A maior parte das fontes são devido a queima de combustíveis, emissões industriais e o hábito de fumar (fumo ativo e passivo) (KALABOKAS e cols, 2001, WHO/IPCS, 1993).
A toxicidade ocupacional pelo benzeno tem sido descrita na literatura médica desde o final do século XIX. Inúmeros trabalhos científicos têm sido publicados desde então, correlacionando diversas repercussões orgânicas, sobretudo hematológicas, com a exposição ocupacional ao benzeno (Ministério da Saúde, 2004, WHO/IPCS, 1993). Pela importância do tema, o Ministério da Saúde publicou em 2004 a Norma de Vigilância da Saúde dos Trabalhadores Expostos ao Benzeno, na Portaria 776.
  • Um estudo concluiu que a exposição a 1 ppm por 40 anos não mostrou aumento significativo da ocorrência de leucemia. Contudo, como o benzeno é carcinogênico, a OMS recomenda que a exposição deve ser limitada ao menor nível de exposição tecnicamente possível. Um estudo em trabalhadores de uma refinaria do Texas que apresentava nives baixos de exposição variando de 0,5 por 1 a 20 anos não mostrou alterações hematológica nos trabalhadores (THOMSON, 2006).
No Brasil, a NR-15 (Norma Regulamentadora No 15 do Ministério do Trabalho e Emprego) institui, no Anexo 13A, o Valor de Referência Tecnológico – VRT, que se refere à concentração de benzeno no ar do ambiente ocupacional, considerada exequível do ponto de vista técnico, definido em processo de negociação tripartite. O VRT deve ser considerado como referência para os programas de melhoria continua das condições dos ambientes de trabalho. O cumprimento do VRT é obrigatório e não exclui risco à saúde.
  • O princípio da melhoria contínua parte do reconhecimento de que o benzeno é uma substância comprovadamente carcinogênica, para a qual não existe limite seguro de exposição. Todos os esforços devem ser dispendidos continuamente no sentido de buscar a tecnologia mais adequada para evitar a exposição do trabalhador ao benzeno.
Toxicocinética:

O benzeno é rápida, mas incompletamente absorvido por humanos e animais em exposição por via respiratória. Estudos demonstram que a média de absorção respiratória em humanos é de aproximadamente 50%. Com relação à absorção oral não existem dados em humanos, mas estudos em animais demonstram que é extensivamente absorvido por esta via, cerca de 90%. A absorção dérmica do benzeno é baixa em humanos e animais. Estudos em animais demonstram absorção de menos de 1% por esta via (WHO/IPCS, 1993, ATSDR, 1997, ATSDR, 2002). A metabolização principal do benzeno ocorre no fígado. A biotransformação do benzeno é fundamental para o desenvolvimento de sua toxicidade sobre a medula óssea, relacionada aos seus metabólitos. Os seus metabólitos são eliminados predominantemente na urina, enquanto o benzeno inalterado é eliminado no ar exalado (WHO/IPCS, 1993, ATSDR, 1997, ATSDR, 2002). A excreção do benzeno não metabolizado, após exposição única, ocorre em três fases distintas: a primeira fase corresponde a eliminação do solvente presente nos pulmões e no sangue (meia-vida de 90 minutos), a segunda representando a eliminação do benzeno nos tecidos moles e ocorrendo de 3 a 7 horas após a exposição e a terceira, com meia-vida de 25 horas, correspondendo ao solvente depositado no tecido adiposo. Cerca de 3,8 a 27,8% do benzeno absorvido pode ser excretado através do ar exalado (MARTINS & SIQUEIRA, 2002).

Toxicodinâmica e Quadro Clínico:
A seguir, será descrito rapidamente aspectos da toxicologia do benzeno.
Principais efeitos agudos pela exposição ao benzeno:
  • O benzenismo é definido como um conjunto de sinais , sintomas e complicações , decorrentes da exposição aguda ou crônica ao hidrocarboneto aromático, benzeno (Ministério da Saúde, 2004).
  • O benzeno é um irritante moderado das mucosas e sua aspiração em altas concentrações pode provocar edema pulmonar. Os vapores são, também, irritantes para as mucosas oculares e respiratórias (THOMSON, 2006, Ministério da Saúde, 2004).
  • A absorção do benzeno provoca efeitos tóxicos para o Sistema Nervoso Central causando, de acordo com a quantidade absorvida, narcose e excitação, sonolência, tonturas, cefaléia, náuseas, vômitos, taquicardia, arritmias, dificuldade respiratória, tremores, convulsões, perda da consciência e morte (THOMSON, 2006, Ministério da Saúde, 2004).
Principais agravos à saúde pela exposição crônica ao benzeno
  • Vários tipos de alterações sanguíneas, isoladas ou associadas, estão relacionadas à exposição ao benzeno. Devidas à lesão do tecido da medula óssea, essas alterações correspondem, sobretudo a Hipoplasia, Displasia e Aplasia (Ministério da Saúde, 2004)
A hipoplasia da medula óssea pode ocasionar, no sangue periférico, citopenia(s). A leucopenia com neutropenia corresponde à principal repercussão hematológica da hipoplasia secundária ao benzeno e, em menor freqüência, a plaquetopenia isolada ou associada à neutropenia. Pode ocorrer aplasia da medula óssea, que corresponde à depressão de todas as linhagens hematológicas se expressa no sangue periférico através de pancitopenia (leucopenia, plaquetopenia e anemia) (THOMSON, 2006, Ministério da Saúde, 2004, WHO/IPCS, 1993).
  • O caráter leucemogênico do benzeno é amplamente reconhecido. As transformações leucêmicas, precedidas ou não por alterações mielodisplásicas, são objeto de diversas publicações, sendo a Leucemia Mielóide Aguda, a mais freqüente. Outras variantes são também descritas. Além de leucemogênica, a toxicidade por benzeno está também relacionada ao surgimento de outras formas de doenças onco-hematológicas, como Linfoma não-Hodgkin, Mieloma Múltiplo e Mielofibrose, embora em menor freqüência (THOMSON, 2006, Ministério da Saúde, 2004, WHO/IPCS, 1993).
São descritas alterações neuro-psicológicas e neurológicas como: atenção, percepção, déficit de memória, habilidade motora, viso-espacial, viso-construtiva, função executiva, raciocínio lógico, linguagem, apredizagem e humor. Além dessas disfunções cognitivas, surgem outras alterações como: astenia, cefaléia, depressões, insônia, agitação e alterações de comportamento. São também descritos quadros de polineuropatias periféricas e mielites transversas (Ministério da Saúde, 2004).
  • Foram observadas alterações cromossômicas numéricas e estruturais em linfócitos e células da medula óssea de trabalhadores expostos ao benzeno (Ministério da Saúde, 2004). Os efeitos imunológicos observados em animais são relacionados aos efeitos na medula óssea, resultando em alterações na imunidade humoral e celular (WHO/IPCS, 1993). Podem ocorrer alterações dermatológicas tais como eritema e dermatite irritativa de contato por exposições ocupacionais repetidas e prolongadas ao benzeno (Ministério da Saúde, 2004)
Resumo do quadro clínico da intoxicação por benzeno, por sistema.
  • Sistema Efeitos
  • Cardiovascular 
  • Respiratório 
  • Neurológico 
  • Gastrointestinal 
  • Genitourinário 
  • Hematológico 
  • Dermatológico 
  • Musculoesquelético 
  • Endócrino 
  • Psiquiátrico 
  • Reprodutivo 
Rosário Linfático:

São manchas esbranquiçadas, pequenas, semelhantes a contas de um rosário, enfileiradas, formando halos ou arcos no interior da íris. Surgem, geralmente, na 6ª camada e indicam dificuldade na circulação linfática, estagnação de congestão de órgãos e tecidos linfóides (amígdalas, gânglios, apêndices, baço etc, ou seja, os órgãos atingidos pelo acúmulo de catarro decorrente de reações alérgicas intensas, não necessariamente aparentes) Esta lesão esta relacionada intoxicação com solventes orgânicos como Tiner, tintas automotiva, inseticida, cera, combustível.

Envenenamentos podem ocorrer de diversas formas (ingestão, inalação ou absorção pela pele), e causar, conforme o agente tóxico, sintomas extremamente graves.